"Não quero fazer parte da indústria do entretenimento", diz Kristen Stewart
Conhecer Kristen Stewart pessoalmente é perceber como Hollywood também pode enfear uma pessoa. Sim, ela é baixinha (tem 1,63 m de altura), mas é muito mais bonita do que na Saga Crepúsculo. Os cabelos negros e pesados dão lugar a um cabelo claro e volumoso; os olhos negros dão lugar aos olhos verdes (ela usa lentes escuras para "Crepúsculo") e uma discreta sombra prata. Uma camiseta do grupo Blondie completa o look sexy – impossível estar mais longe da virginal Bella Swan.
Com apenas 22 anos, Kristen já atuou em 26 filmes, incluindo o sucesso estrondoso da Saga Crepúsculo – e por isso aparenta uma grande maturidade para sua idade. A inocência de Bella dá lugar a uma moça inteligente, articulada e decidida, que domina tudo sobre o seu papel mais adulto até agora – a liberada Marylou, amante de Dean Moriarty em "Na Estrada", do brasileiro Walter Salles, que estreia nesta sexta-feira (13) nos cinemas. Estar no filme era um sonho que ela acalentava desde que leu "On the Road", de Jack Kerouac, quando tinha 14 anos e fez dele o seu livro de cabeceira.
No Festival de Cannes 2012, onde "Na Estrada" competiu na mostra, Kristen conversou com o UOL Cinema e com jornalistas estrangeiros à beira da piscina do hotel Five, bem próximo ao Palácio dos Festivais, onde falou sobre como foi trabalhar com o diretor brasileiro e sobre suas expectativas para seu futuro no cinema --ela diz que não pretende fazer parte da "indústria do entretenimento". "Acabei de tirar uma soneca e estou morrendo de sede. Alguém pode me arrumar uma água?", pede, antes de tomar uma Don Perignon direto da garrafa, ignorando o copo bem à sua frente.
UOL - Como foi interpretar Marylou? Você se guiou mais pela leitura do livro ou foi buscar as emoções da personagem?
Kristen Stewart - Tive que respirar... Respirar forte [risos]. Marylou não podia ser mais diferente de mim. É uma das pessoas mais generosas e de cabeça aberta que se pode imaginar. No livro ela é engraçada, sexy, liberal para o seu tempo. Como sou uma garota mais sensível, tive minhas dúvidas se ia conseguir dar conta do desafio. Luanne Henderson [amante de Dean Moriarty que inspirou a personagem Marylou do livro] não tinha limites. Ninguém podia enfraquecê-la; ela tinha tudo para dar e esperava o mesmo tanto em troca. Tive muita sorte em ter acesso às fitas de áudio com conversas de Kerouac e a muitos escritores e biógrafos que escreveram sobre essas pessoas. Porque o livro não é focado em Marylou. Meu trabalho foi entender por que ela fez tudo o que fez, e não apenas interpretar uma garota sexy e engraçada.
UOL - Você participou do acampamento que foi organizado para integrar a equipe e o elenco?
Kristen Stewart - Sim. O acampamento foi mais para aprender a dançar com Garret [Hedlund, que vive Dean Moriarty], escutar as músicas da época e fumar muitos cigarros na varanda. A relação que criamos nesse filme entre os atores e a equipe foi muito forte, sem paralelo com nada que eu já vivi em qualquer outro filme.
UOL - Por que "On The Road" é um dos seus livros preferidos?
Kristen Stewart - Quando eu li o livro, meu pensamento foi: "Meu deus, preciso encontrar pessoas que me empurrem para a vida dessa maneira". Quero amigos que me provoquem. Esses personagens têm um respeito tão grande pelos seus sentimentos, é como se eles gritassem: "Aguente firme! Você não precisa ter lógica!". E assim que sentei na frente de Walter [Salles], soube que a gente amava o livro pelas mesmas razões. A única maneira de filmar "On the Road" era conhecer cada linha do livro de cor, depois esquecer tudo e encontrar sua própria maneira de dizer aquelas falas. Se a gente recitasse o livro, os fãs ficariam decepcionados. Você quer ver a coisa vibrar, respirar, não quer saber para onde a história vai. Assim como o livro, o filme tem muitas avenidas, não te leva a um único lugar.
UOL - Como foi trabalhar com Walter Salles?
Kristen Stewart - Nunca conheci alguém com esse poder de despertar uma dedicação tão pura em outras pessoas. Claro, isso vem do livro, mas vem dele também. A confiança era tanta que a gente se deitaria no chão e o deixaria passar por cima da gente para atravessar a rua se ele pedisse. Com algumas pessoas, a gente se conecta muito rapidamente, do tipo "uau! Sim, você é o meu chefe". Ele conhece mais do que qualquer pessoa sobre o universo do livro e do filme. Ele fez tanta pesquisa que sabe mais do que os biógrafos de Cassidy e Kerouac. E é tão obcecado a ponto de, no final das filmagens, ter deixado a gente preocupado, porque ele estava tão magro e exausto... Essa é a única razão pela qual as pessoas deviam trabalhar na vida. Ele conta histórias porque precisa. Sim, ele é incrível.
UOL - Como você se sente neste ponto da sua carreira? Tranquila sobre o futuro, ou com uma expectativa de como vão ver você depois da "Saga Crepúsculo"?
Kristen Stewart - Sinceramente, não busco nada específico na minha carreira. É um trabalho muito estranho esse, de fingir ser uma outra pessoa e deixar os outros assistirem a isso. É preciso algo muito especial, que eu nunca sei exatamente o que é até descobrir. Odeio os que colocam os filmes em caixas, em gêneros. Vai parecer pretensioso o que eu vou dizer, mas não quero fazer parte da "indústria do entretenimento". Os filmes podem ser algo muito importante, se você quiser que eles sejam. Só assim vale a pena fazer algo tão ridículo quanto "atuar num filme".
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