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Com Bradley Cooper e Robert De Niro, "Sem Limites" subestima os limites do conhecimento do público

ALESSANDRO GIANNINI

Editor de UOL Cinema

23/03/2011 07h00

Um escritor em início de carreira descobre uma maneira de contornar o bloqueio que o impede de terminar o romance no qual está trabalhando. Após ser descartado pela namorada, ele reencontra o irmão da ex-mulher e este lhe oferece uma solução para os seus problemas.

A solução vem na forma de uma "smart-pill", droga que permite ao usuário ampliar os limites do conhecimento ao facilitar o uso de 100% da capacidade do cérebro. Muito a contragosto, ele aceita a amostra grátis do ex-cunhado e descobre as maravilhas da sabedoria ampla e irrestrita. "Sem Limites", de Neil Burger ("O Ilusionista") - cuja estreia no Brasil está prevista para esta sexta-feira (25) -, não para por aí.

TRAILER DO FILME "SEM LIMITES"

Inspirado em romance de Alan Glynn anteriormente intitulado "The Dark Fields", o filme evolui para uma trama que envolve tráfico de drogas, negociatas no mercado financeiro, chantagem,  perseguição e assassinato. Eddie Morra (Bradley Cooper, de "Esquadrão Classe A") escreve em uma noite metade do livro no qual havia empacado e impressiona sua incrédula editora ao apresentar-lhe os originais.

Mas só isso parece-lhe pouco para as possibilidades que se apresentam. Ele quer mais, muito mais, daquilo que seu cérebro pode oferecer. Aqui está a chave para o tema central dessa história: acesso total ao conhecimento, que leva ao poder total e irrestrito.

Em uma visita ao ex-cunhado, Morra consegue o suprimento necessário para continuar seu plano, mas não avalia as consequências da confusão em que se mete em seguida. De escritor, passa a jogador profissional de pôquer e em pouco tempo vira um verdadeiro tubarão do mercado financeiro. O céu é o limite para ele.

DIRETOR NEIL BURGER FALA SOBRE O FILME "SEM LIMITES"

Neste momento, entram em cena dois personagens fundamentais para a trama: o agiota Gennady (Andrew Howard, de "O Sonho de Cassandra") e Carl Van Loon (Robert De Niro, de "As Duas Faces da Lei"). O primeiro alavanca os negócios do escritor; o segundo lhe oferece uma posição estratégica na sua empresa.

Ao mesmo tempo que melhora de vida e retoma sua relação afetiva com Lindy (Abbie Cornish, de "Brilho de uma Paixão"), Morra se vê envolvido em uma teia de confusões da qual só consegue escapar com ajuda extra, especialmente porque depende de suas pílulas milagrosas para continuar raciocinando.

Sempre que colocado em um beco sem saída, o protagonista parece ser abençoado pela roteirista Leslie Dixon ("Hairspray") com uma solução tão milagrosa e inacreditável quanto a droga que lhe abre as portas da percepção. Isso explica porque o terceiro ato provoca momentos de comédia involuntária e risos nervosos.

Com um elenco excepcional e subutilizado, principalmente no caso de De Niro, Burger faz um belo trabalho de pós produção para destacar a capacidade extrasensorial de seu protagonista e valorizar uma trama repleta de questões não respondidas e de buracos inacreditáveis. É de se perguntar por que razão ele e sua equipe criativa não usaram os 20% a que têm direito de seus cérebros para transformar essa aventura de ação, raciocínio e intriga em algo mais crível e inteligente.