Topo

Em um ano que inclui indicações fracas como "Burlesque" e "O Turista", o que esperar do Globo de Ouro?

Cena de "Burlesque"", musical com Christina Aguilera. Filme é um dos indicados na categoria comédia ou musical - Divulgação
Cena de "Burlesque'', musical com Christina Aguilera. Filme é um dos indicados na categoria comédia ou musical Imagem: Divulgação

ANA MARIA BAHIANA

Especial para o UOL, de Los Angeles, EUA

16/01/2011 06h00

Segundo a meteorologia, o 68º Globo de Ouro terá um tempo perfeito, ou seja, o domingo será ensolarado, com temperaturas entre 17 e 20ºC e a quantidade exata de nuvens para proteger a delicada cútis das estrelas no tapete vermelho do hotel Beverly Hilton na Califórnia, EUA. Nada de tempestade gelada como em 2010, ou o não-evento ocasionado pela greve dos roteiristas em 2008.

Há transtornos de outra natureza, contudo: a Hollywood Foreign Press Association, que promove o prêmio (e à qual eu pertenço) está no meio de uma batalha legal em duas frentes - processando a Dick Clark Company, que produz o evento há mais de 20 anos, e sendo processada pelo divulgador Michael Russel, demitido ano passado por justa causa.

  • Reprodução

    Imagens das estatuetas do Globo de Ouro divulgadas no site oficial do evento. A premiação de 2011 acontece em 16 de janeiro

Além disso, existem as bizarras indicações para filmes fraquíssimos como "Burlesque" e "O Turista", ameaçando a credibilidade do prêmio e quebrando uma longa sequência de triunfos que inclui o primeiro reconhecimento de  pequenos filmes como "Juno", "Sideways - Entre Umas e Outras", "Distrito 9", "Lars and the Real Girl", ''Simplesmente Feliz" , "Preciosa" e "In Bruges", e séries como "Mad Men" e "Glee". Culpa de  um ano fraco na produção do que um votante descreveu como “filmes inteligentes, entre a comédia ou o drama”? Ou uma mistura de gosto duvidoso e deslumbramento com estrelas, afinal elemento essencial de toda entrega de prêmios?

Porque a Academia, por definição de ofício de seus integrantes, não tem tempo nem paciência para ver todos os 248 filmes elegíveis para os Oscars, os Globos fazem o papel da pré-seleção de quem vale a pena a cada ano. Afinal, gosto duvidoso ou agendas pessoais à parte, os 90 integrantes da HFPA, todos correspondentes estrangeiros representando 55 países, precisam ver todos esses, e mais alguns – em festivais, na TV - por conta de sua profissão. Este é o supremo poder que minha Associação não deveria perder de vista - a capacidade de desenhar o campo para cada disputa, abrindo espaço para o talento, a qualidade e a originalidade que de outra forma poderia passar despercebido no maior mercado audiovisual do mundo.

Mas uma coisa posso garantir: assim que as estrelas começarem a desfilar pelo tapete, tudo isso será esquecido. Depois de meia hora no International Ballroom lotado por absolutamente todos os caciques da indústria de cinema e TV, com o champanhe correndo solto e muita confraternização em torno das mesas e no bar ao fundo do salão, todas essas questões estarão longe.

Os Globos são, em primeiro lugar, uma grande festa, um eco de uma Hollywood mais amena, social e alegre, onde estúdios eram grandes famílias desfuncionais e falar de dinheiro na mesa era considerado deselegante. Depois do corpo a corpo do outono, quando lançarão os filmes de prestígio, e das férias do final de ano, os Globos são a primeira ocasião em que todo mundo que é alguém se reencontra, num ambiente neutro e festivo. Haverá sangue nos bastidores, nos telefonemas, nos torpedos e nas salas de reunião, nas semanas seguintes. Mas não aqui, e não agora. Por uma tarde e uma noite, todo mundo estará bem vestido, mais ou menos bêbado e, estranhamente, feliz, imaginando viver uma noitada no Coconut Grove do Ambassador Hotel, entre 1938 e 1954.