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Cenários de "Batman" misturam cidades reais e uma Gotham construída em estúdio

Um dos locais em que foi filmado "Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge", o Hangar Cardington, na Inglaterra, também é destinado à construção de dirigíveis - Divulgação/Hangar Cardington
Um dos locais em que foi filmado "Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge", o Hangar Cardington, na Inglaterra, também é destinado à construção de dirigíveis Imagem: Divulgação/Hangar Cardington

Roberto Sadovski

Do UOL, em São Paulo

26/07/2012 07h00

Era o fim de 2006 e atores esperavam para falar com a imprensa durante uma visita de set. O filme era "Fred Claus" (ou "Titio Noel", como chegou por aqui só em DVD), de David Dobkin ("Penetras Bons de Bico"), e o cenário tomava ao menos um terço do gigantesco Cardington Airship Hangar, distante uns quarenta minutos de Londres. Um terço, e parecia apertado para o filme. Por que não usar o resto do estúdio? “É que do outro lado está Gotham City”, disparou Dobkin. “Lá é território proibido.”

ESTREIA NA NOITE DE QUINTA

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    "Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge" estreia no Brasil na noite desta quinta-feira (26). Veja os melhores locais para assitir a produção, que tem diversas cenas filmadas em Imax.

Os estúdios em Cardington são dois colossos erguidos no começo do século 20 para a construção de dirigíveis. Nos anos 40, o lugar passou a abrigar balões que protegiam os céus da Inglaterra de ataques aéreos durante a Segunda Guerra, mas foi no fim dos anos 60 que um dos gigantescos hangares passou a funcionar como estúdio de cinema – o segundo, nunca reformado, permanece como parte da história da região de Bedfordshire.

O lugar aparece, brevemente, na primeiríssima cena de "Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge", pouco antes de uma equipe da CIA embarcar com um cientista sequestrado e outros passageiros menos... confiáveis.

Mas o diretor Christopher Nolan começou sua história com Cardington em 2004, quando parte da produção de "Batman Begins" se mudou para lá. Mais precisamente o Narrows, onde fica o Asilo Arkham no filme que redefiniu o Homem-Morcego e por onde ele sobrevoa os habitantes de Gotham tomados pelo gás do medo do Espantalho, e também a base do monotrilho onde acontece o clímax do filme. Embora o lugar não tenha sido usado durante a produção de "Batman: O Cavaleiro das Trevas", Nolan e cia. retornaram para rodar lá sequências-chave de "O Cavaleiro das Trevas Ressurge".

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    Diferente dos filmes "Batman" da franquia de Tim Burton, a Gotham City retratada por Christopher Nolan é mais realística

Entre os grandes diferenciais da trilogia do Batman comandada por Nolan em relação aos dois filmes dirigidos por Tim Burton ("Batman", de 1989, e "Batman - O Retorno", de 1992) e Joel Schumacher ("Batman Eternamente", de 1995, e "Batman & Robin", de 1997) está a percepção de Gotham City ser uma cidade de verdade, e não pedaços em galpões. Por isso o uso de estúdios (além de Cardington, Nolan usou Pinewood, palco da série "007", e soundstages da Warner em Los Angeles) completa a ideia de rodar em cidades de verdade. "Batman Begins" e "O Cavaleiro das Trevas" basicamente usaram Chicago como “dublê” de Gotham.

Já "Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge" traz maior equilíbrio entre locações e estúdios. Chicago dá espaço a Pittsburgh e a Nova York como “cara” de Gotham City, e o trabalho indoors se tornou maior, até pela necessidade de controlar melhor o ambiente. Ainda assim, os cenários mantém o gigantismo e a escala que Nolan conferiu a seus filmes com o Homem-Morcego: mais cenários significam menos extensões geradas por computador, e a ilusão de Gotham como uma cidade real é mantida.

