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"Todo mundo já foi uma figura decorativa", diz Catherine Deneuve em São Paulo

Catherine Deneuve fuma durante lançamento do filme "Potiche - Esposa Troféu" em São Paulo (8/6/11)  - Fábio Guinalz/Fotoarena
Catherine Deneuve fuma durante lançamento do filme "Potiche - Esposa Troféu" em São Paulo (8/6/11) Imagem: Fábio Guinalz/Fotoarena

ALYSSON OLIVEIRA

Do Cineweb

08/06/2011 15h59Atualizada em 08/06/2011 20h17

A convite da distribuidora Imovision, a atriz francesa Catherine Deneuve está em São Paulo para divulgar o filme "Potiche - Esposa Troféu", com estréia prevista para o próximo dia 24. No longa dirigido por François Ozon, a diva é uma madame casada com um empresário, e não passa de um figura decorativa. Mas chega um momento que sua vida sofre uma reviravolta.

Sempre bem-humorada e fumando dentro do ambiente fechado, numa evidente contravenção à lei municipal antifumo, Catherine não se esquivou de perguntas. Falou do relacionamento com a filha, Chiara Mastroianni, com quem já fez alguns filmes, entre eles, o recente “Les Bien-Aimés”, exibido no encerramento do Festival de Cannes, no mês passado, e no qual interpretam mãe e filha. “Foi mágico, nunca tínhamos trabalhado tão próximas. Temos uma relação muito boa, moramos perto, nos vemos sempre, mas não sou a melhor amiga dela”.

Sobre sua personagem em "Potiche", Deneuve foi bem direta. “Todo mundo na vida já foi um ‘potiche’, uma figura decorativa, tanto os homens quanto as mulheres. A gente se torna apenas um objeto bonito”, disse a musa, que namorou o ator Marcello Mastroianni e o diretor Roger Vadim, entre outras personalidades do cinema.

Catherine vai mais a fundo, opinando que a transformação pela qual sua personagem passa no filme é um reflexo do mundo atual. “Acredito que, hoje em dia, existem muitos homens que ficam ao lado de mulheres fortes e não podem manifestar suas opiniões. As mulheres trabalham muito, estão se destacando. Há uma mulher governando o Brasil e quase tivemos uma presidente na França. Mas ainda existe muita injustiça no mercado de trabalho. Ainda bem que as feministas estão aí para que isso mude”.

Nos anos de 1960 e 1970, Catherine se tornou um ícone de beleza e um dos símbolos do cinema e do glamour francês. Atualmente, ela conta que suas personagens são “mulheres mais comuns”, mas nem por isso desprovidas de poesia, em filmes como “Potiche - Esposa Troféu” e “Conto de Natal”, de Arnaud Desplechin. “Para mim, elas não são tão comuns, são pessoas especiais. Quando você as olha de perto, são muito particulares e únicas”.

Para ela, trabalhar com cineastas como François Ozon (com que também fez “8 Mulheres”) e Christophe Honoré é a chance de estar ao lado do jovem cinema francês. “Antes de serem diretores, eles são muito cinéfilos. O cinema deles é bastante realista, ao contrário, por exemplo de Jacques Demy [com quem ela fez “Os Guarda-Chuvas do Amor”], que era mais fantasioso, mais próximo da fábula. Ele fazia musicais também, mas eram muito melancólicos, as pessoas cantam, mas não são alegres”.

Em “Potiche - Esposa Troféu”, Catherine volta a contracenar com Gérard Depardieu, com quem fez, entre outros “O Último Metrô”, de François Truffaut. “Fizemos vários filmes juntos ao longo dos anos, mas as pessoas parecem se lembrar apenas deste [“O Último Metrô”]. Foi um reencontro muito divertido. Ozon usou nosso passado cinematográfico e remeteu à nossa juventude”.

TRAILER DE ''POTICHE - ESPOSA TROFÉU''

Com quase 70 anos, Catherine ainda é um ícone, e diz que sua beleza é genética. “Minha mãe é uma senhora idosa e ainda é muito bonita. Eu não sou de ficar me cuidando o tempo todo. Tomo muita água, como legumes, evito sol, mas não faço isso o tempo todo”.

O bom humor da atriz não se abalou nem com perguntas pouco pertinentes, como quando uma revista de celebridade insinuou que ela havia exigido 400 toalhas e um chef exclusivo para cozinhar para ela.

“Por favor, vocês me contem quais foram as minhas exigências para eu poder aproveitá-las”, brincou. “Ainda tenho uns dias no Brasil, quero desfrutar de tudo o que disseram que eu pedi. Quem deve fazer esse tipo de exigência é a Sharon Stone, eu não sou assim. Minhas extravagâncias são particulares”.

Antes de sua estréia, no final do mês, o longa "Potiche - Esposa Troféu" será exibido no 4º Festival Varilux de Cinema Francês.