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''Nunca estive tão em forma'', diz Natalie Portman sobre papel de bailarina em "Cisne Negro''

ANA MARIA BAHIANA

Especial para o UOL, de Los Angeles, EUA

13/12/2010 07h00

Durante uma década Darren Anofosky e Natalie Portman conversaram sobre fazer um filme juntos. Havia um tema específico. Tratava-se de um filme sobre uma primeira bailarina obcecada por perfeição. “Toda vez que nós nos encontrávamos eu dizia: 'Darren, eu não estou ficando mais jovem…. Quando vamos conseguir fazer aquele filme de balé?'”, disse a atriz, referindo-se à história prevista para chegar às telas do Brasil em 4 de fevereiro de 2011.

“Era realmente uma situação complicada”, complementou Aronofsky. ‘Desenvolver o roteiro do conceito original até o ponto onde eu estava confiante no material já era uma tarefa complicada. E conseguir levantar financiamento de produção para um filme assim – um drama no mundo do balé – foi-se tornando progressivamente mais difícil à medida em que o tempo passava e a recessão piorava.”

Portman estava com 28 anos quando começou a treinar para o papel de Nina, a protagonista de Cisne Negro, de Darren Aronofsky; e 29 quando as filmagens se encerraram, “uma idade um pouco perigosa para começar a ser uma bailarina”, ela diz, sorrindo. “Natalie é muito rigorosa com ela mesma”, Aronofsky comenta. “ O esforço que ela fez foi incrível. Bailarinas levam em média 20 anos para realmente moldarem o corpo, adquirirem a força e a flexibilidade necessárias. E ainda por cima eu queria que ela fosse uma primeira bailarina!”

Cisne Negro, desenvolvido por um time de três roteiristas a partir de uma ideia original de Aronofsky (inspirada por O Duplo, de Dostoievski) segue a jornada de Nina, recém-nomeada “prima ballerina” de uma companhia dirigida pelo tirânico Thomas (Vincent Cassel). A personagem enfrenta o desafio de protagonizar uma nova montagem de Lago dos Cisnes sob as múltiplas pressões da responsabilidade, da percebida ameaça de uma bailarina mais jovem (Mila Kunis) e a vigilância de uma mãe controladora (Barbara Hershey).

O trabalho de criar uma companhia de balé fictícia mas verossímel para Cisne Negro, dentro do modestíssimo orçamento de  17 milhões de dólares representou esforços e sacrifícios de toda a equipe. Nem o diretor nem os astros – Portman, Mila Kunis, Vincent Cassel, Barbara Hershey, Winona Ryder – tinham trailers para descansar entre as tomadas. “Estávamos todos ou no set ou em camarins, o que realmente dava a sensação de sermos uma companhia de balé”, diz Kunis, que faz a bailarina Lilly, substituta de Nina na produção de Lago dos Cisnes que é o foco da trama. “Vivíamos um pouco como bailarinos: ou estávamos treinando ou estávamos trabalhando.”

Portman submeteu-se a um rigoroso programa de cinco horas diárias de exercícios: uma hora de natação, uma hora com pesos e aparelhos e três  horas de balé. Isto combinado a uma dieta de muita proteína e baixa gordura. Nos últimos dois meses antes das filmagens o coreógrafo Benjamin Millepied começou a trabalhar com Natalie nos aspectos coreográficos do filme, adicionando mais três horas ao seu preparo. “Era uma vida muito monástica, muito rigorosa.”  diz Natalie. “Foi como se eu estivesse no convento por um ano. Mas nunca estive tão em forma, dez quilos mais magra, super flexível. Mas confesso que assim que acabaram as filmagens eu saí para minha primeira refeição fora do convento! Massa, sorvete, pão…  Sou uma pessoa que preza muito os prazeres. Adoro comida.”

 

Aronofsky e seu diretor de fotografia Mathew Libatique  - parceiro desde os tempos em que ambos eram alunos do American Film Institute -  completaram o preparo com sua própria imersão no universo da dança, vendo o máximo de produções de Lago dos Cisnes, acompanhando a temporada do American Ballet Theater em Nova York e, finalmente, contando com a ajuda e assistência técnica do Royal Ballet britânico. “O mundo do balé é muito fechado em si mesmo, muito insular”, Aronofsy conta, “Foi preciso muita paciência, muita demonstração da nossa seriedade de intenções para que houvesse colaboração. Ainda mais porque, desde o começo, eu pedi acesso às coxias, aos ensaios. Isso é tabu no ballet, é fechado aos de fora. Mas para mim, como realizador, era claro que eu precisava compreender todo o processo. E Mat precisava compreender os movimentos dos bailarinos. Desde o começo queríamos filmar a experiência de dentro para fora. Do palco, não da plateia.”

Embora a história seja 100% fictícia, todos no elenco e na criação de Cisne Negro enxergam um paralelo com a verdadeira trajetória de George Balanchine, o carismático  bailarino e coreógrafo russo que criou  o American Ballet nos anos 1950, responsável por uma das versões atuais do balé e famoso por eleger e destronar suas primas ballerinas. “Há um paralelo, sim”, diz Vincent Cassel.”E no início o personagem de Thomas era russo. O paralelo está na obsessão com a perfeição, na busca de algo sempre melhor, e no modo como ele abraçava sua sensualidade. No palco o balé clássico pode parecer algo abstrato, mas na verdade estamos lidando com corpos, com pessoas no auge da forma física. Balanchine tornou-se sinônimo dessa dualidade.”

Os elementos finais de Cisne Negro vieram  com o uso de efeitos digitais e com a trilha de outro colaborador assíduo de Aronofsky, Clint Mansell, que criou variações em cima da música de Tchaikovsky. “Queria um uso muito preciso e sutil dos efeitos”. Diz Aronosfsky. “O espelho é um elemento muito importante no filme, e usamos vários efeitos muito precisos para criar o ambiente que eu queria. Minha maior alegria foi quando exibimos o filme para o American Ballet Theater, e quando exibimos para o pessoal da Pixar e as duas plateias adoraram! Pensei: se conseguimos convencer essa turma, o filme deve ser bom…”