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Filme protagonizado por atores com síndrome de Down é aplaudido de pé em Gramado

Cena de "Colegas", de Marcelo Galvão, que concorre entre os filmes nacionais - Divulgação
Cena de "Colegas", de Marcelo Galvão, que concorre entre os filmes nacionais Imagem: Divulgação

Mariane Zendron

Do UOL, em Gramado (RS)

14/08/2012 16h51Atualizada em 15/08/2012 02h14

O filme “Colegas”, de Marcelo Galvão, foi o que recebeu, até agora, a recepção mais calorosa do público do Festival de Gramado. Exibido nesta segunda-feira (14), o road movie sobre três jovens com síndrome de down é, segundo o diretor, direcionado à família e ao público infanto-juvenil, mas foi aplaudido de pé no final da exibição por uma plateia composta por uma maioria de adultos. Narrado por Lima Duarte, o filme retrata a aventura de Stalone, Aninha e Márcio que fogem do instituto onde vivem para realizar seus sonhos: ver o mar, casar e voar, respectivamente. 

Em conversa com o UOL, horas antes da exibição do longa, Galvão contou que foi criado com um tio que tem síndrome de Down, mas a ideia é que a condição fosse parte e não o foco da história. “Passei minha infância com uma pessoa fantástica. Uma criança no corpo de um adulto. Não queria fazer um filme sobre o Down, mas um filme para cima, como eu via meu tio”. Inspirados por “Thelma & Louise”, os protagonistas fazem loucuras como roubar um carro e assaltar um posto de gasolina, mas, para eles, tudo não passa de uma brincadeira.

O filme de Ridley Scott não é o único citado no quinto filme de Galvão. “Colegas” faz citações a diversos filmes, umas bem óbvias, como “Cidade de Deus” e “MIB - Homens de Preto”, e outras mais subliminares, como “Blade Runner”.

Em entrevista coletiva na tarde desta terça-feira (14), o diretor disse que testou mais de 300 atores com síndrome de Down até chegar nos três principais, Ariel Goldenberg, Breno Viola e Rita Pokk. Após serem escolhidos, os atores ensaiaram por quatro anos até que estivessem prontos para os personagens. “Quando eu estava triste, a Aninha também estava e quando eu ficava feliz, ela também”, contou Rita, emocionada, sobre a preparação para sua personagem.

Ariel e Rita, que são casados fora das telas e vieram a Gramado para ajudar da divulgação do filme, estão confiantes em relação à aceitação do público e crítica em relação ao filme. “Quando ganhar o Kikito, vou dedica-lo à minha mãe, que me ajudou a decorar as falas”, disse Pokk. “Vai fazer muito sucesso”, acredita Ariel. Ariel também confia que o filme possa receber uns cinco Oscars e ainda fez questão de citar sua frase preferida do filme que faz referência ao clássico "Pulp Fiction": "Everybody be cool, this is a robbery!" (Fiquem calmos, isto é um assalto).

A atriz Juliana Didone mostrou entrosamento com os protagonistas e disse que não pensou duas vezes em aceitar participar do filme. Ela vive uma jornalista sensacionalista que acompanha a fuga do trio. "Toparia fazer uma árvore. Foi uma experiência que vou levar para sempre", afirmou. "Colegas", que ainda tem Daniele Valente e Leonardo Miggiorin no elenco, tem previsão de estreia para novembro deste ano.

Audiodescrição
A exibição de “Colegas” também trouxe uma novidade a esta edição de Gramado. Os organizadores do evento ofereceram o recurso da audiodescrição, que beneficia deficientes visuais, pessoas com síndrome de Down, problemas neurológicos ou dificuldades de memorização. "Saneamento Básico", em 2007, já havia usado o recurso em Gramado. Com a iniciativa, uma fila de 25 deficientes visuais se formou no Palácio dos Festivais, na noite desta segunda (13), para acompanhar a exibição.