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Ficha completa do filme

Comédia, Drama

Redentor (2004)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 4

O maior elogio que se pode fazer a "Redentor" é que não se parece com coisa nenhuma. Não tem precedente ou similar. Por isso revela um "autor", um cineasta brasileiro de personalidade e estilo próprios, o que há muito tempo não sucedia.

É verdade que o diretor Cláudio Torres já tinha demonstrado talento e originalidade em seu episódio do filme "Traição" (98). E não há dúvida que descende de boa estirpe, que, aliás, está toda no filme: a mãe Fernanda Montenegro e o pai Fernando Torres como atores, a irmã Fernanda Torres como co-roteirista e em ponta como atriz. Quem sai aos seus...

Por outro lado, há alguns problemas. O maior deles é que o filme precisa de tempo para ser descoberto. O segundo os próprios produtores (Globo Filmes e a ilustre Conspiração Filmes) perceberam: é um filme difícil de classificar como gênero. Infelizmente o público, hoje em dia e mais do que nunca, raciocina em bloco e precisa de balizas. Enfim, emburreceu.

"Redentor" é inteligente e pessoal, mas não especialmente fácil de resumir. Começa como uma comédia de costumes; o diretor utiliza atores ligados à comédia em papéis que vão se tornando cada vez mais dramáticos, por vezes trágicos, aproveitando a naturalidade e mesmo o humor que eles trazem aos personagens.

Como em "Crepúsculo dos Deuses", o herói, o jornalista Célio Rocha (Pedro Cardoso), já está morto quando o filme começa e passa a relatar sua história. Portanto tudo é possível, o filme perde qualquer obrigação de ser realista. E, de fato, cada vez mais vai se tornando um delírio, uma fantasia.

Acontece que Célio foi colega de infância de um hoje corrupto construtor de imóveis, Otávio Sabóia (Miguel Fallabella), que ainda não finalizou um prédio de apartamentos, localizado perto de uma grande favela. E no qual o pai de Célio comprou uma unidade, tentando realizar o sonho bem brasileiro de casa própria.

Agora esse prédio foi invadido pelos favelados enquanto Sabóia ameaça se matar e convoca o antigo amigo para ajudá-lo numa série de complicadas negociatas, como uma reportagem com uma bela moradora do local, posando na cobertura do prédio (a sempre bela Camila Pitanga, aliás para tirarmos isso logo do caminho todo o elenco está ótimo).

A situação vai se complicando, Célio vai é preso, mas a presença constante é a figura do Redentor, ou seja, o Cristo que zela pelo Rio de Janeiro e seus habitantes. E mais não dá para resumir.

Misturando implacável sátira a momentos de farsa, tragédia e melodrama, o filme vai em espiral sem tropeços. Já disseram que é do tipo "ame-o ou deixe-o". Talvez nem tanto, simplesmente porque mesmo os que não embarcarem na história certamente ficarão impressionados com a excelente produção.

Tudo é impecável, em particular a finalização, o uso de efeitos digitais. Não há a menor dúvida da qualidade do cinema brasileiro atualmente. Mas pode se criar uma sensação de estranheza, de caos criativo, que pode provocar uma certa rejeição. Saí do cinema na certeza de ter assistido uma fita no mínimo interessante, possivelmente brilhante. E de ter testemunhado a revelação de um jovem grande cineasta.

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