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"É difícil encontrar bons personagens femininos", diz Deborah Secco

Raquel Pacheco e Deborah secco vão à pré-estreia do longa "Bruna Surfistinha", em São Paulo (22/2/2011) - AgNews
Raquel Pacheco e Deborah secco vão à pré-estreia do longa "Bruna Surfistinha", em São Paulo (22/2/2011) Imagem: AgNews

27/02/2011 07h00

Com 31 anos, mais de 20 atuando, Deborah Secco sabe que sua carreira – muito bem construída até agora – está prestes a se transformar com a chegada aos cinemas do filme “Bruna Surfistinha”, no qual vive a famosa garota de programa. Mas a atriz diz que prefere não pensar nisso, e está procurando um novo filme. “É tão difícil encontrar um bom personagem feminino, não? Sempre cai na prostituta, ou na irmã, amiga, namorada, que acabam sendo personagens bem secundários. É muito difícil encontrar algo que realmente valha a pena”, disse em entrevista ao UOL Cinema, durante a maratona de lançamento do filme em São Paulo.

Por essa escassez de bons personagens foi que a própria Deborah lutou muito para convencer o diretor Marcos Baldini de que ela seria uma boa Bruna Surfistinha. “Ele não me queria. Ele tinha muita resistência a mim. Quando sugeriam meu nome, ele desconversava”, conta, rindo. “Quando li o roteiro, achei a personagem irrecusável. Poderia me dar a chance de mostrar o lado atriz da Deborah Secco menos conhecido”.

Quando finalmente rompeu a resistência do diretor, fez um teste e foi escolhida, Deborah disse saber que não poderia se permitir ter pudores, “desde que se respeitasse os meus limites éticos”. “Eu tinha de me jogar de cabeça no filme. Entreguei-me completamente, me envolvi até não poder mais. Resultado: até estou creditada como produtora. Acho que isso é um reconhecimento do meu esforço. Fico feliz”.

TRAILER DO FILME ''BRUNA SURFISTINHA''

Para entrar na pele da personagem, a atriz contou com o apoio do preparador de elenco Sergio Penna, e conviveu numa casa por alguns dias com as outras atrizes que fariam suas colegas prostitutas, como Fabiula Nascimento e Cristina Lago. “Eu cheguei lá como Raquel [identidade real de Bruna Surfistinha antes de adotar o nome de guerra], e elas já eram suas personagens. Foi um trabalho muito importante de vivência. Só assim pude entender as motivações, criar a minha visão da Bruna”.

Antes de fazer o filme, Deborah não leu o blog de Bruna Surfistinha, nem o livro que serviu de base, “O Doce Veneno do Escorpião”. “A minha bíblia era o roteiro. Não queria nada externo a isso. Não queríamos uma cópia da verdadeira Raquel”. Esta faz uma pequena ponta no filme, como a hostess de um restaurante que, para Deborah, “é uma homenagem e agradecimento”.

Além disso, Deborah conheceu diversas garotas de programa, de diversos níveis sociais. “Foi uma experiência que mudou minha visão do mundo. Não temos direito a julgar ninguém. Mal conseguimos dar conta de nossas vidas. E as pessoas nem sempre conseguem ser o que querem. Nem todo mundo tem as mesmas oportunidades.”

Em sua pesquisa, a atriz conheceu uma garota na região da Luz, na capital de São Paulo, que chamou muito sua atenção. “Ela se parecia muito com a Bruna quando estava envolvida com drogas, aquele olhar perdido no vazio, vago, a melancolia. Eu me lembrei muito dessa garota quando rodava algumas cenas. É uma realidade bem triste”.

Uma realidade triste que o filme não faz questão de maquiar, o que dá muito orgulho à atriz. “Tinha medo de que virasse um conto de fadas. Mas o Marcos [Baldini] me mostrou que sabia muito bem o que queria. É um filme para deixar o espectador incomodado – afinal, ter sete, oito homens em cima de você num dia só, não é uma sensação boa”.