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"Dura apenas dois dias", diz Robert De Niro sobre o medo que desperta em jovens atores

Robert De Niro e Bradley Cooper em cena de ""Sem Limites" - Divulgação
Robert De Niro e Bradley Cooper em cena de ''Sem Limites" Imagem: Divulgação

KARL ROZEMEYER

Do Hollywood Watch

21/03/2011 07h00

“Meu passado com ele, sem que ele saiba, remonta há muito tempo”, diz Bradley Cooper, “porque ele é o motivo para eu ter me tornado um ator”. Cooper, um dos novos astros mais badalados de Hollywood após o sucesso surpresa de “Se Beber, Não Case” (2009), está falando sobre Robert De Niro, com quem ele divide várias cenas-chave em “Sem Limites”, um novo thriller com estreia prevista para 25 de março no Brasil.

“Sem Limites” traz De Niro como um magnata dos negócios que se vê diante da ascensão meteórica de um desconhecido de Wall Street chamado Eddie Morra (Cooper). Sem que Van Loon saiba, até recentemente Eddie era um escritor arruinado sem perspectivas, até que um amigo apresenta para ele uma nova droga não testada, que permite a ele atingir seu potencial máximo, não apenas como escritor, mas em todas as esferas de sua vida. Após aprender várias línguas e instrumentos musicais em um curto período, Eddie volta sua atenção para Wall Street e em pouco tempo passa a valer bilhões.

“Não é apenas uma história sobre inteligência e potencial, fala muito sobre poder”, diz o diretor Neil Burger em entrevista separada. “Então precisávamos de um ator poderoso para interpretar Carl Van Loon. Se o personagem de Bradley Cooper está tomando um atalho por meio da droga, Van Loon é alguém que trabalhou arduamente, dedicou seu tempo e pagou o preço. Nós precisávamos de alguém que personificasse isso desde o início, alguém capaz de impressionar e intimidar ao primeiro olhar”.

Esse é De Niro. Por sua importância no cinema e pelo grande número de personagens assustadores que interpretou - entre eles Vito Corleone, em “O Poderoso Chefão II” (1974), de Francis Ford Coppola, Travis Bickle em “Taxi Driver” (1976), e Max Candy em “Cabo do Medo” (1991) - De Niro pode ser visto como assustador.  O ator de 67 anos reconhece que sua presença frequentemente tem um efeito intimidante sobre os atores jovens, mas ele não vê isso como um problema. “Isso dura apenas uns dois dias ou menos”, ele diz.

TRAILER DO FILME "SEM LIMITES"

De Niro relata que ele e Cooper repassaram as falas juntos poucas vezes, geralmente quando o material era reescrito ou quando cenas precisavam ser refeitas.  Essa falta de ensaio é deliberada: De Niro gosta de manter suas interpretações espontâneas, alimentando-as com o trabalho das pessoas a sua volta, em vez de saber exatamente que fala esperar do outro ator.

Ele até mesmo é conhecido por pedir para os co-astros o pegarem desprevenido, saindo deliberadamente do roteiro, ou fazê-lo de modo intencional pessoalmente.

“É uma coisa de reação, algo que surpreende você. Às vezes você nem mesmo previne (o outro ator) - você apenas faz, a menos que seja algum tipo de coisa física complexa, que, se você fizer uso de surpresa, não funcionará. Mas a maioria dos atores em uma situação como essa acompanha, e sabe como acompanhar.”

Começo da carreira e contato com Scorsese

Nova-iorquino filho de dois pintores, De Niro sentiu o desejo de representar desde cedo. “Eu representava quando tinha 10 anos aos sábados, mas não fazia nada profissionalmente. Eu apenas estudava representação. Eu então voltei, quando tinha 15 ou 16, e prossegui até aproximadamente 17. Então parei por algum tempo. Eu estava caindo em uma rotina na minha vida como garoto. Apesar de ser apenas um adolescente, eu disse: ‘Eu preciso retomar meu rumo’. Então decidi me dedicar, quanto tinha aproximadamente 18 anos, a Stella Adler, antes de ingressar na Oficina Dramática.”

