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"Há uma diferença entre representar o povo e... transar com o povo", diz George Clooney sobre filme em que interpreta político

ANA MARIA BAHIANA

Especial para o UOL, de Los Angeles

22/12/2011 07h00Atualizada em 06/01/2012 16h48

Em “Tudo pelo Poder”, que estreia no Brasil na sexta-feira (23), um pré-candidato à presidência dos Estados Unidos pelo partido Democrata (George Clooney) tem um discurso político perfeito, mas uma vida privada complexa, na qual se incluem uma bela estagiária (Evan Rachel Wood) e um ambicioso assessor (Ryan Gosling).

Clooney, que dirigiu, produziu e escreveu o roteiro (baseado na peça “Farragut North”, de Beau Willimon), tem muito o que dizer sobre política e os desempenhos públicos e particulares de políticos.


UOL - Políticos em posições de poder abusam das mulheres a sua volta? Ou é ao contrário?
George Clooney -
As mulheres sempre podem dizer não, não é mesmo? Mas o poder que esses homens concentram é muito sedutor, e este é um dos motivos. Esses caras… Sinceramente, a maioria deles não é exatamente bem apessoada. Mas o poder compensa por isso. E acho que há muita arrogância, também. Deveria haver um momento em que esses homens têm que saber que o risco de serem expostos é muito alto. Há celulares demais, tablets demais, Twitter demais, Facebook… É muito fácil ser exposto. Mas eles se acham invencíveis, intocáveis. Vivem numa espécie de bolha, onde todo mundo concorda com eles. É assim que as pessoas acabam em apuros.

UOL - Você com certeza tem muitas mulheres a sua volta, atrás de você…
Clooney -
[rindo muito] Mas eu não tenho o menor interesse em concorrer a nenhum cargo político! Não sou político! Há uma diferença entre representar o povo e... transar com o povo.

UOL - Você disse que, quando começou a trabalhar no roteiro de “Tudo pelo Poder”, achou melhor esperar um pouco, porque Obama tinha acabado de ser eleito. Por quê? Você está decepcionado com o desempenho dele como presidente?
Clooney -
Não. Acho, isso sim, que os democratas deviam aprender com os republicanos como vender suas ideias. Fazer um filme assim, que tem uma visão amarga dos bastidores da vida política, não seria muito apropriado para um momento em que havíamos acabado de eleger um presidente. Agora já temos algum distanciamento. Ele poderia ter feito mais? Poderia. Mas fez muito: quando ele foi eleito, perdíamos 400 mil empregos por mês. Isso acabou. Obama salvou a indústria automobilística. Conseguiu emplacar a legislação de saúde pública que não é perfeita, mas é melhor do que o nada que temos hoje. Os democratas não vendem esses feitos. Ficam quietinhos, enquanto os republicanos fazem barulho.


UOL - Imagine que você é mesmo um candidato à presidência dos Estados Unidos. O que você faria para resolver a crise econômica?
Clooney -
Existem pessoas muito mais inteligentes que eu atacando o problema com ideias com certeza mais brilhantes que as minhas. Em 1979, no auge da crise do abastecimento de petróleo, quando estávamos em crise com a Organização dos Países Exportadores de Petróleo, meu pai [o jornalista Nick Clooney] escreveu um artigo dizendo: “Ok, as coisas estão ruins, vamos criar um programa Apolo para a economia. Um programa de 10 anos para desenvolver fontes alternativas de energia, descobrir outras maneiras de abastecer nossos veículos, nossas indústrias. Dessa forma não vamos nunca mais precisar brigar com ninguém, invadir ninguém, e vamos ter produtos que todo o mundo vai querer usar”. Meu pai sempre foi mais inteligente que eu. Ele já dizia o que eu acho, hoje…

UOL - Então o problema dos EUA é…?
Clooney -
… não produzir mais nada a não ser dinheiro. Fazer dinheiro a partir de dinheiro não é um bom modo de administrar um país, certo? E como é possível que Liechtenstein, que é um paraíso fiscal com 35 mil habitantes, seja o domicilio de 120 mil empresas norte-americanas? Os republicanos chamam isso de “área cinzenta”. Mas eu acho que devíamos chamar de trambique. E acabar com isso, certo?