Filme austríaco sobre pedofilia causa novo choque no Festival de Cannes
Depois do britânico "Precisamos Falar Sobre Kevin", com um adolescente que promove um massacre em sua escola, foi a vez de um filme sobre pedofilia chocar o Festival de Cannes neste sábado. O austríaco "Michael", primeiro filme de Markus Schleinzer, mostra os últimos meses na vida do personagem-título, um homem aparentemente comum de 35 anos que mantém um menino de 10 anos em cativeiro em sua casa.
"Michael" talvez seja o melhor filme sobre a pedofilia até hoje, por abordar o tema de forma fria e distanciada, sem simpatizar nem condenar o personagem. A rotina de Michael com Wolfgang, o menino, é mostrada no seu dia-a-dia: lavam o banheiro juntos, montam um quebra-cabeça, às vezes saem para algum passeio de fim de semana. O menino às vezes vê TV. Nenhuma cena mais explícita é mostrada.
"A pedofilia é quase sempre tema dos jornais sensacionalistas. Essa constatação me assustou e quis tentar buscar novas respostas e abordar o tema de maneira franca, o que a ficção no cinema permite", explicou o diretor. "Reconhecer a existência do pedófilo no meu filme não significa nem perdoar, nem condenar. Isso é tarefa da justiça".
Doutor Fritzl
"Michael" remete imediatamente à história do austríaco Joseph Fritzl, preso em 2008 por manter a filha presa por 24 anos em sua própria casa e ter tido sete filhos com ela. Mas Schleinzer nega que tenha se inspirado nesse caso ou em qualquer outro.
O estilo seco e cortante do filme remete diretamente ao mais célebre diretor austríaco, Michael Haneke, para o qual Schleinzer trabalhou como diretor de elenco em filmes como "A Professora de Piano". Foi ele também o responsável pela preparação impecável das crianças do filme "A Fita Branca", de Haneke, que venceu a Palma de Ouro em Cannes em 2009.
Seu primeiro filme é uma grande estreia e deve marcar seu batismo de fogo nas trilhas negras e tortuosas do cinema austríaco.
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