Adler, uma das mais famosas professoras de representação dos Estados Unidos, seria uma das duas pessoas mais importantes no desenvolvimento de De Niro. A outra foi o diretor Martin Scorsese, que como De Niro cresceu na Little Italy de Manhattan. Os dois até mesmo se conheciam quando eram meninos, mas perderam contato após a escola. “Deve ter ocorrido nove ou 10 anos depois, quando tínhamos um amigo em comum que era crítico de cinema. Nós nos encontramos com ele e jantamos na casa dele.”

  • Robert De Niro (centro) em cena do filme "Os Bons Companheiros" (1990), uma das várias colaborações com o diretor Martin Scorsese

De Niro tinha assistido ao primeiro filme de Scorsese, “Quem Bate à Minha Porta” (1967) e ficou impressionado. Os dois começaram a discutir aquele que viria a ser “Caminhos Perigosos” (1974), o filme que seria a primeira de suas muitas colaborações, incluindo  “Taxi Driver” (1976), “New York, New York” (1977), “Touro Indomável” (1980), “O Rei da Comédia” (1982), “Os Bons Companheiros” (1990), “Cabo do Medo” (1991), “Cassino” (1995) e “Vivendo no Limite” (1999), o que talvez os torne a parceria diretor-ator mais bem-sucedida no cinema moderno.

“O que é ótimo em Martin é que ele meio que deixa você trabalhar por conta própria" afirma De Niro. "Eu acho que o básico que você precisa de um diretor é que ele saiba como trabalhar com as pessoas - não apenas com os atores, mas com todo o pessoal criativo - e saiba quando guiá-los e quando não.”

De Niro deve saber: ele já foi dirigido por alguns dos maiores nomes do cinema moderno, incluindo Alfonso Cuarón, Brian De Palma, Terry Gilliam, Ron Howard, Barry Levinson, Michael Mann e Quentin Tarantino. Mas é famoso por sua disposição de trabalhar com diretores emergentes em projetos fora do comum.

Planos futuros

  • Robert De Niro como Travis Bickle, o marcante protagonista de "Taxi Driver" (1976)

Já se passaram 35 anos desde que ele interpretou Travis Bickle, o descontente insano que é o personagem título de “Taxi Driver”, mas ele continua sendo seu papel mais marcante, parodiado inúmeras vezes - incluindo certa vez pelo próprio De Niro, em “As Aventuras de Alceu e Dentinho” (2000).

Mas ele pode ainda não ter concluído o papel: De Niro revela que tem brincado com a ideia de se reunir com Scorsese e com o roteirista Paul Schrader para olhar um Bickle décadas mais velho. “Deve ter sido há 10 anos, talvez mais, quando perguntei a Marty e Paul se havia algo que poderíamos explorar em relação ao Travis. Talvez (Schrader) escreva algo. Mas desde então não conseguimos mais nos reunir.”

De Niro ficou atrás da câmera pela primeira vez para dirigir “Desafio no Bronx” (1993). Apesar das críticas elogiosas e do filme ter lançado a carreira do roteirista e co-astro Chazz Palminteri, ele levou 13 anos para dirigir novamente, pilotando Matt Damon e Angelina Jolie no thriller de espionagem “O Bom Pastor” (2006). Ele diz que provavelmente dirigirá mais “dois ou três” filmes em sua vida, incluindo duas sequências para “O Bom Pastor”.

Enquanto isso, ele não carece de coisas para fazer. Como de costume, De Niro tem pelo menos seis filmes atualmente em andamento, incluindo o drama dos direitos civis “Selma”, no qual ele poderá interpretar o governador segregacionista do Alabama, George Wallace.

Em maio, ele presidirá o júri do Festival de Cinema de Cannes, a terceira vez que ocupa o posto de prestígio, e já está planejando o 10º Festival de Cinema de Tribeca, um evento que ele criou para revitalizar a cultura e a economia da Baixa Manhattan, após a destruição do World Trade Center em 2001. O festival tem crescido ano após ano e atualmente é um evento importante, tanto para a cidade quanto para a indústria cinematográfica.

(Karl Rozemeyer é um jornalista free-lance baseado em Nova York.)

Tradutor: George El Khouri Andolfato