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"Trabalhar com Sônia Braga foi um sonho", diz protagonista de ''Lope''

Alberto Amman, astro de "Lope", participa de evento em Madri, na Espanha (22/11/2010) - Getty Images
Alberto Amman, astro de "Lope", participa de evento em Madri, na Espanha (22/11/2010) Imagem: Getty Images

ALESSANDRO GIANNINI

Editor de UOL Cinema

03/03/2011 12h03

Nascido em 1978, na Argentina, e criado na Espanha, Alberto Ammann tinha apenas um longa-metragem no currículo antes de ser convidado a fazer um teste para o papel-título de "Lope". Chamava-se "Celda 211", foi um sucesso em seu país de origem e valeu ao argentino um prêmio Goya de melhor ator revelação.

As diretoras de elenco que haviam trabalhado com Ammann no primeiro e único filme dele até aquele momento o sugeriram ao diretor Andrucha Waddington. "Na segunda etapa dos testes, interpretei com Pilar [López de Ayala] e Leonor [Watling], e Andrucha estava presente", disse ele em entrevista ao UOL Cinema, em um hotel da região Oeste de São Paulo, onde ficou hospedado. "Foi então que eu o conheci e simpatizamos imediatamente. Houve muito boa energia entre nós."

O fato de ser argentino não foi empecilho para a escolha de Ammann para o papel. O sotaque castelhano, aliás, era o menor dos problemas a se resolver nos 25 dias que faltavam para o início das filmagens. "Tinha que aprender a andar a cavalo bem", contou ele. "Porque eu sabia cavalgar, mas mal. [Tinha que aprender a] Usar espadas, fazer leituras de roteiro. Ou seja, era muito trabalho. "


Filho do escritor, jornalista e político Luis Alberto Ammann e Nélida Rey, Ammann nasceu em Córdoba e, com poucos meses, mudou-se com os pais para Madri. Em 1982, com o fim da ditadura, a família voltou para a Argentina. Mas o jovem Alberto ainda retornaria para a Espanha, a fim de terminar os estudos. Ele não pensava em iniciar carreira como ator, até que apareceu o teatro e depois o cinema. A ideia de interpretar Lope de Vega, a quem conhecia superficialmente dos estudos escolares, o deixou preocupado. Mas não o imobilizou.

Com três projetos engatilhados no cinema, um nos EUA, outro entre Brasil e Argentina e outro na Argentina, ele investe na carreira de ator. E celebra ter trabalhado ao lado de uma das atrizes mais celebradas do cinema brasileiro, Sônia Braga. Leia os principais trechos da entrevista.

UOL Cinema - Como foi a rotina de trabalho antes de fazer o filme?

Ammann - Todos os dias tínhamos trabalho de leitura de roteiro. Ou com todos os atores, com a maioria deles, ou com as atrizes - trabalho de mesa. Com Andrucha, fui à casa de Lope de Vega. Sempre estávamos em contato, falando muito. O ritmo nesses dias foi muito louco. Levantava de manhã, ia treinar com Ignácio Carreño, que era o especialista em equitação. Depois, ia para a esgrima. Saia de lá, ia comer. Depois ia para o treinamento de sotaque. Depois, para a leitura de roteiro com Andrucha. E no caminho de um lugar para o outro, ia lendo sobre a biografia Lope de Vega. Não tinha tempo. Dormia quatro horas. E não foram só os 25 dias de preparação. Foram também os 45 de rodagem. Ou seja, 70 dias dormindo quatro horas por dia. E de estar todos os dias com os livros, o roteiro, a espada e tudo.

UOL Cinema - O que você conhecia de Lope de Vega?

Alberto Ammann - Conhecia sobretudo suas obras, o que estudei. Um pouquinho na Universidade, na Argentina, em Córdoba, e no secundário. Suas três principais obras, seus sonetos, suas poesias. Da biografia, que foi sacerdote no fim da vida e que sempre esteve ligado à nobreza. Ou seja, que desejou a vida inteira entrar na nobreza, mas nunca haviam deixado. Por causa do seu currículo de mulherengo, jogador, festeiro. Até aí. Na Argentina, é como se fosse uma pincelada. Na Espanha, o estudam mais a fundo.

UOL Cinema - Na sua cabeça, como era incorporar este personagem, em um filme espanhol dirigido por um brasileiro?

Ammann - Antes de Andrucha me oferecer o personagem, esse pensamento estava disparado. Essa pergunta: Onde vamos parar? Porque não conhecia Andrucha, porque o cinema brasileiro lamentavelmente não chega até a Espanha. Depois, investiguei, e quando soube quem era, pensei isso. E quando ele me ofereceu o personagem, me pareceu justo. Mas esses pensamentos duraram pouco. Esse café com Andrucha foi muito bom. Eu perguntei a ele que filme seria esse se trabalhássemos juntos. E ele me falou que queria colocar Lope perto da gente jovem, que os jovens pudessem se identificar com um rapaz que chega da guerra, não sabe o que fazer, apaixona-se imediatamente pelo teatro, por duas mulheres de uma vez só, que briga por esse sonho e se joga. Um pouco trazer o Lope dos céus e colocá-lo na terra. Isso me ajudou a baixar o nível de exigência. Não estamos contando a história de Lope de Vega. Esqueçamos dele. Por isso, o chamaremos de Lope. Estamos contando a história de um jovem daquela época que aparece e está em uma situação determinada, limite. E empenha-se em ir adiante, com seus problemas e suas aventuras.

UOL Cinema - Sônia Braga faz o papel de sua mãe no filme. Qual a sensação de trabalhar com uma das grandes atrizes do cinema brasileiro, além de um dos nossos símboloso sexuais interpretando uma senhora?

Ammann - Eu era apaixonado por Sonia Braga quando tinha 8 ou 9 anos. E meu pai, os dois. Víamos os filmes dela em Córdoba, na Argentina. para mim, foi um sonho trabalhar com ela. Ela é maravilhosa. No primeiro dia, quando nos conhecemos foi como se fossemos filho e mãe. É uma mulher incrível, belíssima. Além disso, tem essa coisa de atriz, de estar completamente a serviço da história, do personagem, do que estamos contando. Tem atores que não gostam de muita maquiagem porque pode estragar sua imagem. E ela não teve essa vaidade. E eram horas de processo. Essas coisas que eu vejo e digo isso tem a ver com ser ator. esquecer da imagem própria.

UOL Cinema - Você tem outros projetos em mente?

Ammann - Sim, adoraria. A visão vai além de trabalhar em outras línguas. Quero crescer artisticamente, como ator, e para isso tenho que aprender idiomas, participar de trabalhos que me produzam medo e insegurança. Isso é alimento rico.

UOL Cinema - E o que tem de projetos?

Ammann - Tenho um projeto em inglês. Uma coprodução brasileira e argentina. Não posso falar nada porque ainda não há nada concreto. Li o roteiro. Mas não sei em que fase está, acho que ainda está tomando forma. Não tem data de início de rodagem, nem nada.

UOL Cinema - Com Walter Salles?

Ammann - (Risos) Não, não. Adoraria trabalhar com ele, mas não é o caso. E tem também um projeto na Argentina. Mas todos estão em desenvolvimento. Por isso tenho que guardar segredo.