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Vilão do novo "Homem-Aranha", ator de "Notting Hill" diz que redescobriu paixão pelo herói

Rhys Ifans em cena de "O Espetacular Homem-Aranha", de Marc Webb - Divulgação
Rhys Ifans em cena de "O Espetacular Homem-Aranha", de Marc Webb Imagem: Divulgação

Ian Spelling

Do New York Times, em Nova York

01/07/2012 07h00

Rhys Ifans era um fã do “Homem-Aranha”. Sério. O ator britânico, mais conhecido por suas interpretações em “Um Lugar Chamado Notting Hill” (1999) e “Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1” (2010), simplesmente não lembrava até conseguir o papel do dr. Curt Connors --e do alter ego demente de Connors, o Lagarto-- em “O Espetacular Homem-Aranha”, que estreia no Brasil nesta sexta (6).

ARANHA RENOVADO

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    "O Espetacular Homem-Aranha" traz um novo Peter Parker (Andrew Garfield) e renova a saga do aracnídeo, mas mantém a essência do personagem apresentado nos três primeiros filmes.

“Eu consegui o emprego e então pensei: ‘Bem, qual é o meu relacionamento com o Homem-Aranha?’”, diz Ifans, rindo. “Então as lembranças voltaram com tudo, realmente vívidas. Eu meio que fui um fã do Homem-Aranha, por assim dizer.”

“Revistas em quadrinhos nunca foram tão presentes na Inglaterra quanto nos Estados Unidos. Eram coisas que você se deparava em caixas nas garagens e eram quase uma forma de moeda: você quer trocar uma revista em quadrinhos por um single dos Sex Pistols?”

“Então me lembro de ter 7 ou 8 e uma revista do Homem-Aranha apareceu em casa, e na última página havia uma máscara com pontilhado para recortar. Você a coloria, havia dois furos para os olhos e então você a amarrava em sua cabeça. Por vários meses, quando menino, eu quis ser o Homem-Aranha.”

Essa fantasia não se realizou --Andrew Garfield interpreta o Homem-Aranha no novo filme, que é dirigido por Marc Webb-- mas Ifans, 44 anos, pelo menos interpreta o vilão em “O Espetacular Homem-Aranha”.

O filme narra o acidente que transforma o estudante nerd de ciências Peter Parker no Homem-Aranha, após ser picado por uma aranha radioativa no laboratório onde o simpático, bem intencionado e com um só braço Connors luta para descobrir o segredo da regeneração de membros dos répteis. Connors e o pai falecido de Peter foram amigos e parceiros de ciência, e o cientista gosta de Peter. Mas as experiências de Connors vão longe demais e, após se transformar na criatura monstruosa apelidada de Lagarto, ele se torna um risco para Nova York como um todo e para o Homem-Aranha em particular.

O afável Ifans aponta que, em muitos mega filmes baseados em histórias em quadrinhos, os vilões são trazidos apenas para lutar com o herói, verbal e literalmente. Mas “O Espetacular Homem-Aranha” dedica tempo para o desenvolvimento de “uma ligação muito genuína, emocional” entre Peter e Connors, que prossegue nas interações entre o Homem-Aranha e o Lagarto.

“Eu fiquei aliviado em navegar pelo oceano moral e ético tempestuoso que Connors precisa navegar no filme. Para mim, isso foi a chave. Independente dele se transformar em um réptil, há um verdadeiro conflito de interesse aí. O fato de um personagem ter isso é ao mesmo tempo difícil e recompensador de interpretar. É o que você deseja como ator.”

“Além disso, ele não é exatamente um vilão. Mesmo no último minuto, quando a Oscorp tenta seguir uma linha de experimentação que envolveria membros involuntários do público, Connors decide abnegadamente se tornar seu próprio rato de laboratório, para que seu braço cresça de novo. Os modelos por computador dizem que a ciência e a tecnologia funcionam, mas o que ele não espera é que a psique réptil mexerá com sua ética humana.”

“Então, sim, Connors consegue seu braço de volta, mas também adquire essa arrogância réptil fria, e isso se torna viciante. Essa sensação confiante e poderosa toma conta. Os répteis são criaturas bastante solitárias e muito diferentes dos seres humanos. Ele se torna como um viciado em metanfetamina, onde se sente com o poder de vários homens, se sente como um deus, tomado por euforia... e isso provoca sua queda. Ele quer mais e quer que todo mundo se sinta como ele.”

Muito do que os espectadores verão do Lagarto não dependeu de Ifans e o mesmo vale em parte para Connors: o braço direito de Ifans foi removido digitalmente para dar a ilusão de que Connors o teve amputado, enquanto a equipe de efeitos especiais liderada por Jerome Chen usou animação por computador para criar a criatura de mais de 2,5 metros, como um dragão de Komodo, que ameaça o Homem-Aranha.

"Eu tive que confiar bastante em Marc Webb e no pessoal dos efeitos. Eu trabalhei estreitamente com eles a todo momento. Havia muitos estímulos visuais ao meu redor e eles fizeram muito trabalho de antemão, de modo que eu sabia exatamente como o Lagarto seria e o que eu precisava fazer. Eu trabalhei estreitamente com o pessoal dos efeitos a respeito de como ele se moveria".

TRAILER DO FILME "O ESPETACULAR HOMEM-ARANHA"

“Em muitas ocasiões eu me vestia como um boneco de teste de colisão com uma grande cabeça de papelão, para que Andrew pudesse direcionar corretamente o olhar. Então eu decidi me envolver mais no processo, apenas para ter o senso do tamanho da besta em que ele se transforma, do peso, mobilidade e do desfrute de seu poder.”

Ifans não poupa elogios a Garfield, o Peter Parker de seu Connors e o Homem-Aranha de seu Lagarto. Os dois passaram muitas horas trabalhando juntos, interpretando o estudante o mentor, ou o herói e o bandido, em cenas simples com os dois conversando ou em sequências elaboradas envolvendo telas verdes, cabos e arreios.

“Eu fiquei impressionado com Andrew em dois níveis. A forma como ele mapeou a jornada emocional de seu personagem é simplesmente linda. Você vê esse garoto ligeiramente chato no início, que então realmente cresce ao longo do filme. Quando ele se apaixona pela primeira vez, você sabe que é a primeira vez, e quando ele se enfurece com a perda de seu pai, essa sensação de injustiça, você realmente sente isso e vê como aquilo o afeta.”

“Somado a isso, você vê um lado físico. Você realmente sente esse homem jovem que está incomodado com seu próprio corpo, esse adolescente repleto de hormônios e em evolução. Vê-lo passar de um garoto desajeitado, desconfortável, ao ser olimpiano, aracnídeo, que é o Homem-Aranha, é uma jornada bela, como de balé. É uma interpretação incrível.”