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''Neste filme não fica claro quem são os mocinhos e quem são os vilões'', diz Justin Timberlake sobre "A Rede Social"

Justin Timberlake e Jesse Eisenberg em cena do filme "The Social Network" - Divulgação
Justin Timberlake e Jesse Eisenberg em cena do filme "The Social Network" Imagem: Divulgação

THAÍS FONSECA

Enviada especial a Cancún, no México*

07/12/2010 07h00

Ao tomar como pano de fundo a criação do site Facebook, "A Rede Social", de David Fincher, mexe num assunto quente. Traz à tona não só uma rede de relacionamentos acessada por milhões de pessoas do mundo todo como aborda formas recentes de as pessoas se relacionarem e se conectarem umas com as outras. Até aqui, é fácil perceber a atualidade da história. Por este mesmo motivo, parece irônico que, ao imaginar a estrutura do filme, o roteirista Aaron Sorkin privilegiou questões que surgiram há muito, muito mais tempo que a própria internet. "Por mais contemporânea que a invenção seja, os temas do filme são tão antigos como a contação de histórias: lealdade, amizade, poder, dinheiro, status social e inveja", contou Sorkin em entrevista coletiva ao lado de atores a um grupo de jornalistas - do qual UOL Cinema fez parte - em Cancún, no México, em julho deste ano.

A fala de Sorkin é perceptível na trama, principalmente nos três personagens de destaque: o protagonista Mark Zuckerberg (Jesse Eisenberg), Eduardo Saverin (Andrew Garfild) e Sean Parker (Justin Timberlake). O caso de Zuckerberg e Saverin é ainda mais emblemático, já que ambos começam como melhores amigos, viram sócios do site ainda embrionário, mas acabam numa disputa judicial, após o primeiro deixar, sorrateiramente, o segundo fora de lucros bilionários. Nesta corrida por um lugar ao sol os personagens demonstram pouco carisma - com momentos de exceção, sobretudo para Saverin - e revelam alguns defeitos de caráter. "Todas as pessoas nesta história têm problemas justificáveis, mesmo que estejam na superfície ou escondidos", disse Garfield.

  • Getty Images

    Da esquerda para a direita: Jesse Eisenberg, Andrew Garfield, Justin Timberlake, David Fincher e Aaron Sorkin em première de "A Rede Social" na França (3/10/2010)

"Nos filmes geralmente existem os caras bons e os maus. Neste, não fica claro quem são os mocinhos e quem são os vilões.", concordou Justin Timberlake. Outra ironia é o ator, também conhecido por sua atividade como músico, dar vida a Parker que, além do Facebook, esteve ligado à fundação do site de compartilhamento de música na internet chamado Napster, que gerou conflitos com a indústria fonográfica. "Nos anos 2000 eu estava no 'N Sync. Lançamos um álbum e me lembro que meses depois as pessoas começaram a falar desse site chamado Napster. Na época eu tinha 19 anos". A lembrança não lhe tirou o sono e parece não tirar ainda hoje. "Na época, me identifiquei com os artistas que trabalham na indústria da música. Mas não vou dizer aos garotos de hoje para não baixar uma música na internet. Diria que nada substitui a experiência de ir a um show", afirma, lembrando que diria o mesmo sobre a experiência de ver filmes no cinema em comparação a "baixá-los".

Base no teatro

O jovem empreendedor interpretado por Timberlake é uma das peças do jogo de ações e reações dos personagens adaptados por Sorkin. Neste caso, Parker rivaliza a atenção rentável de Zuckerberg com Saverin e usa a seu favor o jeito sedutor e belas mulheres. O resultado é atrair um e deixar o outro acuado. "Estava tudo no roteiro. Os comportamentos, as ações, o tom das palavras...", disse Garfield, elogiando o trabalho de Sorkin.
 

TRAILER DO FILME ''A REDE SOCIAL''

Apesar de ter começado como dramaturgo, Sorkin se envolveu com roteiros de séries de TV e de cinema, participando de filmes como "Questão de Honra" (1992) e "Meu Querido Presidente" (1995). O resultado desta fusão se revela inclusive nas entrelinhas. "Acho que se Ésquilo [dramaturgo grego] estivesse vivo hoje ele teria escrito, Shakeaspeare teria escrito, Paddy Chayefsky [dramaturgo e roteirista norte-americano] teria escrito. Para minha sorte nenhuma dessas pessoas estava disponível, então eu fiquei com a função", brincou ao se referir ao roteiro de "A Rede Social".

Mas, onde fica a fidelidade aos verdadedeiros Zuckerberg, Saverin, Parker e outros personagens? Para o espectador preocupado com a questão factual, Sorkin explica que sim, se baseou em "Bilionários Por Acaso", de Ben Mezrich. Entretanto, sua formação como escritor lhe fez, conscientemente, buscar o que lhe pareceu a melhor ficção. "Pensei nestas pessoas como personagens, não como pessoas reais. Não sou um jornalista, não sou um documentarista e numa história como esta não quero inventar nada. Minha fidelidade se volta para o que é preciso para contar uma boa história", argumentou.

* (A jornalista viajou a convite da Sony Pictures)