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Longa com Wagner Moura fracassa ao tentar amarrar pontas desconexas

Arieta Corrêa e Wagner Moura em cena de "VIPs", de Toniko Melo - Divulgação/ Milena Mendes
Arieta Corrêa e Wagner Moura em cena de "VIPs", de Toniko Melo Imagem: Divulgação/ Milena Mendes

SERGIO ALPENDRE

Colaboração para o UOL, de Tiradentes (MG)

24/01/2011 13h33

Vigaristas costumam ser bons personagens no cinema. Quando interpretados por bons atores, a chance de cairem nas graças do público é grande. Foi assim com o personagem interpretado por Leonardo DiCaprio em "Prenda-me Se For Capaz", de Steven Spielberg. Foi assim também em Tiradentes na noite deste domingo (23), quando Wagner Moura, no filme "VIPs", de Toniko Melo, arrancou aplausos entusiasmados da plateia que lotou o principal local de exibição da pequena cidade por ter interpretado Marcelo, personagem real que poucos anos atrás se passou por um dos filhos do dono da empresa aérea Gol.

É muito bem produzido no que diz respeito ao trabalho de som (que a excelente projeção do Cine Tenda permitiu que percebêssemos), mas tem sérios problemas no roteiro escrito por Thiago Dottori e Bráulio Mantovani (o mesmo dos dois "Tropa de Elite"). O principal é o caráter esquizofrênico de Marcelo, que nem sempre encontrou a melhor interpretação do ótimo Wagner Moura, e raramente conseguiu se manter verossímel dentro da frágil espinha dorsal da narrativa.


Algumas soluções da trama, especialmente na metade final, são risíveis de tão mal resolvidas, e adiantar alguma coisa aqui pode atrapalhar mais ainda a experiência do espectador. Vale dizer apenas que os acontecimentos já não são muito críveis (o que não seria um problema), e ainda recebem um tratamento que parece ter saído de algum exercício escolar.

Contudo, a plateia de Tiradentes aprovou, e o longa deve fazer certo sucesso no circuito, ajudado pela máquina da distribuidora Universal e pelo carisma do ator. Mas não se enganem, é mais um subproduto disfarçado de cinemão que dá as caras em nossa cinematografia pródiga em subprodutos.

No cinema mais experimental, a sorte é a mesma

Em chave completamente oposta, "A Alegria", de Felipe Bragança e Marina Meliande, tenta entender os adolescentes com uma estética forte, calcada em Robert Bresson (é difícil não lembrar de "Mouchette", filme de 1967) e Apichatpong Weerasethakul (ecos de "Mal dos Trópicos" na parte final, e uma incrível similaridade com o recente "Tio Boonmee, Que Pode Recordar Suas Vidas Passadas", que ganhou o mesmo festival de Cannes em que "A Alegria fez sua estreia mundial). Termina soando mais como Esmir Filho em seu desastrado longa "Os Famosos e os Duendes da Morte".

Talvez o grande problema do filme de Bragança e Meliande seja a pretensão. No cinema de Apichatpong as coisas acabam soando naturais, por um desses milagres de sua direção, e mesmo que sua carreira tenha tido um leve declínio, a despeito de um prêmio atrasado em Cannes, por um filme menos pungente em sua carreira, muitas de suas imagens têm força inegável.

Em "A Alegria" fica difícil se interessar por qualquer um dos personagens. São quatro adolescentes à procura da felicidade e da resolução de alguns mistérios, como todo adolescente que se preze, mas seus gestos bressonianos teminam por brigar com o tom do filme - que parece buscar uma ternura maior do que é capaz de alcançar. Uma pena, pois alguns planos são fortes, e existem raros momentos de respiro, soterrados por grossas camadas de loucura compulsória, aquela que está ali por cálculo, não por risco verdadeiro.