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Ficha completa do filme

Drama, Ficção Científica

A. I. - Inteligência Artificial (2001)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 4
A. I. - Inteligência Artificial

Todo mundo sabe da história. Quando Stanley Kubrick morreu inesperadamente, seu amigo Steven Spielberg assumiu este projeto conforme Kubrick havia lhe sugerido. Usou o roteiro dele, mas lhe acrescentou certos toques pessoais. Vendido como fita juvenil de efeitos, o filme causou polêmicas e fez menos sucesso do que o esperado.

Com certeza este não é um filme para crianças, nem uma diversão leve e passageira. É mais uma fita de Kubrick, ou no espírito dele, do que de Spielberg. A comparação mais próxima é com "O Homem Bicentenário", com Robin Williams, que falava também da Robótica e de um tema semelhante, o amor dos robôs e em particular de um deles que deseja ser humano.

Esse seria o tema do filme, um menino robô (Haley, que consegue estar com a mesma cara de "O Sexto Sentido" mas igualmente bom ator, num registro diferente, diria mesmo que é a melhor coisa do filme). Um garoto criado para amar para sempre os seus pais. Só há um problema. Uma vez acionado o sistema, não tem retorno, o amor do menino será para sempre, sem limites, total.

E esse na verdade é o tema da fita, a incapacidade do ser humano de amar total e completamente, para sempre e sem restrições. Seguindo as linhas gerais do roteiro, inclusive na parte técnica o filme ficou com "cara" de fita de Kubrick, ou seja, o estilo de fotografia, de direção de arte, de movimentação de câmera.

Por isso mesmo que resultou uma fita esquizofrênica, com dupla personalidade, um cineasta cerebral, frio, analítico, com uma visão pessimista do mundo e da condição humana (Kubrick obviamente) e outro romântico, infantilizado, mal resolvido, com uma visão de mundo otimista e americana, de que tudo é entretenimento e espetáculo.

A "desintonia" é tão evidente porque o filme parece acabar num determinado momento (e aí seria muito bom) mas ainda assim tem outros dez minutos que, além de serem confusos, são extremamente desnecessários. Essas falhas ficam claras também porque o filme trata de duas formas de amor, que são as mais importantes, o amor filial (mãe e filho e vice-versa) e o amor sexual, simbolizado na figura de Gigolô Joe (um muito bem maquiado e super eficiente Jude Law).

Agora ele criou justamente o robô que nasceu para dar prazer (a ponto de dizer que aquela que transar com ele nunca mais vai desejar um homem de verdade, mesmo porque a cliente parece agredida por um amante anterior). Ele não só deixa de lado o fato de que esse Gigolô Robô poderia servir também para homens (Deus nos livre tocar nisso numa fita de Spielberg), como também dá a figura uma característica de Fred Astaire (até se ouve a canção dele acionada pelo robô).

Ou seja, não há nada menos sensual que Astaire, que não era homem, não era mulher, não era gay, era desenho animado. Totalmente assexuado. Mas foi uma forma segura de mexer no assunto com que ele, Spielberg não se sente à vontade. Ele perdeu uma grande oportunidade de mexer num tema fascinante, será que o sexo no futuro será feito por máquinas melhor do que a gente? Ou temos muito a aprender com elas?

E isso não é um retrato um pouco patético de nossa fragilidade humana? Com medo de aborrecer o espectador, Spielberg inventa cenas de ação, helicópteros, parque de diversões, acentuando de uma forma exagerada o paralelo da história com a de Pinóquio. Tem tudo lá: a ilha dos Prazeres, o grilo Falante (que é feito pelo Ursinho fofinho Teddy, outra forma de conquistar e "amaciar" a platéia) e principalmente a Fada azul, que seria aúnica capaz de transformar o robô em menino de verdade.

Se a fita tivesse terminado no primeiro final, seria uma conclusão bem de acordo com a realidade, já que todos ficamos realmente rezando por milagres, inutilmente para fadas ou santos. O mais grave para mim no novo final é o fato de que minha primeira impressão foi de que eram Ets, já que o visual deles lembra por demais os de "Contatos Imediatos" (de Spielberg) e os filmes que o seguiram. Custei a perceber e não há dúvida alguma de que - atenção vou revelar detalhes que podem estragar sua apreciação da fita antes de vê-la, portanto pule essa parte agora - eles são na verdade robôs extremamente evoluídos e que no final das contas, como previu Gigolô Joe, acabaram substituindo a raça humana.

Mas é confuso, pretende ser comovente e se torna manipuladora. Se Kubrick tivesse tido tempo de completar o projeto seria sem dúvida uma fita muito melhor e extremamente séria e provocadora. O que restou tem seu interesse mas também comprova de vez que Spielberg não sabe fazer filme de gente grande (a não ser que seja com temas judeus). Detalhe: Segundo ele afirma, todo o final como está na fita já estava no roteiro original de Kubrick, e até se divertiu com as pessoas criticando o fim do filme.

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