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"O cinema me ajuda a sobreviver", diz Lúcia Murat no festival de Paulínia

ALYSSON OLIVEIRA

Enviado especial a Paulínia

09/07/2011 16h09

Conhecida diretora de documentários e ficção, Lúcia Murat apresentou no 4º Paulínia Festival de Cinema “Uma longa viagem”, filme que transita entre a encenação, documentação e lembranças de sua própria família. Ao centro estão Lúcia e seu irmão Heitor – duas pessoas que nos anos 1970 tomaram caminhos distantes, e, ao mesmo tempo tão próximos. No final da manhã de sábado (8), a diretora afirmou durante uma coletiva de imprensa que o filme foi uma espécie de catarse, e que o cinema a ajuda a sobreviver.

Durante o período mostrado no filme, Lúcia é uma presa política e Heitor viaja pela Europa e Ásia, se envolvendo nas mais diferentes experiências, inclusive com drogas. ‘’Éramos dois representantes daquela época. Eu, na luta política, e ele, no movimento do desbunde”, conta a diretora. No filme, Heitor aparece dando depoimentos que a diretora gravou nos dias atuais, e Caio Blat encena-o quando jovem, época em que morava fora do Brasil e mandava cartas para a família. “Fazer esse filme  foi um processo muito peculiar, e longo. Terminamos na semana passada apenas. Foram varias idas e vindas da ilha de edição”.

Lúcia, que tem em seu currículo filmes como “Que bom te ver viva”e “Quase dois irmãos”, diz que as centenas de cartas enviadas por Heitor foram editadas e mostram bem o trajeto desse rapaz que "se deslumbrou com Londres, e depois, pirou na Índia".  “O Caio soube como o levar para as telas, a interpretação dele é marcante. E eles se acabaram se tornando amigos”.

Atualmente, Heitor faz tratamento para esquizofrenia. Lucia disse que ele não quer ver o filme pronto. “Ele passa no nosso escritório e pede para ver um trecho, depois vê mais outro. Mas acho que um dia ele vai acabar vendo o filme completo”.  No documentário mesmo, a diretora mostra o dilema que foi para ela e seu irmão, Miguel, que já morreu, decidir internar Heitor anos atrás. “A sociedade marginaliza muito os esquizofrênicos. Hoje os tratamento são melhores, não se tranca as pessoas, mas eles não são vistos com bons olhos”.

“Uma longa viagem” é um documentário delicado e muito corajoso, no qual Lucia expõe feridas abertas não apenas de sua história – mas também do Brasil. Atualmente, a diretora procura uma distribuidora para lançar o filme em cinema. Ela já tem os direitos autorais das músicas que aparecem no longa, que são de artistas como Janis Joplin, Jefferson Airplane e The Band – além de cenas de filmes como o australiano “Sansão e Dalila”, “Tabu”, de W. F. Murnau e “A chinesa”, de Jean-Luc Godard. “Foi muito mais fácil e barato conseguir direitos de músicas estrangeiras do que das nacionais. Tivemos de tirar uma dos Mutantes porque teríamos de pagar um valor muito alto para a canção aparecer tão pouco no filme.”