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Gramado dá a largada com recorte mais intimista e debate sobre censura a filme sérvio

NEUSA BARBOSA

Do Cineweb

04/08/2011 07h00

Começa nesta sexta-feira (5) a 39ª edição do Festival de Gramado, com a tradicional expectativa de baixas temperaturas – a previsão gira em torno de 5 graus para este final de semana – e uma seleção de filmes mais intimistas, contrastando com o ano passado, quando predominou uma safra de temática política. O festival prossegue até 13 de agosto.

  • Reprodução

    Cena de "A Serbian Film"

Em compensação, um tema político que levou a uma modificação na programação de Gramado, o impedimento à circulação de “A Serbian Film – Terror sem Limites”, de Srjdan Spasojevic, foi incorporado num seminário dentro do festival, tendo como título "A censura voltou? O veto ao longa 'A Serbian Film' em questão". Promovido pela ACCIRS (Associação de Críticos de Cinema do RS) e a Abraccine (Associação Brasileira de Críticos de Cinema), o evento acontece neste sábado, às 15h, no Hotel Serra Azul.

O filme sérvio, que foi exibido anteriormente no Festival Internacional Lume de Cinema, em São Luís, e no Fantaspoa - Festival Internacional de Cinema Fantástico de Porto Alegre, não pode ser exibido no RioFan, no Rio de Janeiro, e teve sua cópia apreendida. Sua classificação etária e liberação ainda se encontram pendentes no Ministério da Justiça.

Participarão do debate em Gramado Frederico Machado (diretor da Lume Filmes e do Festival Internacional Lume de Cinema), João Pedro Fleck (diretor do Fantaspoa ), Luiz Zanin Oricchio (crítico de cinema e presidente da Abraccine), Roger Lerina (crítico de cinema e presidente da ACCIRS) e Davi Pires (diretor do Departamento de Justiça, Classificação, Títulos e Qualificação do Ministério da Justiça).


Filmes e homenagem

Na noite de abertura, a primeira atração é a comédia dramática “O Palhaço”, segundo trabalho na direção de Selton Mello, também protagonista do longa – que conta a história de dois palhaços, pai (Paulo José) e filho (Selton). Premiado no recente Festival de Paulínia – com os troféus de melhor diretor, roteiro, figurino e ator coadjuvante (Moacyr Franco) -, o novo trabalho de Selton, fora de competição, está vinculado a uma homenagem especial oferecida ao ator na Serra Gaúcha.

O primeiro concorrente aos Kikitos, o longa carioca “Riscado”, do estreante Gustavo Pizzi, teve sua première no ano passado, no Festival do Rio, de onde saiu com o prêmio de melhor atriz para Karine Teles – que interpreta justamente uma atriz enredada numa série de desafios pessoais e profissionais.

Ainda que Gramado tenha selecionado um outro filme premiado em Paulínia este ano – o documentário “Uma longa viagem”, de Lúcia Murat - nem por isso o festival deixará de ter maioria de concorrentes inéditos no País, tanto na seção nacional, quanto na seção estrangeira.

Apostas nacionais

Algumas das maiores expectativas, entre os filmes de ficção, estão no novo longa do premiado diretor pernambucano Paulo Caldas. O codiretor de “Baile Perfumado” apresenta agora “O País do Desejo”, drama que desenvolve o dilema de uma pianista (Maria Padilha), acometida por uma doença incurável, o que a leva de encontro a um embate entre fé e ciência. No elenco, estão Gabriel Braga Nunes e Fábio Assunção.

“Ponto Final”, do carioca Marcelo Taranto (diretor de “A hora marcada”), é outro concorrente entre as ficções. O enredo acompanha o impasse de um executivo diante da violência sofrida por sua filha.  No elenco, Roberto Bontempo, Hermila Guedes (“Assalto ao Banco Central”), Othon Bastos e Silvio Guindane (“Bróder”).

Único concorrente gaúcho desta seção, o romântico “O carteiro”, de Reginaldo Faria (homônimo do ator fluminense), acompanha as aventuras de um jovem carteiro (Carlos André Faria) que costuma violar a correspondência alheia e se envolve com uma jovem recém-chegada à sua cidadezinha (Ana Carolina Machado).

Três documentários completam a seleção brasileira concorrente aos Kikitos: o citado “Uma longa viagem” (RJ), em que a diretora Lúcia Murat (“Brava Gente Brasileira”) revela o perfil de seus dois irmãos, examinando sua história pessoal à luz de suas escolhas durante a ditadura de 1964; “As hiper-mulheres”, de Carlos Fausto, Leonardo Sette e Takumã Kuikuro (PE), em torno de um ritual feminino indígena no Alto Xingu; e “Olhe para mim de novo” (SP), de Cláudia Priscila e Kiko Goifman, um road movie pelo Nordeste, guiado pelo transexual Syllvio Lúccio.

Latinos

Entre os seis concorrentes estrangeiros, provenientes do México, Uruguai, Colômbia, Chile, Argentina e República Dominicana, cinco são ficções, apenas um documentário.

Vem da Argentina a comédia “Medianeras – Buenos Aires na era do amor virtual”, de Gustavo Taretto. Estabelecendo uma série de conexões entre a vida urbana, a arquitetura das grandes cidades e a internet, o filme segue as dificuldades amorosas de dois vizinhos, Martin (Javier Drolas) e Mariana (a espanhola Pilar López de Ayala, de “Lope”), que se esbarram, mas nunca se encontram. Javier Drolas, aliás, é presença esperada em Gramado.

O espanhol Daniel Gimenez Cacho (de “Má Educação”) é o nome mais conhecido do elenco do drama chileno “La Lección de Pintura”, de Pablo Perelman, sobre as relações entre um farmacêutico e um menino que revela talento incomum para a pintura e a interferência nestes destinos do golpe militar de 1973.

O dilema de um imigrante haitiano em busca de emprego está no centro de “Jean Gentil”, de Laura A. Guzman e Israel Cárdenas, o concorrente da República Dominicana, cinematografia raramente exibida no Brasil.

O concorrente colombiano, “Garcia”, é uma coprodução com o Brasil e traz dois atores brasileiros, Giulio Lopes (“Contra Todos”) e Rui Rezende no elenco. Eles interpretam dois bandidos que entram no caminho do protagonista, o vigia de fábrica Garcia (o ator mexicano Damián Alcazár, de “Che”), homem empenhado em cumprir uma promessa a sua bela esposa Amalia (Margarida Rosa de Francisco) - que, um belo dia, desaparece sem aviso.

O mexicano “A tiro de pedra”, de Sebastian Hiriat, retrata a aventura de um pastor (Gabino Rodriguez, de “Rudo e cursi – A vida é uma viagem”) que sai de sua rotina ao encontrar um molho de chaves.

Finalmente, o único documentário da seleção é o concorrente uruguaio “El casamiento”, de Aldo Garay, que conta a história de um casal, o transsexual Julia Brian e o ex-pedreiro Ignácio González, que vivem juntos há 20 anos.

Homenageados

Dois veteranos artistas cariocas são os homenageados deste ano – a atriz Fernanda Montenegro, que recebe o troféu Oscarito, e o ator e dramaturgo Domingos Oliveira, o troféu Eduardo Abelin. Não será concedido nesta edição o Kikito de Cristal.