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Cinebiografia de poetisa sul-africana não economiza nos defeitos da protagonista

EDU FERNANDES

Colaboração para o UOL

22/09/2011 08h00

Cinebiografias e documentários sobre figuras históricas podem facilmente descambar para um discurso cheio de elogios e esvaziado de verdade. “Borboletas Negras”, sobre a vida da poetisa Ingrid Jonker, escapa da armadilha ao retratar com a mesma força seu talento literário e suas falhas na vida pessoal. O filme estreia nesta sexta-feira (23) em São Paulo e no Rio de Janeiro.

Ingrid (1933-1965) teve uma infância complicada, perdeu a mãe e a avó ainda criança. Foi com a irmã morar junto de seu pai (Rutger Hauer, de “O Ritual”), onde as duas foram instaladas em uma pequena edícula fora da casa principal.

O ambiente é tão inóspito na casa do pai, que Ingrid - vivida pela holandesa Carice van Houten ("Operação Valquíria") - se casa apenas para poder sair de lá. O matrimônio é um fracasso e ela passa a viver com sua filha pequena no apartamento da irmã.

TRAILER DO FILME ''BORBOLETAS NEGRAS''

É nesse momento, em 1960, que Ingrid conhece o escritor Jack Pole (Liam Cunningham, de “Fúria de Titãs”), um homem que passa por um complicado divórcio. Os dois se apaixonam e começam a morar juntos em uma casa de praia.

Graças a Jack, Ingrid tem acesso a uma classe de artistas engajados em criticar o regime do apartheid em suas obras. O assunto é bem conhecido por Jonker, uma vez que seu pai é o responsável pelo departamento de censura do governo.

"Borboletas Negras" se foca em alguns assuntos: a vida amorosa complicada de Ingrid, o seu relacionamento com o pai, a forma como ela compunha seus poemas e o cenário político-social da África do Sul na década de 1960.

O filme faz pequenas alterações e omissões na história real, mas mantém-se fiel à essência da escritora. A mudança mais brusca é o fato de os personagens falarem inglês, apesar de os poemas de Jonker terem sido publicados originalmente em africâner – uma manobra para satisfazer as plateias nos Estados Unidos e Inglaterra.

Adultério, carência afetiva extrema, alcoolismo e outras falhas de Ingrid não estão entre as omissões do roteiro. Se não fosse pela qualidade de seus escritos, ela seria uma protagonista impensável para um filme convencional. “Borboletas Negras” não espera que se simpatize totalmente com sua personagem principal, o que acrescenta autenticidade ao filme.