Topo

Mistura de gêneros caracteriza cinema indiano; veja lista com sugestão de 10 filmes para assistir

ANTONIO FARINACI

Colaboração para o UOL

09/04/2011 08h00

A indústria cinematográfica indiana é não apenas a maior do mundo, mas também uma das mais tradicionais, com registros que datam do final do século 19. Através do anos, o cinema indiano criou um estilo que foi denominado "masala", termo usado para designar uma mistura de temperos típicos do país.

Assim como na gastronomia, o estilo masala no cinema é também uma mistura —de diversos gêneros em um mesmo filme: musical, drama, comédia, ação e até crítica social. Embora o país produza outros gêneros de filmes (às vezes chamados de "cinema paralelo"), é essa mistura que caracteriza de maneira geral o cinema indiano e é essa forma como ele é mais lembrado no Ocidente. O estilo se confunde com o rótulo Bollywood, que é a denominação de apenas uma das regiões da Índia a produzir filmes.

Para dar comportar tanta variedade de estilos e as ramificações intermináveis de roteiro, os longas indianos costumam ter maior duração do que os longa-metragens ocidentais, que geralmente não ultrapassam 120 minutos. Filmes indianos podem facilmente chegar a três horas (ou mais) e ainda ter um intervalo no meio. E para não cair no tédio, dá-lhe cenas de dança.

Outra característica é o recato das interações entre amantes. Apenas em anos mais recentes, beijos na boca entre casais passaram a ser mostrados, e, mesmo hoje, cenas de sexo ficam apenas subentendidas. Ainda assim, é comum cenas musicais sob a chuva, em que a heroína fica com o sári completamente molhado e mais colado ao corpo —mas nunca explicitamente revelador.

Veja abaixo uma lista com sugestão de 10 títulos indianos para começar sua coleção. Poucos deles foram lançados oficialmente no Brasil, mas é possível encontrá-los em sites especializados de download.

 

