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"Cidade de Deus" completa 10 anos como marco do cinema nacional

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Imagem: Divulgação

Daniel Solyszko

Do UOL, de São Paulo

30/08/2012 07h00

Em 30 de agosto de 2002, “Cidade de Deus” estreava nos cinemas brasileiros. Violência urbana e favelas já tinham sido mostradas inúmeras vezes no cinema nacional, mas o filme foi celebrado por trazer uma nova linguagem para as telas, deixando para trás tanto a pesada herança intelectual do Cinema Novo quanto o estilo mais apelativo do cinema popular dos anos 1970 e 1980. 

O longa-metragem de Fernando Meirelles e Kátia Lund chamou a atenção de crítica e público por sua pegada pop, com uma montagem e uma fotografia que lembravam a estética da publicidade e dos videoclipes (os dois diretores tinham experiência nessa área), mas validadas por um roteiro consistente. Principalmente, era um filme cuja produção tinha um padrão de qualidade internacional.

 

O filme acabaria lucrando US$ 30 milhões internacionalmente e quatro indicações para o Oscar, incluindo melhor direção e roteiro adaptado. “Eu nunca revi, mas gosto muito. Acho que foi o filme certo na hora certa. Houve todas essas coisas onde tudo conspira a favor. Tem poucas coisas nele que eu mudaria”, disse o diretor em entrevista ao UOL.

 

Saiba mais

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Após a estreia internacional de “Cidade de Deus” em Cannes criou-se um clima de tensão entre os diretores do filme, que culminaria com Kátia Lund abrindo um processo judicial contra Fernando Meirelles e a produtora O2 para que seu nome aparecesse com maior destaque nos créditos do filme. Os dois deixaram de se falar na época, e não voltariam a trabalhar juntos novamente.

O livro de Paulo Lins no qual o filme foi baseado havia sido lançado em 1997 com bastante sucesso pela Companhia das Letras. A relação entre a diretora Kátia Lund e o escritor começou quando ela o entrevistou para o documentário “Notícias de Uma Guerra Particular” (1999), que fez com João Moreira Salles.

“A primeira entrevista de destaque do Paulo Lins foi a que ele fez para o ‘Notícias’”, lembra Kátia em entrevista ao UOL. Depois disso, ela e Lins trabalharam juntos em um clipe da banda O Rappa e ficaram amigos.

A diretora já conhecia bem as favelas cariocas e foi responsável por fazer a conexão entre a comunidade e a produção do filme. “Eu já estava muito envolvida com tudo aquilo antes de o filme acontecer. O documentário não tinha atingido tanta gente, e vi uma oportunidade ali. Eu vejo o filme [Cidade de Deus] como o resultado de 10 anos de trabalho. Foi o ápice de tudo que eu já tinha feito antes”, diz.

Uma das principais contribuições da codiretora se deu no seu trabalho com os atores, a maioria composta por não profissionais que habitavam as favelas do Rio. Uma das coisas que mais chamam a atenção no filme é a espontaneidade das interpretações.

Documentário
Como parte das comemorações de 10 anos da obra, os diretores Cavi Borges e Luciano Vidigal rodaram um documentário, atualmente em fase de edição, mostrando o que aconteceu com o elenco. Borges conta que a ideia inicial era lançar o filme no Festival do Rio desse ano, mas ele não ficou pronto a tempo. “Se lançasse agora, não ia ficar como eu queria. Vamos tentar estrear o filme no Festival de Cannes do ano que vem, porque foi lá que tudo começou”, conta, referindo-se à estreia internacional do filme original.