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Faltam críticos da produção do cinema no Brasil, diz Paulo José em encontro da Mostra de SP

Paulo José em entrevista coletiva de "O Palhaço", em São Paulo (24/10/2011) - Francisco Cepeda/AgNews
Paulo José em entrevista coletiva de "O Palhaço", em São Paulo (24/10/2011) Imagem: Francisco Cepeda/AgNews

ANA OKADA

Da Redação

24/10/2011 15h23

Em palestra ocorrida nesta segunda-feira (24) durante a Mostra de São Paulo, o ator Paulo José, 74, falou sobre seus filmes preferidos e comentou a falta de críticos da produção nacional atualmente. "Glauber [Rocha], Leon Hirszman, Joaquim Pedro [de Andrade] são grandes perdas da crítica do cinema, da produção do cinema. Sempre se investiu muito na produção e não na exibição dos filmes. Tenho certeza que o Hirszman defenderia isso".

Um exemplo disso, comenta ele, é o fato de os filmes nacionais não terem data de exibição prevista com antecedência, como ocorre com os grandes lançamentos internacionais. "Os filme não têm data de exibição, a não ser que seja um 'Tropa de Elite 2', ou algum da Globo Filmes, ou longas que são subprodutos da televisão, o que não me interessa", diz.

Primeiro filme

O primeiro filme que o ator viu foi "Bambi", aos 4 anos. "Lembro que mais comi pipoca do que assisti, mas lembro da cena mais tocante do filme, quando a mãe do Bambi morre e o pai dele diz 'Agora você é um homem'", lembra. "Só na idade adulta fui descobrir o valor desses filmes, que eram feitos de acetato e, com isso, passaram a ter efeito 3D --o que foi uma inovação do Walt Disney."

Criado em Bagé, ele revela que seu contato com o cinema foi aprofundado em casa, quando ganhou uma espécie de "cineminha", chamado "kino", que mostrava historietas em rolos. Além disso, o muro de sua casa dava para os fundos do cinema da cidade, o "Cinema Avenida". Naquela época, era normal as exibições pararem no meio para que os longas fossem remendados. Nesse processo, fotogramas eram cortados e jogados no quintal do cinema e o ator, então, pulava o muro e pegava os pedaços de filme. "Eu e meus amigos trocávamos fotogramas", diz.

Depois de ver muitos filmes da Disney na infância, o ator passou aos faroestes norte-americanos e, na adolescência descobriu os "filmes de maiô", com "Escola de Sereias". "Tinha um padre que ficava na cabine e, quando tinha cenas de 'muitas coxas', ele cobria", conta. Em Porto Alegre, José descobre os filmes europeus e os "filmes educativos". "Esses filmes sempre tinham uma parte científica e nessa parte a gente dizia 'oba, lá vem a parte da sacanagem!', mas eram só uns órgãos genitais com doenças, cancro", diz.

Preferidos

Dentre seus diretores favoritos, o ator destaca Orson Welles e Stanley Kubrick, "inventores do cinema". "O Orson Welles veio do teatro, mas aprendeu tudo de cinema e criou coisas novas, como a lente de 20.8 mm, que tem uma profundidade de campo extraordinária". "Kubrick para mim é um dos imortais do cinema. Ele investiu em todos os gêneros e em cada um inventou uma coisa nova. 'O Iluminado' foi o primeiro filme de terror feito de dia. O terror não depende do que você vê, mas da subjetividade", diz.

Buñuel, Bergman e Pasolini também marcaram a vida do ator. Para ele, no entanto, os "filmes da sua vida" são aqueles que ele viu até os 21 anos. "São os filmes da minha formação, os que ficam. Gosto de cinema mas vejo cada vez menos, porque [os filmes] estão cada vez mais repetitivos. O cinema americano virou um espetáculo, em que qualquer reflexão fica proibida, a não ser o Scorsese", opina.