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"Fiz um filme pensando em respeitar a inteligência do público", diz Selton Mello sobre seu novo longa "O Palhaço"

Selton Mello participa de entrevista coletiva no Festival de Cinema de Paulínia (9/7/2011) - AgNews
Selton Mello participa de entrevista coletiva no Festival de Cinema de Paulínia (9/7/2011) Imagem: AgNews

ALYSSON OLIVEIRA<br>Do Cineweb, de Paulínia

09/07/2011 18h16

A noite dessa sexta-feira foi histórica no Paulínia Festival de Cinema, quando foi exibido o segundo filme dirigido por Selton Mello, "O palhaço". O longa bateu o recorde de maior público que o evento já teve – tanto que foi necessário fazer uma segunda projeção após a exibição oficial, devido à grande demanda.  Segundo dados do evento, 1800 pessoas assistiram à primeira sessão, enquanto cerca de outras mil acompanharam a segunda.

“Não podia ter sido uma recepção melhor do que essa”, disse o ator e diretor em entrevista ao UOL Cinema na tarde de sábado. “Mas precisamos tomar isso com cautela, afinal, o filme foi rodado no Polo cinematográfico de Paulínia e conta com um  carinho especial da população”.  A julgar pela sessão do filme no Festival,  “O palhaço” consegue facilmente se comunicar com o público.  

TRAILER DO FILME "O PALHAÇO"

No longa, o próprio Selton é o personagem-título, um palhaço de circo mambembe que está meio deprimido e não acha graça em nada na vida – sua única obsessão é comprar um ventilador. Paulo José interpreta o dono do circo, pai do protagonista, e também trabalha como palhaço. Os dois têm uma relação um tanto delicada. Um dos grandes acertos do filme está na química entre os dois atores.

Selton estreou na direção de longas com “Feliz Natal”, e foi premiado, no 1o Paulínia Festival de Cinema, em 2008. Agora, visivelmente mais maduro, o diretor explica que teve uma ‘sensação de liberdade reconfortante’. “Busquei inspiração em Jacques Tati, nas pinturas de Chagal, em Macunaíma. Foi em tanta coisa, mas se amarras, sem obrigações”.

Para ele, o que importava mesmo era fazer um filme que não agredisse à inteligência dos espectadores. “Eu queria fazer um filme que se comunicasse com todos os tipos de público – desde aqueles que gostam de cinema mais popular até aos que preferem filmes de arte. Pensei muito nisso porque o cinema brasileiro tem feitos filmes lindos, mas poucos vistos. Por isso eu queria fazer um filme profundo, mas simples. O cinema é arte de dizer muito com pouco”.

Para Selton, o personagem do pai não podia ser feito por outro ator que não Paulo José. “Para mim, ao lado de José Dummont, ele é o maior ator brasileiro de todos os tempos. Foi um interlocutor de alto nível, que me inspirou muito”.  Já para o protagonista, Selton chegou a convidar dois outros atores que não puderam fazer o filme, então ele mesmo acabou assumindo o papel. “Durante as filmagens, minha preocupação era a direção. Para fazer o Benjamim [seu personagem], eu só colocava a roupa e entrava em cena.”

Para fazer seu filme, Selton, que também assina o roteiro (coescrito com Marcelo Vindicatto)  conta que foi buscar nas memórias de sua infância personagens e atores. “Muito do protagonista vem do Didi Mocó [famoso personagem de Renato Aragão], e muito veio de outras lembranças”. Tanto que no elenco estão ícones dos da televisão brasileira, como o humorista Jorge Loredo, o eterno é Zé Bonitinho, o garoto-propaganda Ferrugem, e o cantor e apresentador Moacyr Franco , cuja participação hilária em “O palhaço” foi aplaudida durante a projeção.

A outra homenagem, essa não tão explicita, é à cidade mineira de Passos, terra natal de Selton. Seu personagem sonha em ir para lá, encontrar uma moça que conheceu  depois de uma apresentação do circo de seu pai. “Não sei se homenageei ou denegri a cidade”, brinca o ator se referindo ao destino de seu personagem quando chega lá. Mas apesar de todas essas referencias e homenagens, ele conta que o filme não tem nada de autobiográfico. “Se fosse minha biografia, eu mesmo sairia na metade”.