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Festival de Cannes começa nesta quarta com diretores peso-pesado e recorde de estrelas

Cena do filme "Moonrise Kingdom", de Wes Anderson, que abre o Festival de Cannes 2012 - Divulgação
Cena do filme "Moonrise Kingdom", de Wes Anderson, que abre o Festival de Cannes 2012 Imagem: Divulgação

Thiago Stivaletti

Do UOL, em Cannes

16/05/2012 06h00

Se a Europa vive sua pior crise econômica em décadas, o mesmo não se pode dizer do Festival de Cannes, que começa nesta quarta (16). Seus organizadores conseguiram realizar a seleção mais peso-pesado dos últimos anos – tanto no quesito “autores de grande prestígio” como naquele que atrai a grande mídia, “os grandes astros de Hollywood” (e alguns da própria Europa).

Entre os diretores, basta dizer que, com exceção de Terrence Malick, todos os vencedores da Palma de Ouro desde 2006 apresentam novos filmes neste ano: o britânico Ken Loach (vencedor por “Ventos da Liberdade”) com “Angel’s Share”; o alemão Michael Haneke (“A Fita Branca”) com “Amour”; o romeno Cristian Mungiu (“4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias”) com “Além das Colinas”; o francês Laurent Cantet (“Entre os Muros da Escola”) com um dos segmentos de “7 Dias em Havana”; e o tailandês Apichatpong Weerasethakul (de “Tio Boonmee...”) com “Mekong Hotel”. Com os três primeiros na competição e mais o iraniano Abbas Kiarostami, Palma de Ouro em 1997, aumentam as chances de algum diretor entrar para a seleta lista dos bicampeões.

Além deles, a competição reúne outros mestres consagrados há mais de 20 anos, como o francês Alain Resnais e o canadense David Cronenberg. O brasileiro Walter Salles tenta sua primeira Palma com uma produção internacional, “Na Estrada” (“On the Road”).

E há ainda um punhado de diretores mais jovens pouco conhecidos do público, mas que já têm uma obra consistente, como o italiano Matteo Garrone, o francês Jacques Audiard, o ucraniano Sergei Loznitsa e o mexicano Carlos Reygadas. Além de uma leva de diretores americanos independentes, que construíram estilos pessoais às margens de Hollywood: Wes Anderson, Andrew Dominik, John Hillcoat e Jeff Nichols.

Hollywood na Riviera
A lista de estrelas no tapete vermelho nunca foi tão grande. Nicole Kidman e Matthew McConaughey levam dois filmes cada um à Croisette. Os dois estão juntos no drama “The Paperboy”, do mesmo diretor de “Preciosa” – num elenco que conta ainda com John Cusack, o ídolo teen Zac Efron e a cantora Macy Gray. Kidman ainda aparece ao lado de Clive Owen no romance “Hemingway e Gellhorn”, enquanto McConaughey contracena com Reese Witherspoon em “Mud”, também na corrida pela Palma.

Depois de levar a Palma de Ouro no ano passado como ator e produtor de “A Árvore da Vida”, Brad Pitt compete novamente com um violento filme de gângster, “Killing them Softly” – e, como sempre, deve trazer Angelina Jolie para as sessões de gala. Depois de anos sem um grande filme, Bruce Willis dá as caras em “Moonrise Kingdom”, o filme de abertura do festival – e traz com ele no elenco Edward Norton, Bill Murray e Tilda Swinton.

Isso sem falar no casal “Crepúsculo”, que chega a Cannes para provar que são atores de verdade, e não apenas rostinhos bonitos numa saga adolescente. Robert Pattinson, o vampiro Edward, deve injetar seu potencial de bilheteria no novo filme de David Cronenberg, “Cosmopolis” – que ainda reúne Paul Giamatti e os franceses Juliette Binoche e Mathieu Amalric. A “Bella” Kirsten Stewart encabeça o elenco de Walter Salles em “Na Estrada”, ao lado de Kirsten Dunst, Viggo Mortensen e Alice Braga.

Uma boa trupe de comediantes americanos desembarca na Riviera como dubladores da fauna de “Madagascar 3 - Os Procurados”: Ben Stiller, Chris Rock, Sacha Baron Cohen e David Schwimmer, o Ross de “Friends”. Há espaço até para os encrenqueiros profissionais: Shia LaBeouf, de “Transformers”, está no elenco de “Os Infratores”, enquanto o roqueiro Pete Doherty, preso inúmeras vezes por uso de drogas, está em “Confessions of a Child of the Century”.

Por fim, na paralela Quinzena dos Realizadores, o mexicano Gael García Bernal estrela o chileno “No”, como o jovem publicitário que comandou a campanha do “Não” em um referendo sobre a ditadura de Pinochet em 1988.

Brasil na fita

O Brasil este ano tem uma participação lateral em Cannes. Walter Salles é um diretor brasileiro na competição pela Palma, mas seu filme “Na Estrada” é uma produção internacional falada em inglês. O único brasileiro inédito no festival é o curta “O Duplo”, de Juliana Rojas, na Semana da Crítica. O país aparece como coprodutor de “La Playa DC”, de Juan Andrés Arango, filme colombiano na paralela Um Certo Olhar.

Como o Brasil é o país do momento na mídia internacional, os organizadores abriram um espaço de honra a cineastas veteranos. Nelson Pereira dos Santos tem seu último documentário, “A Música segundo Tom Jobim” (que já estreou no Brasil), exibido em apresentação especial. Cacá Diegues será o presidente do júri do Caméra d’Or, que premia um longa de diretor iniciante, e terá seu “Xica da Silva” (1976) exibido na seção Cannes Classics, junto com a cópia recém-restaurada de “Cabra Marcado para Morrer” (1984), o documentário de Eduardo Coutinho que figura em nove entre dez listas de filmes brasileiros mais importantes de todos os tempos.