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Cercado de expectativas, "Coriolanus" e seu elenco de astros e estrelas decepcionam na Berlinale

Ralph Fiennes e Gerard Butler posam juntos para foto no Festival de Berlim. Ambos estrelam "Coriolanus", dirigido por Fiennes (14/02/2011) - Getty Images
Ralph Fiennes e Gerard Butler posam juntos para foto no Festival de Berlim. Ambos estrelam "Coriolanus", dirigido por Fiennes (14/02/2011) Imagem: Getty Images

ALESSANDRO GIANNINI

Enviado especial a Berlim

14/02/2011 11h31

Estreia de Ralph Fiennes na direção, "Coriolanus" atualiza a peça homônima de Shakespeare para os dias atuais, em um conflito que lembra muito a sucessão de crises, conflitos e protestos que o mundo vem testemunhando nesse início de século 21.

Com um elenco de astros e estrelas que inclui o próprio Fiennes no papel-título, Gerard Butler no de Aufidius e Vanessa Redgrave no da orgulhosa matriarca do protagonista, o filme era uma das grandes expectativas da seleção oficial e da competição em Berlim. Mas sua proposta convencional e nada radical decepcionou.

Na sessão para a imprensa, na manhã desta segunda (14), muitos jornalistas saíram logo após o início da sessão e outros mais saíram ao longo dela. Ao fim, ninguém ousou soltar vaias, apenas aplausos tímidos.

"Coriolanus" passa-se nos dias de hoje, mas não atualiza geograficamente a peça. Roma continua sendo Roma e os inimigos do império continuam sendo os volscos. A sucessão de eventos também permanece a mesma. Quando o filme começa, os romanos passam por uma crise sufocante e estão em guerra com os volscos. O general romano Caio Marcio (Fiennes) enfrenta a guerrilha liderada pelo seu inimigo confesso, o volsco Aufidius (Butler). Ao derrotá-lo no campo de batalha, Caio Marcio recebe o título de conquistador do povo e, instado pela mãe (Redgrave), almeja a posição de Consul. Ao ser rejeitado pelo próprio povo, ele reage com violência e é condenado ao ostracismo. No exílio, ele se reconcilia com seu antagonista para marchar sobre o império que o excluiu.

Apesar de recebido com uma certa indiferença, na entrevista coletiva que se seguiu à sessão, Fiennes, Butler, Redgrave, a atriz Jessica Chastain, que faz o papel de Virgilia, e o roteirista John Logan responderam a muitas perguntas sobre o filme. Fiennes contou que a ideia de adaptar a peça de Shakespeare nasceu em 2000, quando ele interpretou o mesmo personagem em uma montagem para o Almeida Theatre, no Gainsborough Studios, sob a direção de Jonathan Kent. "Desenvolvi uma obsessão pela peça e o personagem", disse o ator e diretor estreante. "Meu instinto me dizia que daria um ótimo filme contemporâneo. E tive a sorte de encontrar [o roteirista John] Logan, que respaldou esse meu desejo inteiramente."

Fiennes disse que preferiu não localizar a peça em nenhum momento histórico específico para manter a simbologia de um mundo contemporâneo repleto de conflitos e em constante processo de mudança. "Desde que eu fiz a peça, há dez anos, testemunhei nos jornais e nas televisões uma série de conflitos, processos de mudança e protestos", disse ele. "Eu quis manter a simbologia geográfica da peça justamente para que todos esse episódios que se revezam na história que vivemos estivessem representados no filme."

Sobre o papel da ambiciosa Volumnia, Redgrave explicou que não se trata de uma mulher sedenta de poder, como pode parecer na superfície. "Não a vejo assim", disse ela. "Ela sempre foi de uma família ligada ao poder. O mais importante para ela é o país e, por isso, sua família não pode estar separada de sua família. Por isso, ela vai de encontro ao filho para pedir que não marche sobre Roma."

Butler também foi muito solicitado pelos jornalistas. Menos por sua versatilidade como ator e mais pelo aspecto curioso de vê-lo em um papel tão difícil. Uma jornalista, por exemplo, perguntou-lhe o que achava de ter sido escolhido para interpretar Aufidius. "Acho que é muito desafiador intelectualmente para mim, não é", perguntou, em tom de brincadeira. "Eu também fiz minha cota de dramas e filmes independentes. Mas parece que só lembram das comédias românticas e de '300'. Na verdade, meu primeiro trabalho como ator foi em uma montagem de 'Coriolanus', só que não fazendo o papel principal. Quando li o roteiro, fiquei muito animado com a possibilidade de contracenar e ser dirigido por Ralph e estar em cena com esses grandes atores."