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17/08/2006 - 12h49
"Anjos do Sol" retrata drama da prostituição infantil; veja o trailer e o álbum de fotos

Divulgação

Cena de Anjos do Sol, de Rudi Lagemann

Cena de Anjos do Sol, de Rudi Lagemann

SÃO PAULO (Reuters) - A exploração sexual infantil, um tema que não costuma frequentar as salas de cinema, está no centro do drama "Anjos do Sol", filme de estréia do diretor gaúcho radicado no Rio de Janeiro Rudi Langemann. O longa entra em cartaz nesta sexta-feira em 57 cinemas, em oito capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Salvador, Recife, Florianópolis e Porto Alegre.

Apesar da aridez do assunto, "Anjos do Sol" foi exibido em première mundial no Festival Internacional de Cinema de Miami, em março, vencendo o prêmio do júri popular após disputa com outros 14 títulos de vários países.

De lá para cá, o diretor recebeu algumas propostas de comercialização internacional do filme, que ainda não foram finalizadas. "É um processo lento", conforma-se Langemann, em entrevista à Reuters, em um hotel de São Paulo.

O roteiro de "Anjos do Sol", que vinha sendo pesquisado há cerca de nove anos, recebeu um estímulo importante quando o roteiro foi contemplado num laboratório do Instituto Sundance no Rio de Janeiro em 1998. O diretor garantiu, porém, que a discussão com especialistas nacionais (como os cineastas Jorge Durán e Suzana Amaral) e internacionais, não mudou grande coisa no rumo de sua história, que é ficcional. "Só cortei um segmento do filme que se passava em Brasília", relata.

A expectativa de que a "grife Sundance" facilitasse o financiamento acabou não se cumprindo. O projeto ficou parado um ano e só voltou a ser tocado quando "Anjos do Sol" venceu um concurso do Ministério da Cultura para produções de baixo orçamento, em que obteve 800 mil reais. Mais adiante, a produção foi beneficiada por uma parceria com a Globo Filmes, que se tornou co-produtora. O orçamento alcançou, no final, cerca de 1,5 milhão de reais.

Atores conhecidos somaram-se ao elenco, auxiliando sua conclusão. Chico Díaz, amigo do diretor, foi um dos primeiros a aderir. O produtor de elenco José Antônio Rocha trouxe Vera Holtz e Otávio Augusto. Antônio Calloni, que Langemann não conhecia, apaixonou-se pelo roteiro à primeira vista, assumindo o papel do importante personagem Saraiva, o dono de um bordel que explora meninas.

A maior surpresa, porém, foi a volta da atriz Darlene Glória, a musa de clássicos como "Toda Nudez Será Castigada" (1973), de Arnaldo Jabor, que andava afastada das telas há décadas, desde sua conversão à religião evangélica.

"Pensei nela como uma homenagem a uma diva. Ela caiu como uma luva na sua personagem", define o diretor. No filme, Darlene faz uma cafetina que explora meninas no Rio de Janeiro.

SEM SENSACIONALISMO

A maior parte da ação, porém, passa-se no sertão da Bahia. Logo no início, Maria (a estreante Fernanda Carvalho, que tinha apenas 10 anos na época das filmagens, no final de 2004) é vendida pelos próprios pais a um intermediário (Chico Díaz).

Este revende a garota, junto com outras (como Bianca Comparato, que atuou na novela "Belíssima"), para Nazaré (Vera Holtz), especializada em realizar leilões de menores virgens para comerciantes, empresários e deputados. Maria e outras vão parar num bordel que fica no meio de um garimpo, na Bahia, administrado por Saraiva (Antônio Calloni).

O desafio de trabalhar uma questão polêmica com um elenco em parte menor de idade foi resolvido por Langemann em três frentes. A primeira, através da contratação de duas mulheres como preparadoras de elenco, Paloma Riani e Helena Varvaki.

"Era importante ser delicado e não causar nenhum trauma", preocupou-se o diretor. A segunda providência foi trazer os pais e responsáveis pelas meninas para acompanhar os ensaios e as filmagens. "Eles leram o roteiro antes das garotas", assegura.

Finalmente, o diretor submeteu o filme ao Juizado de Menores do Rio, levando o roteiro, fotos de locação e demais informações sobre o projeto. O rígido juiz carioca Siro Darlan, segundo o diretor, deu o seu aval. "Ele nos disse que considerava nosso trabalho uma coisa séria e não sensacionalista", afirma Langemann.

INSTRUMENTO DE DEBATE

Mesmo sendo este seu primeiro longa, que participa da competição no Festival de Gramado, Langemann está longe de ser um novato no mundo do cinema.

Gaúcho, exerceu diversas funções em filmes de Giba Assis Brasil, Carlos Gerbase e Werner Schunemann, ganhando até o prêmio de melhor ator no Festival de Brasília em 1984, pelo filme "Me Beija", de Schunemann, em que Langemann assinou também o roteiro.

Transferindo-se para o Rio, onde mora até hoje, Langemann participou de vinte longas de ficção em vários postos -- como roteirista de "Kuarup" (1989), de Ruy Guerra, e assistente de direção de Walter Salles e Daniela Thomas em "O Primeiro Dia" (1998).

Sobre as perspectivas de "Anjos do Sol", o diretor pondera: "É um filme duro. Minha proposta era colocar uma discussão, não uma redenção. É um problema social para resolver em 50, 100 anos, porque é uma questão cultural. Mas acho que 'Anjos do Sol' pode se tornar um instrumento de debate", disse.

(Por Neusa Barbosa, do Cineweb)


31/01/2013