Topo

Nudez em "Paraísos Artificiais" é "grito contra a caretice do cinema nacional", diz Marcos Prado

O diretor Marcos Prado com cartaz de "Paraísos Artificiais" ao fundo - Divulgação
O diretor Marcos Prado com cartaz de "Paraísos Artificiais" ao fundo Imagem: Divulgação

Ana Okada

Do UOL, em São Paulo

06/05/2012 10h00

Produtor de "Tropa de Elite" I e II e diretor do documentário "Estamira", Marcos Prado estreia na ficção em "Paraísos Artificiais", lançado nos cinemas na sexta-feira (4). O longa aborda o boom do uso de drogas sintéticas feito por jovens de classe média nos anos 2000 em raves, em meio à história de amor vivida entre a DJ Érika (Nathalia Dill) e Nando (Luca Bianchi). Cheio de momentos "sinestésicos" (que estimulam os sentidos), no filme, o diretor conta que buscou trazer ao espectador a experiência de sentir um pouco do que se passa dentro da tela. Isso ocorre tanto quando os personagens usam drogas, quanto em cenas mais sensuais.

"É um filme meio 'voyerístico', muita gente não experimentou essas drogas, então pensei em mostrar a ação e a reação. Quis dar espaço para as cenas de sinestesia para quem está assistindo embarcar na viagem, tanto nas cenas de drogas quanto nas de sexo, de mar... Todas as cenas tem um simbolismo", diz.

Prado define as partes de sexo e nudez do filme como um "grito contra a caretice e puritanismo do cinema nacional". "Quis fazer cenas em que você pudesse experimentar um pouco o que o personagem está vivendo, por isso elas são longas e explícitas, dentro de uma preocupação em não ser pornográfico ou exagerado. É um grito de 'Gente, é tão lindo ver uma cena de sexo bem filmada'... É um grito contra a caretice e o puritanismo do cinema nacional", disse.

Além disso, para ele, essas cenas são "políticas", porque vão contra preocupações de censura --quanto maior a censura de um filme, mais restrito seu público e, consequentemente, menor é sua bilheteria.

O título, inspirado no livro de mesmo nome de Charles Baudelaire (1821-1867), foi uma sugestão de um amigo de Prado, embora o livro aborde as drogas do século XIX, tais como ópio e haxixe.

"Mato sem cachorro"

O diretor conta que tinha o desejo de dirigir um filme sobre drogas e, para isso, passou dois anos e meio pesquisando sobre o tema, falando com médicos, psicanalistas, indo a clínicas de reabilitação e a festas. Depois de tudo isso, ele decidiu que faria uma história simples, em que as drogas estariam em segundo plano. O objetivo, diz, era gerar uma discussão mais aprofundada sobre as drogas. "Tem uma nuvem [sobre o assunto] que tem que ser desmistificada, e um filme é sempre bom para discutir. Para mim, [se isso ocorrer], seria muito gratificante", diz.

No longa, os personagens vivenciam todos os possíveis efeitos das drogas: o prazer, o mal estar, as consequências do uso em excesso e problemas com a justiça. Érika e a amiga Lara (Lívia de Bueno) vão a uma rave e, lá, conhecem Nando. Érika o reencontra depois, em Amsterdã, mas acaba perdendo seu contato, sem saber que ele é preso por traficar drogas.

Para fazer a história, Marcos Prado diz que se viu num "mato sem cachorro": como falar de drogas sem "glamourizá-las" ou "ser careta"? Prado conta que tentou mostrar os dois lados. "Tive muita preocupação. Não posso falar que é bom mas, se não falar que alguém se diverte fazendo isso, ninguém vai ver [o filme] e, se ninguém ver, não tem discussão. Pensei, 'tô num xeque-mate, num mato sem cachorro...' Então quis fazer um filme que não fosse careta, mas que tivesse esses dois lados."

Mais do que mostrar as consequências do uso de drogas, Prado diz que buscou "entender os jovens". "Quis entender o jovem, deixar ele se posicionar, falar da droga e dos excessos e fazer um filme que entretesse e fosse lúdico e que perturbasse, que levantasse questões internas", explica. E os jovens não devem parar de povoar os próximos trabalhos do diretor. Ele conta que "Paraísos Artificiais" é o primeiro de uma trilogia sobre eles. O próximo projeto de Prado tratará de gangues de torcidas de futebol. O terceiro filme da série, porém, ainda está sendo definido.

TRAILER DE "PARAÍSOS ARTIFICIAIS"