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Danielle Winits interpreta consumista fútil que foge do estereótipo da "loira que malha" em "Até que a Sorte nos Separe"

Winits tem a maquiagem retocada no set de filmagem de "Até que a Sorte nos Separe" (24/2/12) - Divulgação
Winits tem a maquiagem retocada no set de filmagem de "Até que a Sorte nos Separe" (24/2/12) Imagem: Divulgação

Maria Martha Bruno

Do UOL, no Rio

28/02/2012 15h07

Um filme sobre dinheiro, sorte e consumo, mas com valores familiares e que instiguem a reflexão dos espectadores sobre o que realmente vale na vida. Essa é a interpretação de Danielle Winits sobre seu novo trabalho, "Até que a Sorte nos Separe", uma adaptação do roteirista Paulo Cursino baseada no best-seller "Casais Inteligentes Enriquecem Juntos", de Gustavo Cerbasi, e direção de Roberto Santucci, de “De Pernas pro Ar” (2010). A reportagem do UOL acompanhou um dia de filmagens com a atriz e a equipe do longa no set montado em um prédio antigo no Flamengo, zona sul da cidade, na última sexta (24).

No papel de Jane, Winits vive sua primeira protagonista no cinema, a mulher de Tino (Leandro Hassum), um pai de família tem sua vida radicalmente transformada ao ganhar da loteria. O casal passa a ter uma rotina de ostentação até que o dinheiro acaba e o marido resolve esconder a falência, já que a mulher, grávida do terceiro filho, não pode sofrer grandes emoções. Nas cenas gravadas, a personagem de Danielle retorna à casa onde a história do casal começou, produzida e bem vestida, mas falida. A atriz enxerga o trabalho como uma exaltação de valores familiares: "A mensagem que o filme passa são os reais valores que mantêm uma família unida. É o dinheiro? É a união do sentimento? É para as pessoas pensarem e levarem pra casa uma mensagem sobre o que é de verdade na vida"

Danielle diz que Jane, concebida especialmente para ela pelo roteirista, se enquadra no estereótipo do novo rico, mas vai além: "O personagem só teria valor se fosse humanizado, porque se ficasse só no estereótipo da loira, que vai na clínica estética, que malha, não seria singular. E a Jane pra mim é singular pelo todo que ela representa. Ela tem este interior de mãe de família, de guerreira, que dá a volta por cima, de aparentemente ser uma coisa e na verdade não ser. O externo não invalida o que a Jane é por dentro”. Assim como se identificou com a “mulher batalhadora que não tem medo de desafios” representada pela personagem, ela acredita que muitas espectadoras também vão se reconhecer na pele de Jane.

Em um momento movimentado de sua carreira, na reta final das filmagens e em cartaz no teatro com o musical “Xanadu”, a atriz, mãe de dois filhos, conta que sua relação com dinheiro é comedida e concentrada no futuro. “Já tive minha fase de gostar de fazer loucuras em viagens, mas sempre fui bem programada. Comecei a trabalhar muito cedo, então sempre priorizei me estabelecer e ter coisas mais sólidas. Tem dado certo até hoje. Ainda mais com dois filhos (risos), estou mais programada ainda. Eu gasto, mas invisto em cursos, viagens e quero investir no estudo deles. Já gostei de carro, hoje não faço a menor questão. Pra mim é simplesmente uma coisa que me leva daqui ali. Se tiver quatro rodas, ou até duas ou uma só (risos)... Pode ser até um patins, pra mim está ótimo”, brinca. Embora tenha se machucado e se afastado dos palcos por quase duas semanas após o acidente durante “Xanadu”, dia 28 de janeiro, em que junto com o ator Thiago Fragoso, Danielle despencou de uma altura de cerca de cinco metros, a atriz só ficou fora do set de “Até que a Sorte Nos Separe” por dois dias.

Hassum improvisa no set

O diretor Roberto Santucci repetiu no novo trabalho alguns componentes da fórmula de sucesso de “De Pernas pro Ar”. No longa com Ingrid Guimarães, Paulo Cursino, que já conhecia bem a atriz, foi responsável pelo roteiro. O mesmo aconteceu dessa vez com Hassum, já que o roteirista trabalhou com o ator em “Zorra Total” e no seriado “Os Caras de Pau”: “O Leandro é um cara que tem estrela e carrega um filme com facilidade”, elogiou Santucci.

Por outro lado, também por causa de Hassum, Santucci inovou em sua maneira de filmar, para extrair o máximo possível de um dos principais talentos do comediante: a improvisação em cena. “Para trabalhar com o Leandro neste time eu mudei a filmagem mesmo. Trabalhamos com três câmeras ao mesmo tempo para dar liberdade a ele de criar e improvisar na hora. A improvisação tem um frescor. Não dá pra ficar repetindo improvisação. Os primeiros takes são sempre os que valem mais”, conta o diretor. Danielle também ressaltou a espontaneidade do comediante, definido por ela como um showman. “Se deixar, a gente fica assistindo. É maravilhoso trabalhar com ele. A gente teve uma afinidade imediata”, conta.

A transformação de um best-seller de não-ficção, que dá dicas sobre a gestão eficiente do dinheiro em relações a dois, foi um dos principais desafios de Roberto Santucci e Paulo Cursino: “Tivemos que subverter isso para um cara como o Hassum, que no filme é um personagem que entende o livro quase que às avessas. Tentamos jogar com humor em cima disso sem sermos didáticos”. Ele afirma que selecionou trechos e ideias do livro e os encaixou na intenção que já tinha de fazer uma comédia sobre o tema.

A visão do diretor sobre a protagonista converge com a de Danielle: “Em um primeiro momento, ela é vendida como uma mulher que fez várias plásticas, super consumista, fútil, mas na verdade, ao longo do filme, a gente vê que isso é muito mais um olhar dele (do marido) do que quem ela verdadeiramente é. Por isso eu trouxe uma atriz que é capaz de dar a verdade (...) De início a gente estereotipa, para depois desconstruir”. O diretor enxerga o filme como uma crítica ao consumismo: “A casa dos ricos não é mais aquela coisa clean. As pessoas compram mais do que precisam. O mundo de hoje é um mundo de acúmulo. Tudo é um exagero. Eu quis fazer uma crítica a isso e dar um olhar do século 21 sobre a riqueza e o exagero, sobre como essas coisas não vendem tanta felicidade quanto a ideia que elas passam”, concluiu o diretor.