UOL Entretenimento Cinema

Ficha completa do filme

Ficção Científica

Minority Report - A Nova Lei (2002)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 0
Minority Report - A Nova Lei

Primeiro encontro de Spielberg com o superstar (e amigo pessoal dele) Tom Cruise. Uma história de ficção científica inspirada em conto de Philip Dick, o mesmo autor de "Blade Runner". Ou seja, não é para crianças, mas uma história que tem algo a dizer sobre o futuro, a lei, a ordem e a interferência do Estado no direito de escolha do indivíduo.

Não é bem uma fita de férias, é um projeto com pretensões (tem mesmo um tom dark, pessimista, o que explica porque não foi um estouro de bilheteria) e que não poderia simplesmente ser uma orgia de efeitos especiais. Para complicar, o título é estranho mesmo em inglês ("Minority Report", traduzido nas legendas apenas como relatório, sem qualquer menção de minorias). Portanto, é um filme que exige certa atenção; é preciso seguir um raciocínio, entender a lógica e penetrar em seus meandros.

Dentro dos tempos que correm, ouso dizer até que é inteligente. Spielberg continua um excepcional diretor e "Minority Report" foi certamente o melhor filme do gênero no ano. Não despreguei o olho da tela um momento (minto, há uma falha na parte final, quando está tudo resolvido, não havia necessidade dos três finais posteriores, já estava tudo mais do que explicado). Houve dois ou três grandes momentos de tensão (a seqüência das aranhas-robôs é esplêndida), um elenco afinadíssimo e saímos com a sensação de termos visto uma grande diversão com alguma coisa a dizer. Lembram-se quando havia filmes assim? Pois é, ainda é possível ver vida inteligente na tela.

Como seu amigo e parceiro George Lucas, Spielberg parece apaixonado pela tecnologia moderna, de tal forma que o filme parece um compêndio de tudo que há de mais novo (State of the Art) do gênero. É impressionante o uso de efeitos (em geral, na pós-produção), que dão vida ao mundo do futuro (uns poucos são visivelmente digitais, como a fuga na estrada com os carros modernos, mas não incomodam, porque estão dentro de um contexto já todo estilizado).

Essa co-produção entre Fox e Dreamworks não é para crianças nem será entendida por qualquer desocupado. "Se há uma falha, ela é humana" poderia ser a mensagem básica. Há outro elemento fundamental na fita, que é muito bem-vindo, o humor. O filme tem piadinhas divertidas, referências engraçadas e nunca perde esse pique (sem exagerar em frases pseudo espertas, como sucede nos "Exterminadores" da vida).

Tom Cruise está menos sorridente e egocêntrico do que nos últimos filmes. Há algumas curiosidades no elenco, como um marido ciumento e quem faz o papel é Arye Gross, que foi um comediante de certo sucesso nos anos 80. No casting da fita, Spielberg se deu ao luxo de certas ousadias, usando principalmente atores suecos para papéis-chave, como o grande Max Von Sydow, que faz o chefão da empresa e o também Bergmaniano Peter Stormare, como o médico que faz a operação das vistas.

Outras figuras curiosas do elenco de apoio são Tim Blake Nelson, revelado pelos irmãos Coen em "E aí, meu Irmão, Cadê você?" (ele faz o carcereiro da prisão), a veterana Lois Smith (que esteve em "Juventude Transviada", com James Dean, que faz a médium pioneira Dr. Íris) e Jessica Capshaw, enteada de Spielberg, que faz o papel de Evanna.

De qualquer forma, aos poucos ficamos sabendo que o projeto de prevenção de crimes está sendo submetido a uma investigação, porque poderá ser estendido para todo o país. Surge, então, o que parece ser o vilão da história, Danny Witwer (feito por Colin Farrell, de "Demolidor", "Por um Fio", e o ator da moda no momento nos EUA), que questiona os métodos e resultados.

Supõe-se que ele esteja incriminando Anderton quando surge uma visão de um crime que seria cometido justamente por ele. E, de repente, com 40 minutos de filme, ele se vê obrigado a fugir, sem poder contestar os fatos e sem ter como se defender. É que há um outro tema importante: Anderton ainda está traumatizado pelo desaparecimento do filho pequeno, parcialmente por sua culpa. Por isso, se divorciou (a mulher é um ponto fraco, uma certa Kathryn Morris, que esteve em "A.I." também) e se viciou em drogas.

Aos poucos, o quebra-cabeça vai se montando, levando o herói a seqüestrar a líder dos Pré-Cog, Agatha. Embora a trama não pareça assim tão nova, é sempre intensa e emocionante, muito ajudada pela excelente presença da inglesa Samantha Morton como a pitonisa (ela acerta em tudo e merecia ao menos uma indicação ao Oscar de Coadjuvante). E não pensem que desta vez Spielberg vai encontrar soluções babacas e sentimentalóides; deixa até algumas coisas no ar. Como na vida real.

Não gosto de Farrell, o ator irlandês que foi descoberto por Kevin Spacey e depois engatou filme após filme. Tem certo charme, mas parece estar num tom diferente dos outros atores (até porque quem dá o tom do filme é Von Sydow e ele não tem nada a ver com o mestre).

Jan de Bont aparece como co-produtor porque o conto foi primeiro adaptado por Jon Cohen para um projeto que era inicialmente dele. Depois Spielberg contratou Scott Frank ("Irresistível Paixão"/"Out of Sight") para reescrevê-lo. Com alguma violência (mas aceitável dentro do contexto), muita ação e muitos efeitos, "Minority Report" é uma bem-vinda reabilitação de Spielberg. Fiquei tão impressionado que saí do cinema com vontade de assisti-lo de novo. Fazia tempo que isso não acontecia.

Boa edição em dois DVDs, não traz, curiosamente, comentários, mas no Disco 2 há muitos making ofs: Da História às Telas ("A história e o Debate"; "Os Participantes"), Descontruindo Minority ("Introdução ao Mundo de Minority", "A Divisão Pré-Crime e os Mutantes", "A Seqüência de Spyder", "Eslabones e Visions", "Veículos de Futuro"), As Façanhas dos Dublês ("A Fuga de Mag-Lev", "A Caçada com Mover Mochilas", "A Fábrica de Carros"), ILM (Introdução, Hologramas, A Prisão, Mag-Lev, Hovercrafts, A Sala Cibernética) e Minority, Relatório Final, Spielberg e Cruise, o chamado Arquivo (que contém Conceitos da Produção, Cenas no Storyboard, Trailers de cinema e do vídeo-game, biofilmografias, equipe de produção e notas de produção, tudo em português). Embora a capinha não mencione, também saiu áudio em DTS.

Compartilhe:

    Siga UOL Cinema

    Sites e Revistas

    Arquivo