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Ficha completa do filme

Aventura, Fantasia

O Último Mestre do Ar (2010)

Sérgio Alpendre

Sérgio Alpendre

Colaboração para o UOL 25/02/2011
Nota: 3

M. Night Shyamalan vem desafiando as noções de cinema de autor desde que despontou com seu primeiro grande sucesso, "O Sexto Sentido", de 1999.

Há quem diga que é o maior gênio do cinema desde Hitchcock. Por outro lado, há quem diga que é uma fraude (talvez a maioria). Seus filmes são geralmente malhados pela maior parte da crítica dos Estados Unidos, adorados em um certo setor da cinefilia francesa, e malhados e adorados mais ou menos com medidas equivalentes no resto do mundo, incluindo o Brasil.

"O Último Mestre do Ar", por suas características, tinha tudo para ser, entre todos os filmes de sua carreira, o que mais agradasse a gregos e troianos. Primeiramente, é uma fantasia. Traz a luta entre nações dominadas pelos quatro elementos, Água, Terra, Fogo e Ar. É bem dirigido, mas não tem suas costumeiras loucuras, aquelas que afastam o grande público. O que acontece, então, que tal diretor permanece despertando amor e ódio intensos?

Talvez a pergunta tenha uma resposta simples: os fãs de "Harry Porter", "O Senhor dos Anéis" e outras fábulas cinematográficas amaram. Viram no duelo entre as nações uma metáfora perfeita para os conflitos que afligem o ser humano, seja de que lado do mundo estiver. Ou não viram nada, mas embarcaram na aventura e no trabalho dos jovens atores, e também na história muito bem costurada pelo roteiro do próprio Shyamalan.

Já os fãs do diretor se decepcionaram com esse filme aparentemente cheio de concessões ao grande público, como se Shyamalan devesse permanecer maldito perante uma boa parte do público pagante no mercado que interessa a quem coloca dinheiro em sua mão, o norte americano.

Vamos à história, para ver se essa resposta simples pode ser confirmada.

O mundo se desequilibra quando uma das nações ameaça outra. No caso, a nação do elemento fogo quer dominar as outras nações, sobrepujando-as à sua força. Somente o Avatar, aquele que consegue dominar os quatro elementos, é capaz de manter o mundo em equilíbrio, derrotando os líderes da Nação do Fogo.

A história já aparece resumida nos letreiros iniciais, cabendo ao espectador acompanhar como surgirá esse Avatar, com quem ele aprenderá a dominar os quatro elementos, e com a ajuda de quem ele lutará pelo equilíbrio do mundo.

Sendo assim didático, Shyamalan elimina de cara uma das principais características de seu cinema: a exploração da imprevisibilidade e do mistério. Com essa exploração, vimos que ele é capaz de coisas incríveis, principalmente em seus três melhores filmes, "Corpo Fechado" (2000), "A Vila" (2004) e "Fim dos Tempos" (2008).

Vale aqui uma pequena e divertida digressão: Shyamalan lançou seus melhores trabalhos de quatro em quatro anos, justamente os anos de Olimpíada. Podemos esperar algo grandioso, então, em 2012?

Em "O Último Mestre do Ar" é evidente que o didatismo e a previsibilidade podem desagradar parte do público fiel ao diretor, justamente os que o comparam a Hitchcock. Estes esquecem que o mestre do suspense trabalhava com um alto nível de previsibilidade em algumas de suas obras, preferindo o "como" ao "o quê" ou ao "quem".

Shyamalan, obviamente, está muito longe de ser um novo Hitchcock, mesmo porque tem estilo bem diferente. Logo, a comparação lhe é injusta, como seria a 99% dos cineastas contemporâneos.

Esta fábula sobre o conflito entre as quatro nações tem um quê de infantil, mas não subestima o público adulto. Utiliza muito bem os efeitos especiais e tem um trabalho com o espaço - enquadrado no formato cinemascope - que é bem digno. Não é um filmão, mas vale ser visto. E a resposta simples pode, afinal, ser confirmada.

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