DICAS COM 10 FILMES

"Mãe Índia ("Mother India", Mehboob Khan, 1957): Superprodução indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro, traz Nargis no papel principal. A atriz, morta em 1981, é até hoje uma das personalidades mais queridas de Bollywood. No set de filmagem, ela conheceu Sunil Dutt, com quem se casou na vida real (no filme ele fazia o papel de seu filho). O filme conta a história de uma família de agricultores que é oprimida por um agiota do vilarejo onde moram. Clássico da época de ouro do cinema hindu,"Mãe Índia"mistura romance, crítica social, musical e melodrama num filme excepcional. Tem edição nacional.
"Sholay" (G.P. Sippy, 1975): Este filme é uma proeza que mistura bangue-bangue, comédia, drama, musical e romance, de uma maneira como só os indianos sabem fazer, com números de dança e tiroteio. A trilha sonora também é imperdível, e traz uma mistura de música hindu tradicional com trilha de cinema ao estilo faroeste italiano. No elenco, apenas figurões de Bollywood, como Amitabh Bachchan, Dharmendra, Sanjeev Kumar e Hema Malini.
"Salaam Bombay" (Mira Nair, 1988): Como forma de vingança, o garoto Krishna ateia fogo na motocicleta de seu irmão, que vivia a perturbá-lo. A mãe, furiosa, entrega o menino para um circo e diz que ele só pode voltar para casa quando conseguir juntar 500 rupias, para uma moto nova. Um dia, no entanto, Krishna é abandonado pelo circo numa cidade de interior e resolve pegar um trem para Bombaim. Lá ele encontra outras crianças de rua e arruma um emprego de vender chá num prostíbulo. Com um elenco que mistura atores profissionais e crianças de rua, o filme da cineasta Mira Nair é um retrato sensível dos excluídos da sociedade indiana. Shafiq Syed, o ator que interpretou Krishna e chegou a receber uma medalha do presidente da Índia por seu trabalho no filme. É encontrado em locadoras brasileiras.
"Dilwale Dulhania Le Jayenge" (Aditya Chopra, 1995): Este filme entrou para o livro dos recordes por ter permanecido ininterruptamente em cartaz por mais de 15 anos. O título quer dizer mais ou menos:"Quem estiver apaixonado fica com a noiva". Simran (a superstar Kajol) é filha de uma tradicional família hindu que vive em Londres e preserva seus costumes. Seu casamento foi arranjado pela família com um"bom rapaz"indiano, que ela nunca viu e que virá buscá-la. Antes do casamento, porém, ela convence o pai a deixá-la fazer uma viagem pelo continente europeu. Lá, ela encontra Raj (Shah Rukh Khan), um indiano ocidentalizado com quem viverá uma série de aventuras. Ao voltar para Londres, ela não tem mais certeza de que vai aceitar o casamento arranjado. Muitos desencontros, histórias paralelas, números musicais e danças na chuva, bem ao gosto do estilo masala.
"Dhoom 2" (Sanjay Gadhvi, 2006): Filme indiano que mais faturou no exterior, Dhoom é uma série de ação à la"Missão Impossível", e até a programação visual do título conspira para fazer essa aproximação. Neste episódio, os heróis vão ao Rio de Janeiro para tentar capturar o ladrão"Mr. A.", que gosta de fazer ações complicadas em que usa apetrechos tecnológicos criados especialmente por ele. Por ter muitas cenas gravadas no Brasil, o filme é no mínimo curiosos para brasileiros. Numa passagem, os personagens estão numa arquibancada da Sapucaí, enquanto Mr. A. desfila numa escola de samba. A música que toca ao fundo, no entanto, é uma espécie de rumba acelerada. Em outra passagem, acontece um número musical sobre uma versão irreconhecível de"O Que É, o Que É", de Gonzaguinha.
"Taare Zameen Paar" (Aamir Khan, 2007): Dirigido e estrelado por Aamir Khan, o filme conta a história de Ishaan, um garoto de oito anos que não tem amigos e vai mal nos estudos. Decepcionados com seu rendimento escolar, os pais decidem mandá-lo para um internato. Lá, um de seus professores se dedica a ajudá-lo no aprendizado e a desenvolver seus talentos. O filme foi exibido no festival de cinema do Rio de Janeiro em 2009, com o título"Somos Todos Diferentes". Com números musicais que estão mais para videoclipes do que para a Bollywood tradicional, o filme faz parte de uma nova leva do cinema hindu.
"Shootout at Lokhandwala" (Apoorva Lakhia, 2007) e "Shot in Mumbai" (Liz Mermin, 2008):"Shootout at Lokhandwala"é baseado na história verídica do tiroteio que aconteceu num bairro residencial de Mumbai, em 1991, em que 100 policiais invadiram um condomínio, deram mais de 450 tiros e mataram sete pessoas, entre elas integrantes de uma gangue. O filme seria apenas mais um policial se o seu astro principal, Sanjay Dutt, não estivesse respondendo, na vida real, a um processo por porte ilegal de arma e suspeita de envolvimento nos ataques terroristas de Mumbai em 1993. Todo o processo de julgamento do ator e as controvérsias geradas sobre o enfoque dado ao tiroteio de Lokhandwala estão registrados no documentário"Shot in Mumbai". Assistir aos dois filmes na sequência dá um insight precioso de Bollywood e seu submundo.
"Love Aaj Kal" (Imtiaz Ali, 2009): O filme conta a história de dois casais, um contemporâneo, outro dos anos 60. No papel da recatada Harleen, uma típica mocinha interiorana da Índia, está Giselli Monteiro, primeira atriz brasileira a ter destaque em Bollywood. Segundo o diretor do filme, ela foi escolhida por ter a cara perfeita de uma jovem indiana dos anos 60."É inacreditável, testei atrizes de toda a Índia e acabei escolhendo uma brasileira", contou o diretor do filme, Imtiaz Ali, ao jornal"Times of India". Como a atriz não falava hindi, suas participações foram todas dubladas.
"3 Idiots" (Rajkumar Hirani, 2009): Este filme bateu o recorde de audiência histórico de Bollywood, e arrecadou mais de US$ 4 bilhões. Estrelado por Aamir Khan (no papel de Rancho), um dos maiores astros indianos, o filme conta a história de três colegas de faculdade que se encontram depois de 10 anos para saber que rumos tomou a vida de cada um. O filme trata ainda do suicídio de jovens em universidades, um assunto que preocupa os indianos, uma vez que o país é o primeiro entre suicídios desse tipo. O filme traz também a bela Kareena Kapoor (no papel de Pia) como par romântico de Khan.
"Dhobi Ghat (Mumbai Diaries)" (Kiran Rao, 2010): Com enredos entrecortados que fazem lembrar o cineasta americano Robert Altman, este filme é um exemplo do cinema independente de Bollywood: Não há garantias de final feliz, cenas de ação nem números musicais. O filme marca a estreia da diretora Kiran Rao. A produção ficou a cargo de seu marido, Aamir Khan, que também faz um papel no filme, como um pintor recluso. No mais, o elenco traz apenas nomes novos, como o galã Prateik Babbar (foto) e as atrizes Monica Dogra e Kriti Malhotra. O filme deve passar na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo este ano.