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Amir Labaki, diretor do É Tudo Verdade, diz que os documentários mudaram nos últimos dez anos

Amir Labaki, diretor do festival de documentários É Tudo Verdade, posa para foto em imagem sem data - Divulgação
Amir Labaki, diretor do festival de documentários É Tudo Verdade, posa para foto em imagem sem data Imagem: Divulgação

ALYSSON OLIVEIRA

Do Cineweb

30/03/2011 07h00

Para o jornalista Amir Labaki, diretor do festival de documentários É Tudo Verdade, o gênero está em transformação e, assim, mais receptivo às outras artes. “Isso nunca foi uma novidade. O documentário é mais permeável e dialoga facilmente com áreas como literatura, música, artes plásticas.” Essa interação pode ser conferida a partir da próxima quinta-feira (31), quando a 16ª edição do evento começa em São Paulo, com o longa “Black Power Mixtape”, de Göran Hugo Olsson, sobre o movimento negro nos EUA, na década de 1970. No Rio, o Festival começa no dia seguinte (1/4), com o curta “Imagens do playground” e o longa “... Mas o cinema é minha amante”, ambos do sueco Stig Björkman, sobre a vida e obra do cineasta Ingmar Bergman.

Labaki destaca também que nos últimos dez anos o documentário mudou, e que parte disso é reflexo dos atentados de 11 de setembro de 2001 contra as Torre Gêmeas em Nova York. “Antes daquela data, vivíamos uma fase de filmes mais intimistas. Depois, a política voltou com força total ao gênero. Recentemente, passamos a ver uma intersecção entre as duas vertentes: a forma como a política impacta as vidas individuais, o cotidiano”.

Para estabelecer esse diálogo, o diretor do festival lembra que o documentário também se vale de outras ferramentas, além de entrevistas. “Um dos filmes mais criativos desta edição é o alemão ‘A Onda Verde’, que fala sobre as eleições presidenciais no Irã em 2009 e usa animação e postagens de internet como material”.

Essa modernização do gênero documental, por assim dizer, pode ser tanto causa, quanto consequência de sua popularização – especialmente no Brasil. “Os realizadores que fazem sucesso são aqueles que dialogam com o público. O número de documentários que chega ao circuito comercial sempre será menor do que o de ficção, mas não quer dizer que a produção não aumente a cada ano”. Especialmente por conta da facilidade de se fazer um documentário – em tese, basta uma câmera digital e um assunto. “Mas é preciso tomar cuidado para não se banalizar”.

Temas variados

No Festival de 2011 há de tudo – menos filmes banais. A gama de temas, personagens e propostas da seleção competitiva e das mostras especiais reflete os caminhos da produção contemporânea, bem como resgata obras do passado, algumas raras e esquecidas, como um curta de Humberto Mauro sobre Castro Alves que faz parte da Retrospectiva Brasileira, integrada por 15 títulos em torno de poetas e escritores nacionais.

A retrospectiva da cineasta russa Marina Goldovskaya, com nove títulos, é a maior já dedicada a ela no mundo. Além de exibir o filme mais recente da diretora – o inédito “O Gosto Amargo da Liberdade”, sobre a ativista e jornalista Anna Politkovskaya –, o festival trará a cineasta ao Brasil para participar de debates com o público. “Essa é a terceira vinda dela, que participou da 1ª edição do Festival, e também já foi jurada. Ela filmou como ninguém a derrocada do regime soviético e a transição com Boris Yeltsin e Vladmir Putin”. Fora isso, Labaki também ressalta que a obra de Marina reflete as mudanças técnicas do cinema: “Ela começou a filmar nos anos de 1970 com câmeras enormes, pesadas e agora também usa as digitais, mais leves”.

ATRAÇÕES EM SP E NO RIO

O festival acontece em 5 salas em São Paulo: Cine Livraria Cultura, Centro Cultural Banco do Brasil, Cinemateca Brasileira, Reserva Cultural e Cinemark Eldorado.

No Rio, são sete salas: Unibanco Arteplex, Centro Cultural Banco do Brasil, Instituto Moreira Salles, Estação Museu da República, Ponto Cine Guadalupe, Cinemark Downtown e Auditório BNDES. Todas as sessões do É tudo verdade são gratuitas.

Para o pôster da 16ª edição do Festival, Labaki escolheu uma fotografia assinada pelo cineasta Jorge Bodanzky, mais conhecido por filmes como “Iracema – Uma Transa Amazônica” e “No Meio do Rio entre as Árvores”, exibido no É Tudo Verdade do ano passado. “Sempre quis levar ao público a produção fotográfica dele, que é pouco conhecida. O Bodanzky se aproximou das artes pela fotografia”. A imagem foi feita em Brasília, em meados dos anos de 1960, quando ele ainda era estudante da UnB, e mostra a rodoviária da cidade – quando era bem mais tranquila do que atualmente.

Já no sentido de discutir a produção documental, com realizadores, estudantes e o público, o festival propõe uma série de debates e conferências. Entre 7 e 9 de abril, acontecerá na Cinemateca Brasileira (SP), a 11ª Conferência Internacional do Documentário, que tem como tema a utilização da entrevista nesse gênero de cinema.

Com toda a programação gratuita, o festival leva às duas cidades o mais recente da produção documental, além de retrospectivas e debates. As mostras acontecem em 12 salas espalhadas entre São Paulo e Rio, até o dia 10 de abril. Para mais informações, sobre os filmes, debates e programações, acesse o site oficial do evento: http://www.itsalltrue.com.br/2011/index.asp