Topo

Ator de "Medianeras" acha São Paulo "melancólica, como Buenos Aires"

O ator Javier Drolas em cena do longa argentino "Medianeras" - Divulgação
O ator Javier Drolas em cena do longa argentino "Medianeras" Imagem: Divulgação

NEUSA BARBOSA

Do Cineweb, em Gramado

07/08/2011 16h49

Javier Drolas, protagonista da comédia romântica “Medianeras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual”, do estreante Gustavo Taretto, está longe de ser um ator famoso na Argentina. Pudera. Aos 39 anos, embora tenha 12 de teatro, é um intérprete até prestigiado, mas no circuito alternativo de Buenos Aires – uma cidade que chega a ter em cartaz cerca de 400 peças por ano.

No cinema, embora não seja esta sua estreia, Drolas também fez poucos filmes, nenhum deles, ao que ele saiba, ainda lançados no Brasil – como “El Mural”, de Héctor Olivera (2010).  Mesmo na TV argentina, tudo o que fez até agora chamou - em entrevista ao UOL Cinema, de Gramado - de “novela peronista”, na qual contracenou com Rafael Spregelburd, ator de “O Homem do Lado”, pequeno sucesso do cinema argentino em São Paulo.

“Medianeras..”, no entanto, pode ser a grande virada para Drolas, que foi o intérprete do curta homônimo do diretor Taretto, que em 2004 conquistou 40 prêmios internacionais, inclusive no prestigiado Festival de Clermont Ferrand, na França – uma espécie de Festival de Cannes para os curtas-metragens.

O sucesso do curta moveu Taretto a transformar o curta em longa, o que aconteceu apenas em 2009, numa coprodução com a Alemanha e a Espanha – detalhe que motivou a escalação de uma atriz espanhola, a famosa Pilar López de Ayala, de “Lope”, como intérprete feminina principal.

“Medianeras...” fala muito dos tímidos e situa seus dois personagens, Martin e Mariana, numa Buenos Aires solitária, em que as pessoas vivem confinadas a apartamentos minúsculos, relacionando-se apenas por meio de bate-papos virtuais. Drolas confessou ser ele mesmo um tímido na vida real, assim como o diretor, Gustavo Taretto. “Na verdade, parece brincadeira eu como ator dizer que sou tímido, mas é a mais pura verdade. O mesmo acontece com Gustavo. Acho que por isso nos entrosamos tão bem”.

Na verdade, a química com o diretor foi mais importante para o bom resultado do filme até do que com a atriz,  já que durante a história seus personagens vivem se desencontrando, embora praticamente se esbarrem o tempo todo, por morarem no mesmo prédio. Eles conversam um com o outro, sem saber, usando pseudônimos, via chat.

Essa característica da história, aliás, fez com que o diretor tentasse até que os dois atores realmente não se falassem no set, durante as filmagens. “Gustavo queria que nem nos conhecêssemos. Eu costumava realmente ficar a uns 10 metros dela e não a cumprimentava. De todo modo, não foi possível manter isso até o final. Nos víamos durante o almoço, trocamos algumas palavras”, comenta o ator, que veio a Gramado representando o filme, concorrente na seção de filmes latinos do festival.

Origem no teatro

Taretto conheceu Drolas  ao vê-lo numa peça, “Ser El amo”, dirigida por uma cunhada do diretor. Além de conferir a performance do ator no palco, o cineasta consultou também uma atriz sua conhecida, que também o recomendou. As indicações contaram, mas no final foi o "feeling" do cineasta que prevaleceu. “Meu casting para o curta foi muito simples. Não houve teste, nem nada. Simplesmente conversamos e ele achou que eu tinha a cor de Martin”, conta o ator.

Passar do teatro para o cinema não foi tão simples. Ele compara: “No teatro, é tudo para fora, no cinema, tudo para dentro. Como diz uma atriz que conheço, a câmera tem que entrar dentro de você”.

O ator esteve 12 vezes no Brasil, em algumas delas profissionalmente, como quando participou de uma montagem teatral “super-super-super alternativa”, segundo ele, em Brasília, anos atrás. “Acho que São Paulo e Buenos Aires se parecem. São Paulo não tem aquele aspecto festivo normalmente associado ao Brasil, é um pouco mais melancólica”, diz.

Drolas está ansioso pela estreia de “Medianeras...” na Argentina. Até o momento, o longa só teve uma sessão no país, dentro da programação do BAFICI (Festival do Cinema Independente de Buenos Aires), no começo deste ano, em uma apresentação ao ar livre, numa das poucas locações reais do filme, numa praça em que o ator fica sozinho com seu cachorro (a maior parte do filme foi feito em estúdio). A recepção, segundo ele, foi “muito boa”.

No Brasil, a comédia tem estreia marcada para o próximo dia 2 de setembro.

O diretor não veio a Gramado, porque foi ao Festival de Locarno, na Suíça, em que o filme está igualmente em competição.