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Ficha completa do filme

Drama

Um Lugar Qualquer (2010)

Sérgio Alpendre

Sérgio Alpendre

Colaboração para o UOL 17/06/2011
Nota: 2

Não se pode acertar sempre. Em "Um Lugar Qualquer", seu quarto longa-metragem, Sofia Coppola, pela primeira vez, experimenta o fracasso.

São inúmeros os motivos. O primeiro é que ela finalmente se rende à moda vigente do cinema independente americano: esvazia a ação para retratar o mal-estar de um ator famoso, vítima da sociedade na qual está inserida e das frivolidades do meio artístico.

Ao fazer isso, revela-se incapaz de não se misturar a esse esvaziamento e a essa frivolidade, levando a um profundo tédio o espectador que não se impressiona com modismos.

O segundo é que ela faz um filme propositadamente desencantado, mas desprovido justamente de uma alma crítica. Isto provoca um desencanto vazio (algo que, por sinal, faz a grandeza de muitos filmes, mas nunca deste), arruinando o estilo baseado sobretudo no charme de seus personagens e na jovialidade e vitalidade de suas cenas.

Fica evidente que é dela mesma que o filme está falando. O disfarce de colocar um protagonista masculino (interpretado por Stephen Dorff) torna tudo apenas mais falso, caindo, mesmo que sem querer, dentro do esquema universal das coisas que a diretora queria criticar.

Ao se eximir de falar diretamente de suas angústias, utilizando o subterfúgio fácil da história autobiográfica filtrada, Sofia Coppola deixa, pela primeira vez em sua carreira, de encarar a principal questão que alimentava seu cinema até então: a "ausência" de liberdade e individualidade. Como tais elementos estão bem "presentes" no filme, o que sobra para a diretora? Somente a perfumaria.

IMPOSSIBILIDADE DA AUTOCRÍTICA

Um outro problema é que ela segue, também, a moda contemporânea de tentar a crítica pela observação, de questionar indiretamente, adequando-se ao mal-estar do personagem. O resultado é que, como já dito, não há, efetivamente, uma crítica. Apenas sua aparência, e uma capitulação ao estado de coisas. Capitulação que o momento final, ridículo, não resolve.

Infelizmente, Sofia não está preparada para criticar algo muito próximo a ela. É como se sua vida estivesse em uma redoma, dentro da qual se torna inacessível. Pode ser que num próximo filme ela consiga, finalmente, lidar com esses problemas sem ser contagiada. Por enquanto, temos, no máximo, um esboço do que poderia ter se tornado um bom filme.

A presença brilhante de Ellie Fanning, irmã da agora crescida Dakota Fanning, serve para vislumbrarmos, por alguns instantes, o que poderia ter sido "Um Lugar Qualquer" caso Sofia Coppola não estivesse tão apegada às limitações de certo cinema contemporâneo, e estivesse realmente aberta à autocrítica.

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