Topo

"É um filme para atores e eu adoro fazê-los trabalhar", diz Fernando Meirelles sobre "360"

Fernando Meirelles posa para foto em première de ""Ensaio Sobre a Cegueira" na Espanha (3/03/2009) - Getty Images
Fernando Meirelles posa para foto em première de ''Ensaio Sobre a Cegueira" na Espanha (3/03/2009) Imagem: Getty Images

ALYSSON OLIVEIRA

Do Cineweb

18/02/2011 14h07

O cineasta Fernando Meirelles diz que gosta mesmo é de ficar em sua casa, em São Paulo, mas o trabalho sempre o chama – e o leva para fora do país. “Nesta semana, dormi uma noite em Londres, uma em Viena, uma em Praga e hoje estou em Paris”, contou ao UOL Cinema, por e-mail. Tudo isso por conta da pré-produção intensa, como ele define, de seu novo trabalho “360”, que começa a rodar nos EUA na próxima semana. Lá ele filma por dois dias e retoma o trabalho em 21 de março, em Londres. “Neste momento de pré-produção me sinto muito ligado, farejando tudo, buscando entender o que estou fazendo. “

O roteiro de “360” foi escrito especialmente para Fernando pelo inglês Peter Morgan (“Além da vida”, “A Rainha”), e aborda relacionamentos humanos, com uma estrutura circular, como “Conflitos de Amor” (1950), de Max Ophüls, baseado numa peça de Arthur Schnitzler. O 360 do título é uma referência aos 360º de um círculo. “Não há um grande tema por trás da história nem grandes conflitos. Mas foi um roteiro que não consegui parar de ler, uma coisa ia levando a outra e me intrigou. Talvez eu esteja menosprezando as questões tratadas na história, que é sobre relacionamentos, sobre o quanto conseguimos controlar nossos impulsos e desejos”.

No elenco internacional, estão os ingleses Rachel Weisz – que trabalhou com Fernando em “O Jardineiro Fiel” – , Jude Law e Marianne Jean-Baptiste (“Segredos e Mentiras”), o galês Anthony Hopkins, o francês Jamel Debbouze (“Fora da Lei”), o alemão Moritz Bleibtreu (“Corra Lola Corra”) e os brasileiros Maria Flor e Juliano Cazarré. “É um filme para atores e eu adoro vê-los e fazê-los trabalhar.  Quando há papeis onde os personagens estão cercados por ação ou dentro de uma trama cabulosa, é mais fácil enganar. Neste caso,  um filme sobre pequenas nuances dos nossos sentimentos,  acho que dependo muito mais de performances brilhantes”.

  • Divulgação

    Rachel Weisz em cena do filme ''O Jardineiro Fiel'' (2005), dirigido por Fernando Meirelles

  • Divulgação

    Felipe Camargo em cena da série "Som e Fúria"

A equipe técnica, montada pelo próprio diretor, também conta com diversos brasileiros, como o diretor de fotografia Adriano Goldman (“Som e Fúria”, “Cidade dos homens”), e o montador Daniel Rezende (“Cidade de Deus”). “Reconheço que não participo muito da política do cinema no Brasil, então coloquei na minha cabeça que minha contribuição ao nosso cinema seria ajudar a abrir portas para o mercado internacional. Incluir parceiros brasileiros é quase uma obrigação que me imponho, apesar de muito prazeroso.”

Apesar de toda essa participação brasileira na frente e atrás das câmeras em “360”, Fernando confessa que ainda não sabe se o Brasil será creditado como coprodutor do longa.  “Dependemos da Ancine aprovar a ‘brasilidade’  do filme.  Sou meio ruim nessas coisas, mas há uma regra que diz que numa coprodução o lado brasileiro deveria ter no mínimo 25% dos direitos do filme, e este não é o caso em ‘360’.  Por outro lado, se o Brasil entrar com apenas 6%  do financiamento, não faz sentido exigir 25% de participação. Essas regras estão sujeitas a interpretação. Estamos conversando com a Ancine e eles estão atentos ao problema, pois há interesse em incentivar coproduções”.

O filme será também rodado em Londres, Viena e Bratislava (capital da Eslováquia), e será falado em sete línguas. "Falo apenas três delas. Para as outras quatro, vou ter que contar com a paciência dos atores. No caso dos papeis em russo e eslovaco, vou ter tradutores no set. Quem está com problema maior mesmo será o Daniel Rezende, o montador:  Imagine cortar um diálogo em árabe?".

Depois de “360”, o diretor pensa em voltar a filmar no Brasil, uma vez que seu projeto sobre Janis Joplin, nas palavras dele, “foi enterrado”. “A pessoa que tem os direitos resolveu que vai fazer ele mesmo. Ele a conheceu e chegou até a tocar para Jimmy Hendrix. Espero que consiga fazer o filme”.

O último trabalho de Fernando foi a minissérie “Som e Fúria” que, depois de exibida na Globo, em 2009, ganhou uma versão cinematográfica. Um trabalho que, como admite o diretor, não teve o resultado que esperava: “Não vejo a hora de fazer um filme no Brasil. Depois da audiência aquém do esperado de ‘Som e Fúria’, fiquei um pouco menos entusiasmado com TV.  Mas vivo como ensina o Alcoólicos Anônimos: um dia de cada vez.  Nunca fui a um encontro do AA, mas o personagem do Hopkins irá, então tenho me informado”.

“360” foi um dos mais disputados no mercado de distribuidores no Festival de Berlim, e os direitos de exibição foram vendidos para cerca de 15 territórios. “Havia uma boa proposta para América Latina mas, como ainda estamos esperando um retorno da Ancine, decidimos segurar isso. Se o filme for brasileiro, talvez eu siga os passos do José Padilha (diretor de ‘Tropa de Elite”) e distribua por conta própria. Essa moda deveria pegar”.