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Homenageada em Berlim e indicada ao Oscar por "A Dama de Ferro", Meryl Streep se firma como uma das atrizes mais férteis de Hollywood

Meryl Streep interpreta Margaret Thatcher em "A Dama de Ferro" - Divulgação
Meryl Streep interpreta Margaret Thatcher em "A Dama de Ferro" Imagem: Divulgação

Pedro Caiado

Do UOL, em Londres

14/02/2012 07h00

“Minha realização, se assim você quiser chamar, é que basicamente eu me passei pela pele de pessoas incríveis por toda a minha vida, e agora eu sou confundida com uma delas”, disse Meryl Streep há alguns anos, mostrando que fama não se confunde com arrogância. Em mais de 30 anos de carreira, incluindo 17 indicações ao Oscar - a mais recente este ano, por "A Dama de Ferro" -, Mary Louise Streep, se tornou uma das atrizes mais férteis que Hollywood já produziu e receberá nesta terça-feira (14) uma justa homenagem do Festival de Berlim 2012, que a premia com um Urso de Ouro Honorário por sua carreira.


Nascida em 22 de Junho de 1949, filha de uma artista com um farmacêutico, a garota de New Jersey desde cedo mostrou sinais de talento. Aos 15 anos, cansada de ser uma garota desajeitada, Meryl resolveu mudar. Tingiu os cabelos escuros tornando-se loura oxigenada, episódio que descreve como sua primeira caracterização. Foi enquanto frequentava a prestigiosa escola Vassar, em Nova York, que Meryl descobriu que seu talento iria longe. “Após a peça, meus amigos correram para me perguntar como eu sabia fazer aquilo”, conta. “Eu não sabia como eu havia feito, mas eu percebi que queria [ser atriz] e adorava aquilo”, diz a camaleônica atriz.

Antes mesmo da adolescência, Meryl (assim apelidada pela mãe) estudava opera, iniciando sua carreira profissional nos palcos da Broadway em 1975, apos receber graduação da escola de drama da Universidade de Yale. Nos anos seguintes, Meryl fez a transição dos palcos para as telas; Ganhou o Emmy pela minissérie "Holocausto" (1978), e então, seu primeiro grande papel no cinema, em "O Franco Atirador", ao lado de Robert De Niro.

 
Em uma previsão da revista "Newsweek" há alguns anos, a atriz foi apontada como “a primeira mulher americana desde Jane Fonda com poder para rivalizar astros do calibre de De Niro e Al Pacino”. Previsão correta. Meryl aos poucos mostrou sua força em papéis marcantes no cinema. Uma mulher de muitas faces: Sophie em "A Escolha de Sofia" (1982); “A Mulher do Tenente Frances” (1981); Julia Child, em "Julie e Julia" (2009); A megera Miranda de "O Diabo Veste Prada" (2006), entre vários outras personagens.

Agora, a atriz de 62 anos incorpora a controversa ex-primeira-ministra inglesa Margaret Thatcher em "A Dama de Ferro". Apesar de nunca ter sido grande fã de Thatcher no passado, (assim como toda a classe artística), Meryl explica que admira as realizações da ex-governante ao assumir o poder.  
 
“O papel de Margaret Thatcher me atraiu, pois nele eu vi a oportunidade de levantar a questão, que ainda incomoda, sobre as mulheres no poder”, comenta  em entrevista durante sua passagem por Londres. “Eu lembro em 1979, como era o mundo quando ela foi eleita primeira-ministra do Reino Unido. Eu não concordava com nada do que ela pregava politicamente, mas secretamente eu estava super feliz de saber que aquela era a primeira mulher a assumir o poder na política mundial”, conta.

