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Ficha completa do filme

Drama

Touro Indomável (1980)

Rubens Ewald Filho

Rubens Ewald Filho

Especial para o UOL Cinema
Nota: 5
Touro Indomável

"Touro Indomável" foi indicado para oito Oscar, mas ganhou apenas o de melhor ator (Robert De Niro) e o de edição. O filme, para muitos a obra-prima de Martin Scorsese, foi eleito o melhor filme da década pelos críticos norte-americanos e é considerado o melhor filme de boxe já realizado até hoje.

Scorsese interrompeu as filmagens durante quatro meses para De Niro engordar quase 30 kg, uma mudança corporal então inédita no cinema, semelhante ao emagrecimento de Tom Hanks em "O Náufrago", 20 anos depois.

Aos 19 anos e então modelo, a atriz Cathy Moriarty estreou nesse filme, descoberta pelo ator Joe Pesci, que na época não fazia sucesso e dirigia um restaurante no Bronx (na filmagem de "Touro Indomável", ele teve duas costelas machucadas nas cenas de luta).

Foi ousado criar um protagonista tão desagradável e chauvinista quanto Jake La Motta, campeão de peso-médios nos anos 40 e 50. Ele é péssimo marido, mau caráter, trai o irmão e aliena todas as pessoas próximas. No ringue, luta como um touro enfurecido; sua decadência é tão drástica quanto merecida. O filme já começa com ele como apresentador de um night-club em 1964, para depois retratar sua ascensão, mas nunca chega a ser uma biografia convencional.

O roteiro de Paul Schrader ("Taxi Driver") tem o hábito de se fixar apenas em episódios violentos. Deixa no ar as motivações e justificativas dos personagens, tanto as de Jake quanto as de seus comparsas. Mas, como narrativa, a idéia mais interessante são os filmes caseiros propositalmente riscados (a única parte colorida do longa). Como filme de boxe, houve já muitos que denunciaram a ação de gângsteres (como "Trágica Farsa", inspirado na vida do lutador Primo Carnera, e "Marcado pela Sarjeta", sobre Rocky Graziano), mas "Touro Indomável" é certamente o mais bem filmado de todos.

As seqüências de lutas de boxe nunca são menos do que empolgantes. O branco e o preto têm um efeito extraordinário numa montagem rápida, envolvente e espetacularmente fotografados, especialmente na luta final com Sugar Ray Robinson. Só essas cenas já justificariam o filme.

Talvez se possa fazer uma leitura do personagem de La Motta nas suas repressões católicas da sexualidade, que acabam se desenvolvendo numa forma de sadomasoquismo e autodestruição. Mesmo assim, isso ficou mais na cabeça dos realizadores do que na tela.

O filme basicamente é um retrato de um sujeito repulsivo com quem o público não consegue se identificar. Ao contrário, o espectador observa com distância crítica o personagem de De Niro, cuja interpretação antológica e as magníficas cenas de luta até hoje ainda não foram suplantadas.

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