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"Minha infância foi influenciada por Spielberg", diz J.J. Abrams sobre a parceria de "Super 8"

O diretor J.J. Abrams (dir.) conversa com atores no set de "Super 8" - Divulgação
O diretor J.J. Abrams (dir.) conversa com atores no set de "Super 8" Imagem: Divulgação

CAIO RODRIGUES

Colaboração para o UOL

11/08/2011 16h29

Jeffrey Jacob Abrams, ou J.J. Abrams, nunca escondeu sua admiração por Steven Spielberg. Em 1989, quando mal havia saído da faculdade, o jovem Abrams escreveu um tratamento de roteiro para uma pretensa continuação de "Uma Cilada para Roger Rabbit", produzido por Spielberg. Não seria dessa vez que a parceria entre mestre e aluno se concretizaria.

Anos depois, o jovem roteirista foi contratado para polir o texto de "Gasparzinho", novamente produzido pelo seu maior ídolo no cinema. Mas a parceria não passou de um pingo d'água no oceano que virou a carreira de ambos. Spielberg, por mais tropeços que possa ter nos últimos anos, ainda é um dos cineastas mais poderosos do planeta, enquanto Abrams criou a série de espionagem "Alias" e foi um dos responsáveis pelo fenômeno televisivo "Lost".

Quando o veterano diretor de "E.T. - O Extraterrestre" precisou de retoques no script de "Guerra dos Mundos", foi atrás de Abrams, que não conseguiu tempo para o trabalho. A primeira consequência positiva do encontro com Spielberg foi a nova amizade com Tom Cruise, que convidou J.J. para estrear na direção de longa-metragem em "Missão Impossível 3". 

Abrams ainda revitalizou a franquia "Star Trek" antes de finalmente realizar o sonho de infância de trabalhar com Spielberg em "Super 8", uma ficção científica "para toda a família" que não deixa dúvidas sobre suas influências. "Quando quis escrever e dirigir o filme, vi que ele refletia minha infância e como ela foi muito influenciada pelos trabalhos de Steven", conta Abrams.

"Super 8" é a perfeita simbiose entre Abrams e Spielberg. O primeiro é um diretor e roteirista fanático por enigmas e um gênio da autopromoção viral, ainda longe do estágio de "não posso ser uma má influência ao meus filhos", um mal que costuma atacar artistas mais velhos. O segundo é um cineasta ultrapoderoso, que moldou alguns dos maiores clássicos do cinema americano, mas que perdeu a ambição da juventude e se dedica a obras mais acessíveis hoje em dia. O resultado da parceria pode ser comparado a "Os Goonies" encontrando "Cloverfield - Monstro".

Para quem não lembra, "Os Gonnies", outra produção de Spielberg, mas dirigida por Richard Donner ("Superman", "Máquina Mortífera") conta a história de um grupo de garotos de uma pequena comunidade litorânea enfrentando o fim da infância e um evento fantástico que pode mudar (ou adiar) essa "tragédia".

"Super 8", produzida por Spielberg e dirigida e escrita por Abrams, é sobre seis pré-adolescentes enfrentando o fim da infância e um evento fantástico que pode mudar o rumo de suas vidas. No caso do filme de 1985, os meninos descobrem que vão se mudar por causa de uma grande corporação que comprará suas casas. No longa que estreia nesta sexta-feira (12), eles descobrem a proximidade da morte - a mãe do protagonista, vivido pelo ótimo Joel Courtney, sofre um acidente - e se deparam com um evento fantástico.

O paralelo entre as duas obras é de fácil reconhecimento, apesar das mudanças. Em "Os Goonies", a fantasia é um mapa de tesouro, um galeão que teria encalhado nas redondezas repleto de ouro. Em "Super 8", o fantástico assume o papel de um monstro alienígena que era mantido prisioneiro pela força aérea americana até um “acidente” de trem libertá-lo nas proximidades da pequena cidade de Lilian. As únicas testemunhas do descarrilamento são os pequenos dublês de cineastas liderados por Jeffrey, que se apaixona pela “atriz principal”, interpretada pela carismática Ellen Fanning.

TRAILER DO FILME ''SUPER 8''

As linhas entre as duas obras se separam neste momento. Enquanto "Os Goonies" caminha do widescreen para o íntimo - os meninos presos em cavernas construídas pelos piratas -, "Super 8" se torna um filme catástrofe setentista quando a criatura desconhecida passa a atacar Lilian.

Ainda assim, o filme não é um amontoado de efeitos especiais - apesar de o acidente ferroviário entrar para a lista das cenas mais incríveis e barulhentas do ano. J.J. Abrams construiu um texto cheio de coração. Impossível não se emocionar com o pequeno Joey tentando se comunicar com o pai (o sempre bacana Kyle Chandler, de "Friday Night Lights") ou se identificar com sua primeira paixão.

No fim de "Super 8", derivado de "Contatos Imediatos do Terceiro Grau", pouco importa se estamos diante de um ET, de um monstro do mar ou um lagarto gigante radioativo. E essa é a lição de Abrams para qualquer cineasta: a verdadeira atração de uma ficção científica não se esconde por trás de computadores poderosos e animadores, mas na sua alma.