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Bem dirigido, filme vetado em festival no Rio de Janeiro é calculado para causar polêmica

Cena de "The Serbian Film" - Reprodução
Cena de "The Serbian Film" Imagem: Reprodução

SÉRGIO ALPENDRE

Colaboração para o UOL, de São Luís (MA)

22/07/2011 15h31

Ao final da projeção de "Um Filme de Terror" (título provisório), uma das principais atrações do I Festival Internacional Lume de Cinema, em São Lúis/MA, voltamos àquela velha dúvida que vira e mexe nos assombra: podemos aprovar uma coisa desse tipo? Mais do que violento, o tal "filme sérvio" é perverso. Mais do que crítico e perturbador, é daqueles estrondos que abalam nossas certezas.

A história vai se abrindo gradualmente à toda sorte de perversidade sexual imaginável. Um ator pornô aposentado, agora casado e com um filho criança, recebe uma proposta milionária para um novo filme pornográfico sem roteiro. Ele não saberia nada do que iria se passar, a não ser na hora em que estaria filmando.

Aos poucos, percebe que se meteu numa roubada, uma produção que promete ir até o fim no enfrentamento de tabus. Quando tenta abandonar o projeto é drogado (um viagra para touros, segundo dizia a tradução do diálogo sérvio), e realiza todas as fantasias sexuais doentias de seus empregadores.

Não dá para adiantar de que tipo de perversões estamos falando. Outros lugares já entregaram do que se trata, não convém repetir aqui. Evitemos o sensacionalismo para tentar mergulhar no X da questão.

TRAILER DO FILME "SERBIAN FILM - TERROR SEM LIMITES"
Atenção, cenas fortes

É inegável que se trata de uma obra muito bem pensada, estrategicamente calculada para causar polêmica e questionar tabus, inteligentemente questionadora e filmada de um jeito clássico, elegante até, exceto por uma ou outra cena mais barra pesada (acompanhada pela câmera, que treme como em "Irreversível"). É justamente essa elegância, esse bom artesanato, que impressiona e nos deixa com a pulga atrás da orelha.

Se fosse porcamente filmado, seria fácil descartá-lo como mais um filme que tenta o choque pelo choque. A habilidade da direção, pelo contrário, fortalece o aspecto de crítica. A frieza com que são filmados todos os momentos em que nada de grotesco acontece chama a atenção para aquilo que não queremos ver, mas que está mais do que nunca presente em nossa sociedade.

Não é só na Sérvia. A crueldade de uma geração que já se descobriu além dos limites aparece até nos lugares mais estranhos, no seio de sociedades conservadoras ou de elites sádicas. Mas na Sérvia parece que a coisa é pior. Os tempos sangrentos que assolaram a região abriram a porteira dos infernos, pelo que podemos ver.

Por que, então, não aceitaríamos ver as atrocidades que graçam no mundo, e principalmente nesse país sofrido, na tela de cinema? Deve existir limite dentro da arte? É uma pergunta feita dentro do filme, e sobre ele também. Uma outra pergunta pode ser feita: é necessário vermos isso na tela para nos revoltarmos contra o estado das coisas? À cada leitor, a resposta.