Topo

"Não fosse a atenção que ganhei com 'Educação', talvez não tivesse sido convidada para fazer 'Um Dia'", diz Lone Scherfig

Anne Hathaway e Jim Sturgess estão no elenco de "Um Dia", novo filme da diretora Lone Scherfig ("Educação") - Divulgação
Anne Hathaway e Jim Sturgess estão no elenco de "Um Dia", novo filme da diretora Lone Scherfig ("Educação") Imagem: Divulgação

Carlos Helí de Almeida

Colaboração para UOL, do Rio

09/10/2011 11h22

Após o sucesso internacional de “Educação” (2009), que chegou à festa do Oscar de 2010 com três indicações, incluindo a de melhor filme,  a diretora Lone Scherfig  prometeu a si mesma que manteria distância dos dramas de época por algum tempo. Antes mesmo de se recuperar da repercussão do filme que revelou a jovem atriz britânica Carey Mulligan ao mundo, ela recebeu o roteiro de “Um Dia”, que descreve a conflituosa relação entre dois amigos e amantes ao longo de duas décadas.

Lone se viu então diante da irresistível tentação de dirigir  um novo filme ambientado em outro período de tempo. Estrelado pela americana Anne Hathaway e o britânico Jim Sturgess, ‘Um Dia’ ganha pré-estreias neste domingo (9) no Festival do Rio, antes de chegar ao circuito em 4 de novembro.

“Tenho certeza de que, não fosse a atenção que ganhei com ‘Educação’, talvez não tivesse sido convidada para fazer ‘Um Dia’. Além de ser um desafio, a oferta era um reconhecimento do meu trabalho. De qualquer forma, cada filme que me proponho a fazer é novo para mim”, justificou a diretora ao UOL, em entrevista por telefone.

Escrito pelo escritor David Nichols a partir de seu livro homônimo, um best-seller no Reino Unido, o roteiro de “Um Dia” acompanha a evolução do relacionamento dos protagonistas a partir da observação de incidentes ocorridos na vida dos dois num mesmo dia do ano – 15 de julho –, ao longo de duas décadas.   

Vinda de uma família operária, Emma (Anne) é uma jovem inteligente, insegura e cheia de sonhos. Dexter (Sturges), ao contrário, é um conquistador de família rica, seguro de si e determinado a ficar famoso. Os dois se conhecem na noite de formatura da universidade e tomam caminhos distintos, e o filme volta a checar a vida deles em cada 15 de julho subsequente, de 1989 aos dias de hoje.

O roteiro de Nichols reproduz o artifício narrativo do livro, mas Lone teve carta branca para promover ajustes no texto. “Por motivos artísticos e práticos, já que o filme exigia inúmeras locações, fiz algumas mudanças no roteiro, mas a estrutura do livro e as imagens que David criou estão todas lá, na íntegra”, conta a diretora. “Sei que é uma história tipicamente britânica, mas eu pude adicionar um olhar diferente”.

“Um Dia” é montado como uma série de flagrantes da trajetória de Emma e Dexter, geralmente separados um do outro, da juventude ao início da meia idade, e o amadurecimento dos dois no processo. A passagem do tempo é marcada de forma sutil pelas mudanças no figurino, nos avanços tecnológicos e na trilha sonora.

“A forma como vemos o tempo avançar, ano a ano, que é muito cinemática, é um mérito do roteiro de David”, reconhece Lone. “Ele é um caso raro de escritor que tem bastante experiência como roteirista. É atento aos detalhes que marcam a transição temporal, sem fazer muito alarde sobre eles. David tomou todo o cuidado para que estas transformações dominasse a história que está sendo contada”.

Há quem possa achar estranho a escolha de uma atriz americana para viver um personagem essencialmente britânico. Mas a iniciativa partiu da própria Anne. “Ela tinha lido o roteiro logo que ficou pronto, identificou-se muito com a personagem, e pediu uma reunião comigo. Não demorei muito a me decidir por ela”, lembrou Lone. “Anne tem uma capacidade incrível de revelar emoções quando olhamos para ela. É um livro aberto”.

Menos conhecido do grande público, Jim Sturgess (de “Across The Universe”, de Julie Taymor) revelou-se ser a melhor escolha para dividir a história de amor com Anne. “Quando colocamos os dois juntos, a química entre eles foi imediata, era como se um pertencesse ao outro”, explica. “Jim é muito musical, moderno, não muito teatral, como a maioria dos atores britânicos”.

Embora tenha sido lançado comercialmente nos Estados Unidos em agosto, à vésperas da abertura da temporada de considerações para prêmios, ainda é cedo para antecipar uma volta de Lone ao Oscar. “A estação mal começou, é difícil descrever a situação de ‘Um Dia’ em um cenário em que não se reconhece ainda direito os seus adversários.  Até que isso aconteça, vou passar o tempo livre que me resta junto à minha família”, avisou Lone.