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"O que Spielberg fez ficou perfeito", diz Roman Polanski sobre filme de Tintim

ANA MARIA BAHIANA

Enviada especial a Paris*

23/10/2011 16h17

Steven Spielberg tomou contato com o universo das história de Tintim em 1981, quando “Indiana Jones e os Caçadores da Arca Perdida” estreou e ele ficou cansado de ouvir comparações entre o seu herói e um outro, criação do artista belga George Remi, mais conhecido como Hergé.

“Meu primeiro livro da série foi ‘As 7 Bolas de Cristal’”, Spielberg relembra numa bela manhã de outono em Paris, no sábado(22), dia seguinte à dupla estreia mundial de seu filme “As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne"”, em Paris e Bruxelas. “Compreendi imediatamente o apelo universal das histórias, e o modo como falava diretamente ao público infanto juvenil. Fui atrás dos outros livros e, pouco tempo depois, já tinha lido todos.”

Em 1983, Spielberg finalmente criou coragem para tentar um contato com Hergé e pedir sua permissão para explorar cinematograficamente o universo das aventuras de Tintim e seus companheiros, o cachorrinho Milu, os detetives Dupond e Dupont, o intrépido capitão Haddock.

A conversa foi brevemente interrompida pelo falecimento de Hergé alguns meses depois da conversa, um longo telefonema entre Bruxelas e Los Angeles, mas retomada pela viúva de Hergé, Fanny, pouco tempo depois. “Hergé disse que me via como o único diretor que poderia adaptar sua obra no cinema, o que me deixou lisonjeado e um pouco assustado”, Spielberg confessa. “E Fanny me confirmou que essa era, de fato, a opinião dele, e seu desejo para que eu levasse o projeto adiante.”

Ironicamente, o único obstáculo para que o projeto fosse adiante foi o mesmo que já havia desanimado outro grande diretor interessado em levar Tintim ao cinema: Roman Polanski. “Sou grande fã de Tintim e da complexidade visual de Hergé”, diz Polanski, na tarde do domingo depois da estreia de Tintim. “Mas não conseguia ver como colocar os personagens na tela sem ser caricato. O que Steven fez foi absolutamente perfeito, utilizando magnificamente os recursos da tecnologia que temos hoje. Amei o filme.”

Na verdade, Tintim já havia sido colocado na tela – do cinema e da TV várias vezes, tanto em desenho animado quanto, em 1961, numa produção francesa, com atores. A diferença agora é o tratamento em grande estilo, com um orçamento da ordem de 130 milhões de dólares e dois grandes estúdios, a Paramount e a Sony, arcando com financiamento e distribuição (Paramount nos EUA, Sony fora deles).

A evolução das tecnologias de manipulação digital de imagem e captura de desempenho resolveu, para Spielberg, o problema estético de reproduzir a riqueza visual do mundo de Hergé de um modo plausível para plateias de hoje. “E neste setor a vanguarda está com Peter Jackson e a Weta”, diz Spielerg. “Assim que vi o que Pete havia feito com ‘O Senhor dos Aneis’ eu sabia que ele era o parceiro certo para o projeto. O que eu não sabia é que ele era um fã de Hergé tanto ou mais do que eu.”

Mas outro elemento tambem mudou muito nos quase 30 anos que separam a conversa com Hergé da estreia de As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne": o mercado de cinema é, hoje, realmente internacional, e seu poder de consumo viabiliza e endossa novas possibilidades que antes seriam consideradas arriscadíssimas. Há três décadas um filme adaptado de material praticamente desconhecido nos EUA, como Tintim, seria inviável.

Hoje, quando a maior parte da receita de um filme ‘made in Hollywood’ vem de fora dos EUA, Tintim e seus amigos ganharam lugar de honra no tapete vermelho - em duas estréias na Europa, dois meses antes do seu lançamento norte americano.

"As Aventuras de Tintim: O Segredo do Licorne" tem estreia prevista para o dia 20 de janeiro de 2012 nos cinemas brasileiros.

* A jornalista viajou a convite da distribuidora