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Lars Von Trier diz ter orgulho de ser banido de Cannes e anuncia filme pornô

THIAGO STIVALETTI

Colaboração para o UOL de Cannes

20/05/2011 14h02

Em entrevista para um pequeno grupo de jornalistas hoje em Mougins, a apenas 7 quilômetros de Cannes, o diretor dinamarquês Lars Von Trier já estava mais relaxado quanto a sua expulsão do Festival de Cannes, anunciada nesta quinta-feira pela direção do festival, por ter se declarado nazista em tom de brincadeira na entrevista coletiva de seu filme “Melancolia”. “Esse banimento é uma coisa da qual me orgulho. Tenho certeza que, se meus pais estivessem vivos, também estariam orgulhosos de mim.”

Von Trier brincou sobre a expulsão. “Fiquei sabendo que tenho que manter uma distância de 100 metros do Palácio dos Festivais. No domingo, acho que vou ficar do lado de fora fazendo sinais para saber se o filme foi premiado.”

Estragando a própria festa

O cineasta reiterou mais uma vez que não tem convicções nazistas e que fez as declarações em tom de brincadeira, sem querer ofender ninguém. Para não correr o risco de novas polêmicas, ele decidiu que não quer mais participar de entrevistas coletivas. “Acabo de descobrir o que significa a expressão ‘estraguei minha própria festa’ (I pissed on my chips, em inglês). Eu fico nervoso e me ponho a falar o que não devo. Não falei isso pra machucar as pessoas. Essa situação está prejudicando meu filme e minha produtora.”

Mas o diretor defendeu sua liberdade de expressão. “Mesmo que o cineasta seja um criminoso, seu filme precisa estar no festival. Eu disse que simpatizava com Hitler porque consigo entender sua figura humana. A melhor coisa do filme com o Bruno Ganz (o alemão A Queda! As Últimas Horas de Hitler, de 2004) é conseguir retratar Hitler como um ser humano. Sei que, para muitas pessoas é mais confortável pensar que a culpa é toda de Hitler, e que se ele não tivesse nascido, tudo teria se passado bem.”

Uma curiosidade: Von Trier escreveu “Melancolia” tendo em mente Penélope Cruz no papel da noiva melancólica, mas a atriz não conseguiu conciliar sua agenda e teve que sair do projeto, como aconteceu com Nicole Kidman em “Manderlay”. Foi substituída por Kirsten Dunst, que foi recomendada a ele por Paul Thomas Anderson, diretor de “Magnólia” e “Sangue Negro”.

Pornô com história

No começo todo mundo achou que era mais uma de suas piadas, mas Von Trier está realmente engajado em fazer de seu próximo filme um pornô. A ideia é ter diversas atrizes de idades variadas encenando as experiências sexuais de uma mesma personagem da infância à velhice. A história será narrada pela mulher já mais velha, recordando suas lembranças. “Não consigo falar de erotismo sem mostrar penetração, acho que essa é uma parte fundamental da experiência erótica. Mas prometo que não será chato como os filmes eróticos que vemos na TV”.

Segundo ele, seu desafio será envolver o espectador numa atmosfera de excitação diferente e mais forte do que os filmes pornôs comuns. Outra grande diferença: misturar o sexo carnal com reflexões sobre o mundo espiritual, entre elas um questionamento sobre as Igrejas no Ocidente e no Oriente, com “lampejos do Espírito Santo que transmitem uma sensação de satisfação espiritual”. Nem Deus sabe o que virá por aí, mas pode-se aguardar mais uma obra de gênio pela frente.

Lars von Trier choca Cannes ao dizer ser "nazista"O cineasta Lars von Trier voltou a sacudir Cannes em 18/5 ao dizer que simpatizava com Hitler e era nazista. Após a entrevista, ele voltou atrás e se desculpou.

Lava e cipó

Dois filmes com pinta de blockbuster foram confirmados aqui em Cannes para estreia no Brasil. A distribuidora Imagem comprou os direitos de “Pompeia”, épico sobre a erupção do monte Vesúvio com direção de Paul W.S. Anderson (o mesmo da série “Resident Evil”). E também a animação “Tarzan 3-D”, do mesmo diretor de “Animais Unidos Jamais Serão Vencidos”. Ambos ainda estão em fase de produção.

E o prêmio vai para...

Na reta final do festival, que termina neste domingo, começam a sair os primeiros filmes premiados. Na Semana da Crítica, o americano “Take Shelter”, de Jeff Nichols, filme fascinante sobre um homem em crise que começa a ter visões do Apocalipse, venceu o Grande Prêmio do evento e outro da SACD, a associação dos autores da França. O argentino “Las Acacias”, de Pablo Giorgelli, ficou com o prêmio da crítica jovem.

Na seção Cinéfondation, que reúne curtas-metragens de estudantes, o júri presidido por Michel Gondry (diretor de “Brilho Eterno...”) deu o Primeiro Prêmio para um curta alemão: “Der Brief” (A carta), de Doroteya Droumeva.