 
Meryl, por ser americana, foi obviamente uma escolha polêmica para viver a ex-primeira-ministra inglesa, mas a melhor decisão, de acordo com a diretora Phyllida Lloyd (de "Mamma Mia"). “Eu fiquei tão nervosa ao aceitar esse papel; Sabia que teria que estar bem preparada. Não foi simples ter a autoconfiança para gravar as cenas do Parlamento [em um estúdio na Inglaterra], em meio a mais de 200 atores britânicos, todos homens”, conta ela, defendendo que o desafio foi tão intimidador quanto o de Margaret Thatcher no poder. “As gravações do filme me remeteram a época em que estava no colégio, quando nós meninas éramos a minoria - 16 garotas para seis mil meninos - e a maioria não nos queria ali. Foi uma volta ao tempo”, confessa ela.
 
Em um notável desempenho, Meryl humaniza a controversa personalidade da historia britânica, dos seus 40 anos de idade até a atualidade, aos 86, sofrendo de demência. O longa mostra uma mulher forte, apesar dos erros que a tornaram amplamente impopular durante os dez anos que permaneceu no poder.

Apesar da excelente interpretação de Meryl, é um choque saber que a atriz quase nada sabia sobre a vida da ministra antes de aceitar viver o papel. “O que mais me interessou foi o preço que ela pagou por suas decisões políticas”, diz. “Quanto mais eu pesquisava, mais fascinada eu ficava. Ela era muito persistente. Eu também percebi como suas decisões políticas dividiram os britânicos. Alguns a achavam excelente enquanto outros a detestavam pelas mesmas razões. Era um trabalho tão solitário, especialmente para uma mulher”, comenta a atriz acrescentando ainda; “Eu aprendi muito com ela, Margaret Thatcher. É uma grande história de vida. Eu até a apresentei como um exemplo para as minhas três filhas sobre o que as mulheres podem fazer para mudar o mundo”, comenta a atriz.

 
"A Dama de Ferro" tem sido comercializado como um filme sobre política e guerra, e criado controvérsia exatamente por ser o oposto. “As pessoas pensavam que iriam ver a saga da mulher que dominou o mundo, mas o filme, na realidade, é muito pessoal; mostra a história de uma mulher, hoje frágil, que recorda os eventos do passado”, comenta confessando semelhanças com Thatcher. “Eu também sou muito mandona e gosto de ser ouvida!”, brinca a mulher considerada a melhor atriz americana viva atualmente.
 
Quanto perguntada sobre a homenagem que receberá no Festival de Berlim por sua carreira, ela desconversa. “Isso é uma coisa de jornalistas. Eu sou agradecida pela atenção”, diz ela.
 
A batalha atual de Meryl fora das telas é para conseguir permissão do Senado americano para o seu Museu da História da Mulher em Washington - um projeto de U$ 400 milhões. “As mulheres contribuíram amplamente para a história mundial e há muito que não sabemos sobre essas historias”, diz a atriz, defendendo a ideia.

STREEP POR STREEP
Idade 62
Nascida em Summit, Nova Jersey, em 22 de Junho de 1949, cresceu em Bernardsville, Nova Jersey. De ascendência suíça, irlandesa, inglesa e holandesa. Sua mãe, Maria, era uma artista comercial e seu pai, Harry, um executivo farmacêutico.
Família Em Setembro de 1978, casou-se com o escultor Don Gummer. Eles têm quatro filhos: Henry "Hank" (nascido em 1979), Mamie (1983), Grace Jane (1986) e Louisa Jacobson (1991).
Indicações ao Oscar 17
Pontos altos Oscars por "Kramer vs Kramer" (1979) e "A Escolha de Sofia" (1982). Filme de maior bilheteria em sua carreira: "Mamma Mia" (2008), com U$ 600 milhões de lucro ao redor do mundo.
Pontos baixos "A Casa dos Espíritos" (1993), filme com a pior bilheteria de sua carreira, somente U$ 6 milhões para um orçamento de U$ 40 milhões
O que ela diz "Eu acredito na imaginação. Eu fiz 'Kramer vs Kramer' antes de ter filhos, mas a mãe já estava dentro de mim". "Eu não tinha nenhuma confiança na minha beleza quando era jovem. Eu me sentia como uma atriz e ponto. E ainda me sinto assim".
O que os outros dizem Leonardo DiCaprio: "Meryl Streep faz coisas que eu nunca pensei que seriam possíveis; sua presença na tela é incrível"