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Em "As Canções", que estreia nesta sexta (9), Eduardo Coutinho mais uma vez apela para a emoção fácil

Cena do documentário "As Canções", de Eduardo Coutinho - Divulgação
Cena do documentário "As Canções", de Eduardo Coutinho Imagem: Divulgação

JAMES CIMINO

Editor-assistente de UOL Entretenimento

08/12/2011 21h59

Em 2002, dois documentários estrearam no cinema brasileiro. “Ônibus 174”, de José Padilha (“Tropa de Elite” 1 e 2) destrinchava a história humana por trás de um sequestro ocorrido no Rio de Janeiro, no ano 2000. “Edifício Master”, de Eduardo Coutinho (“Cabra Marcado para Morrer”), exibia relatos de moradores de um famoso condomínio carioca com a intenção de mostrar que, por trás da banalidade cotidiana, existem relatos “humanos”. Por isso, o longa de Padilha, que já na primeira tomada expunha sem rodeios o contraste social carioca de forma jornalística, foi ofuscado pelo retrato banal, e algumas vezes constrangedor, dos moradores do “Edifício Master”. Por constrangedor entenda-se como a cena em que um dos condôminos, que afirma ter conhecido Frank Sinatra, canta “My Way” a plenos pulmões.

Nesta sexta-feira (9), chega aos cinemas o novo documentário de Coutinho. Chama-se “As Canções”. O filme, em poucas palavras, é a cena de “My Way” multiplicada por 18. Os entrevistados, selecionados pela internet, anúncios de jornal e cartazes nas ruas do Rio, contam histórias de amor, perda e superação, todas embaladas pelas músicas que marcaram os acontecimentos narrados, cantadas igualmente a plenos pulmões. Faz chorar? Muito. Faz rir, muito pouco. Não que haja alguma obrigação do cinema em proteger o público do choro e compensá-lo com o riso, mas o caso aqui é o apelo à emoção fácil.

Qualquer jornalista que tenha passado um tempo na rua cobrindo tragédias sabe que há, especialmente entre as classes menos favorecidas, uma infinidade de dramas autênticos, só esperando um repórter mais atento para relatá-los, dentro de algum contexto, no intuito de desmascarar alguma injustiça, algum paradoxo da existência.

TRAILER DE "AS CANÇÕES"

Coutinho é jornalista e sabe disso. No entanto, ao encadear essas histórias desconexas umas das outras, não apresenta reflexão nenhuma, como se espera de um documentário. Você chora, ri, mas em cinco minutos se esqueceu do que viu. Na maioria dos casos, os entrevistados estão apenas expostos ao escárnio público, quando não à piedade coletiva. Afinal, não é isso que se critica nos reality-shows que exploram o misto da miséria humana com a emoção premeditada (com a diferença que um "Extreme Makeover" pelo menos oferece uma possibilidade de ganho em dinheiro ou em auto-estima)?

Em suma, “As Canções” é apenas mais uma exposição de pessoas tristes lindamente filmadas que, em última instância, serve apenas de bálsamo para que sintamos que a nossa existência burguesa, enfim, não é tão dramática assim...