Drama

Tetro (2009)

Sérgio Alpendre

Colaboração para o UOL 17/06/2011

Nota: 4

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"Tetro" é o retorno de Coppola à posição de grande diretor de cinema que havia deixado em algum momento dos anos 1980. "Velha Juventude" (2007), o primeiro filme após o longo hiato de dez anos que se seguiu ao relativamente fracassado "O Homem que Fazia Chover" (1997), é apenas um aquecimento para "Tetro", pois é este último que dialoga com a filmografia do diretor sem passar vexame.

A questão essencial de "Tetro" está em uma das últimas falas do personagem título, vivido por Vincent Gallo, a seu irmão Bennie (Alden Ehrenreich): "não olhe para a luz". Referia-se à luz dos carros, que iam de encontro ao irmão numa avenida movimentada. Mas na realidade parece dizer: "não busque o sucesso, não procure a face brilhante, glamurosa das coisas, procure a essência".

O poder e o sucesso corrompem, ele sabe disso. O que tenta fazer é alertar o irmão para esse perigo difícil de ser contornado. Isto após um evento cultural dedicado à bajulação e a tudo que circunda a arte, sem penetrá-la.

O problema desse personagem desiludido que prefere o nome Tetro a seu nome de família, é que os queridos (o irmão e a namorada) agem, sem querer, contra ele. Querem desenterrar um passado do qual ele tenta escapar. É como dizia a sábia frase: "as pessoas não sabem o mal que nos fazem com o bem que nos querem fazer". Seu passado é trágico, e vai se revelando aos poucos no filme. Diz respeito à sua relação com o pai, e a outras coisas que não podem ser adiantadas aqui.

O que dá para adiantar é que há muito tempo a direção de Coppola não era tão inspirada. O tom é quase sempre certeiro, escorregando um pouco apenas no final, durante um festival teatral. Nada, porém, que prejudique muito o filme.

A sucessão das cenas foi pensada para alternar nossa percepção do personagem principal, conferindo à sua construção uma profundidade que não é alcançada facilmente por diretores contemporâneos. É preciso um veterano, do alto da sabedoria dos anos vividos (e dos erros cometidos, o que é igualmente importante), para dar conta da complexidade de tal personagem. É preciso, também, um ator do calibre de Vincent Gallo.

Talvez o filme de Coppola com o qual "Tetro" mais se relacione seja "O Selvagem da Motocicleta" (1983). Os dois são movidos por uma câmera que busca a beleza para criticá-la, que focaliza os heróis para buscar as sombras humanas de suas personalidades. Gallo, como Mickey Rourke no filme antigo, é um modelo para o mais jovem, um herói.

Mas não quer ser modelo, tampouco herói. Quer apenas viver e apagar de vez o passado. Parece saber que para conseguir esse apagamento precisa primeiro do enfrentamento, mas age como se não soubesse. É prisioneiro de um ímpeto que o cega e permite que outros o machuquem, mesmo sem querer. Um autêntico personagem trágico.