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    O Morcego, o veículo voador de Batman em
    "O Cavaleiro das Trevas Ressurge"

As cenas com o Morcego, o veículo voador do herói no novo filme, foram rodadas com um modelo em escala real, trafegando em guindastes por entre as ruas de Pittsburgh e de Los Angeles – o pessoal com um celular em mãos criou uma centena de vídeos da ação que estão espalhados pelo YouTube. Até um cineasta como Christopher Nolan, que mantém em segredo até o lançamento as tramas de seus filmes, não conseguiu manter algumas surpresas na gaveta por conta de sua opção em filmar em cidades de verdade. É o preço do realismo.

O UOL visitou Gotham City em julho de 2011, em Cardington, na Inglaterra, e teve acesso aos cenários de "Batman: O Cavaleiro das Trevas" e ao processo complexo de organizar uma filmagem de 250 milhões de dólares. Uma verdadeira operação de guerra. Além do tamanho impressionante dos hangares, logo saltou aos olhos o avião negro montado na frente do lugar. Não um avião “inteiro”, e sim a fuselagem montada sobre uma armação hidráulica que o fazia ficar na vertical.

Apesar dos dublês que rodaram a cena inicial do filme em aviões de verdade, a ação no interior do jato foi filmada por Nolan praticamente no quintal de Cardington.

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    Bane (Tom Hardy) em cena de "Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge"

O primeiro lugar dentro do estúdio mostrado aos repórteres foi um dos batbunkers – uma das bases escondidas que o Batman mantém espalhadas por Gotham. É o mesmo cenário usado em "O Cavaleiro das Trevas", o esconderijo do herói enquanto a mansão Wayne era reconstruída. Em seguida, a figurinista Lindy Hemming mostrou o traje do Homem-Morcego e adiantou que seria o mesmo usado no filme anterior. “Christopher não gosta de fazer mudanças estéticas”, explica. “Tudo para ele precisa de uma função.” A roupa do vilão Bane estava exposta ao lado do traje do Batman – e, como ele, é uma roupa funcional. “É o uniforme de um mercenário, de alguém que vive em guerra”, conta Hemming. “Não quis seguir o traje de 'luchador' dos quadrinhos, ele não parece nem um pouco ameaçador”, brinca.

Em seguida somos conduzidos a cenários que surgem pela primeira vez em "O Cavaleiro das Trevas Ressurge" – ou quase. Se o primeiro, o covil do exército subterrâneo de Bane, nunca havia sido mostrado nos filmes de Nolan (quando perguntei o que os destroços de um Tumbler, a versão do diretor para o Batmóvel, fazia lá, a resposta foi um sorriso silencioso do produtor Jordan Goldberg), o segundo era uma história diferente. A princípio o cenário parece uma prisão (“Mas ainda não posso dizer quem fica preso”, disse Goldberg), mas uma inspeção mais cuidadosa – e um canto com uma placa escrito “É proibido filmar esta área” – mostra uma imensa semelhança com o covil de Ra's Al Ghul em "Batman Begins". Inclusive o lugar de treinamento de Bruce Wayne. Reutilização de cenários? “Você está quase certo”, disparou o enigmático Goldberg.

TRAILER DUBLADO DE "BATMAN: O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE"

Se as respostas para os enigmas de Gotham City são respondidas com a estreia de "Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge", o destino da cidade continua envolto num manto sombrio. Christopher Nolan dá adeus ao universo do Homem-Morcego com o fim de sua trilogia, e o futuro da cidade de mentira, seus prédios sombrios, ruas escuras e ameaças implacáveis repousa em um imenso ponto de interrogação (não, nenhuma relação com o vilão Charada). Mesmo a aventura "O Homem de Aço", produzida por Nolan e que reapresenta o Superman, marcada para ano que vem, abraça um estilo completamente diferente para construir este universo.

É inevitável que, em três ou quatro anos, o estúdio reimagine Batman e Gotham City com outro diretor – que pode ou não usar o estilo hiper-realista de Christopher Nolan para recriar a saga do Homem-Morcego. Mas é certo que a cidade que repousa entre as paredes do imenso hangar de Cardington viu pela última vez a luz do dia, foi pela última vez capturada em celuloide. Mas, como o cinema nos prova ano após ano, nada é impossível. Principalmente para um herói tão resiliente como o Batman. Para ele, este final representa apenas um novo começo.