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"Você se sente num evento esportivo para o qual não se inscreveu", diz Meryl Streep sobre indicação ao Oscar durante o Festival de Berlim

Meryl Streep segura uma boneca matrioshka que ganhou de presente durante a entrevista coletiva de "A Dama de Ferro" no Festival de Berlim 2012; a atriz recebe um Urso de Ouro honorário nesta terça-feira (14/2/12) - Johannes Eisele/AFP Photo
Meryl Streep segura uma boneca matrioshka que ganhou de presente durante a entrevista coletiva de "A Dama de Ferro" no Festival de Berlim 2012; a atriz recebe um Urso de Ouro honorário nesta terça-feira (14/2/12) Imagem: Johannes Eisele/AFP Photo

Alessandro Giannini

Do UOL, em Berlim

14/02/2012 15h44

No fim da tarde desta terça (14), Meryl Streep fez lotar o pequeno auditório onde se desenrolam as entrevistas coletivas do Festival de Berlim, em um hotel localizado na Marlene Dietrich Alle, no centro da capital alemã. A atriz, que será homenageada na Berlinale com um prêmio pela carreira na sessão de gala ainda esta noite, foi aplaudida pelos jornalistas diversas vezes, ganhou um buquê de flores de um austríaco e uma boneca matrioshka de um russo. Outro buquê de flores, com o qual apareceu no início da entrevista, foi mandado pelo marido da atriz em comemoração ao dia dos namorados nos EUA.

Streep também veio à Alemanha para exibir e promover "A Dama de Ferro", filme em que interpreta Margaret Thatcher em três momentos diversos de sua vida adulta. Pelo papel da ex-primeira ministra do Reino Unido ela ganhou o Globo de Ouro e o Bafta de melhor atriz e concorre ao Oscar na mesma categoria. No festival alemão, o título faz parte da mostra Berlinale Special. Sete outras realizações, entre as quais "A Escolha de Sofia" e "As Pontes de Madison", estão em uma retrospectiva dedicada à atriz.

Sentada entre o ator inglês Jim Broadbent, que em "A Dama de Ferro" faz o papel de Denis Thatcher na idade adulta, e a diretora Phyllida Lloyd, Streep foi o centro das atenções na entrevista coletiva. Questionada pelo UOL se ainda sentia "as borboletas voarem" ao escutar a frase "o prêmio vai para Meryl Streep" ou se apenas agia com surpresa, como no Globo de Ouro, a atriz respondeu: "Fiquei chocada de verdade. Você se sente assim. Não é atuação. É muito estranho estar na posição em que as pessoas dizem: 'Você vai ganhar' ou 'Você nao tem chance'. Você se sente num evento esportivo para o qual não se inscreveu. Você fez um filme e, de repente, está se preparando para o Superbowl. É uma experiência extrassensorial".

Sobre interpretar um personagem tão polêmico quanto Margareth Thatcher, Streep disse que não gosta de julgar os seus personagens. "Quando uma atriz interpreta alguém, não pode julgá-lo", disse ela. "Não digo se gosto ou odeio, senão não dá para entrar nele." Ela disse também que, como atriz de centro-esquerda americana, costumava associá-la ao presidente Ronald Reagan e a achar que ela tinha "cabelos feios e usava roupas terríveis".

Mas a atriz também reconhece algumas qualidades em Thatcher. "Acho que ela era uma feminista, goste ou não, ela abriu portas para as mulheres. Ela foi líder do partido conservador, que é muito especifico em relação a classe e gênero. Quando eu cresci, não havia mulheres presidentes de empresas. Havia enfermeiras, professoras. Mas outras coisas, não. Tudo mudou. E mudou por causa de mulheres como Thatcher", diz.

Streep aprendeu muito a respeito dela durante a pesquisa. "Enquanto os conservadores americanos são antiaborto, ela não era", disse a atriz. "Ela era química e falou de aquecimento global muitos anos atrás. O programa de saúde nacional, que não existe nos EUA, ela nunca mexeu. Ao mesmo tempo, entendo as opiniões. Estava interessada no retrato tridimensional, foi contra a corrente, autocrática. Mas foi corajosa num mundo totalmente diferente do que vivemos hoje."