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Ficha completa do filme

Comédia

Ensina-me a Viver (1971)

Edilson Saçashima

Edilson Saçashima

Do UOL Notícias 14/05/2010
Nota: 3
Ensina-me a Viver

O casal menos improvável da história do cinema é o protagonista de ''Ensina-me a Viver'', filme de 1971 que ainda mantém a força questionadora dos costumes nos dias atuais.

O filme, que ganha versão em DVD pela Paramount, promove a união entre Harold (Bud Cort) e Maude (Ruth Gordon). Harold é um adolescente introvertido e que tem tendências suicidas ou, pelo menos, tem como principal passatempo simular a sua própria morte. Maude, por sua vez, é uma mulher vivaz à beira de completar 80 anos que tem como hábito roubar automóveis por diversão e que empreende uma aventura para salvar uma árvore.

A morbidez de um personagem jovem é construída para ser complementar à vivacidade de uma mulher velha. Assim, a relação afetiva que se estabelece entre Harold e Maude ganha uma certa plausibilidade que atraiu espectadores aos cinemas. A crítica americana Pauline Kael cita a história de um jovem que teria visto ''Ensina-me a Viver'' 138 vezes em 1974.

A estratégia para conseguir esse efeito foi ''desnaturalizar'' o nosso olhar. É assim que pode ser visto as seqüências em que Harold simula sua morte na primeira metade do filme de Hal Ashby (''Amargo Regresso'').

O filme vai retirando toda a carga dramática e trágica de uma situação de morte para torná-la um evento banal. E ao fazer isso, a morte se torna cômica. Os suicídios simulados de Harold vão perdendo seu impacto e se tornando pouco mais que meras situações engraçadas.

''Ensina-me a Viver'' transforma a morte em uma celebração da vida com humor negro. A morte perde o seu terrível valor moral para se tornar pouco mais que uma casualidade. Processo semelhante acontece com o romance entre Harold e Maude.

A formação do inusitado casal também é um golpe em nossas esperanças por ter uma perspectiva pessimista. E é aqui que reside o humor negro da trama. Vale notar que o espírito libertário ganha o corpo de uma personagem envelhecida, o que reforça a impressão de inevitabilidade da morte. Além disso, o jovem é retratado como uma pessoa desinteressada e apática e que tem fixação pela sua própria morte.

Para Kael, ''Ensina-me a Viver'' tem uma mensagem com tom de ''aberração'' por unir a ''flácida assexualidade de Harold'' com a ''piração de Maude''. Pode-se ir mais longe. Para Ashby, os desvairados anos da contracultura teriam sidos uma aberração.

Visto sob perspectiva histórica, o filme sugere o fim do espírito de contracultura e de ideais comuns da época como o amor livre. ''Ensina-me a Viver'' capta o anoitecer do ambiente libertário dos anos 60 na história de um amor impossível que se torna realidade mas que é condenado pela passagem do tempo. É como se a década de 60 tivesse sido um longo ''carpe diem'' que agora chegava ao fim.

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