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Russo Aleksandr Sokurov vence Leão de Ouro com "Faust"; concorrentes norte-americanos saem de mãos vazias

O diretor russo Alexander Sokurov leva Leão de Ouro no Festival de Veneza pelo filme "Fausto" (10/9/2011) - AFP
O diretor russo Alexander Sokurov leva Leão de Ouro no Festival de Veneza pelo filme "Fausto" (10/9/2011) Imagem: AFP

NEUSA BARBOSA

Do Cineweb, de Veneza

10/09/2011 15h50

Para o veterano cineasta russo Aleksandr Sokurov, valeu a pena esperar. Seu épico "Faust", adaptação da obra do autor alemão Johann Wolfgang Goethe e seu primeiro filme realizado em quatro anos, veio a Veneza para levar o Leão de Ouro --uma das apostas mais seguras nesta tarde entre os jornalistas, afinal confirmadas. Um diretor a quem não faltam credenciais para um prêmio destes, digno de quem realizou "Arca Russa", "Moloch", "Taurus", "Pai e Filho" e "O Sol", alguns títulos de uma obra sólida e consagrada.

O cinema oriental, que nesta edição entusiasmou pouco os críticos, no final levou três prêmios importantes: direção, para Cai Shangjun, do filme-surpresa "People Mountain People Sea" (que saiu clandestinamente da China, sem ser submetido à censura, o que deverá dar problemas ao diretor na volta para casa); atriz, para a veterana Deanie Yip, em outro filme chinês (de Hong Kong), "A Simple Life", de Ann Hui, a bola mais cantada da bolsa de apostas informal de hoje à tarde; e o Prêmio Marcello Mastroianni, destinado a jovens atores, aos dois protagonistas do concorrente japonês "Himizu", de Sion Sono, Shota Sometani e Fumi Nikaido.

Os italianos, que este ano tinham três candidatos, afinal levaram um importante Prêmio Especial do Júri para o drama "Terraferma", de Emanuele Crialese --que aborda um tema candente na Itália hoje, a intolerância em relação aos imigrantes clandestinos africanos, cuja entrada no país é combatida inclusive por legislação a quem lhes der socorro ou qualquer tipo de apoio humanitário. Romano de origem siciliana, Crialese, de 46 anos, pertence a uma nova geração italiana e já havia vencido como diretor revelação aqui há cinco anos, por "Novo Mundo".

Um prêmio relativamente surpreendente coube ao grego "Alpis", vencedor de melhor roteiro, este assinado pelo diretor Yorghos Lanthimos ("Dente Canino") e Efthimkis Filippou. Um destes filmes estranhos, mas criativos, que ficam na memória tempos depois que a projeção terminou.

Trailer de "Faust"

Britânicos e esnobados

O competente bloco britânico, no final, conquistou dois prêmios, um merecido troféu de melhor ator para Michael Fassbender no drama "Shame", de Steve McQueen, e outro pela contribuição técnica da fotografia de "O Morro dos Ventos Uivantes", de Andrea Arnold. Nos dois casos, foi pouco. "Shame" também venceu o prêmio de melhor filme para a FIPRESCI, Federação Internacional dos Críticos.

Pior ficaram o francês "Carnage", de Roman Polanski, o favorito da tabela dos críticos divulgada hoje cedo pelo diário do festival, Venews, e que foi esnobado na premiação oficial. Nem mesmo seu magnífico quarteto de atores foi lembrado --Kate Winslet, Jodie Foster, Christoph Waltz e John C. Reilly.

Na mesma situação ficaram os cinco concorrentes norte-americanos, que não levaram nada. George Clooney ("Tudo pelo Poder"), William Friedkin ("Killer Joe"), Abel Ferrara ("4:44 Last Day on Earth"), Todd Solondz ("Dark Horse") e Ami Canaan Mann ("Texas Killing Fields") vieram ao Lido à toa.

Nem o medalhão canadense David Cronenberg e seu poderoso "A Dangerous Method", em torno da biografia dos pioneiros da psicanálise Carl Jung (Michael Fassbender) e Sigmund Freud (Viggo Mortensen), impressionaram o júri presidido pelo cineasta norte-americano Darren Aronofsky.

Concorrente na seção Horizontes, o docudrama brasileiro "Girimunho", de Helvécio Marins e Clarissa Campolina, venceram um prêmio colateral, o Interfilm Award, por promover o diálogo interreligioso.