"Não se pode negar que há violência no mundo", diz Oliver Stone ao comentar "Selvagens"
A versão californiana do paraíso terrestre conta com o cultivo e a venda, com enorme sucesso, da mais potenta e pura maconha do mundo. Três amigos são responsáveis pela façanha: o neohippie Ben (Aaron Johnson), o ex-fuzileiro naval Chon (Taylor Kitsch) e Ophelia (Blake Lively), a namorada de ambos que também é conhecida simplesmente como O. Este é o cenário inicial de "Selvagens", novo longa de Oliver Stone.
Mas o sonho é ameaçado quando um poderoso cartel mexicano, lidetado por Elena (Salma Hayek), se mostra interessado em controlar a distribuição da droga. O rapto de O pelos capangas de Elena (Benicio del Toro e Demian Bichir) deflagra uma espiral de violência, com ataques e contra-ataques que desafiam o espectador a decidir quem são os “selvagens” do título.
A direção segura de Stone – que afirma ter sido atraído naturalmente pelo livro que inspirou o filme -- aliada à bela fotografia de Daniel Mindel e um conjunto de atuações muito bem conduzidas são os pontos altos deste retorno do cineata ao universo da ultraviolência contemporânea. Veja abaixo o que o próprio tem a dizer sobre o retorno em entrevista ao UOL.
UOL - Como foi o caminho do livro até a criação do filme?
Oliver Stone - O livro apareceu na minha vida de forma inesperada, foi amor à primeira vista. Era um thriller empolgante, com uma perspectiva nova da guerra das drogas: agricultores independentes que estão cultivando a melhor maconha do mundo na Califórnia. De repente, batem de frente com uma grande corporação, um cartel mexicano, e resolvem revidar. Eu mesmo comprei os direitos e comecei imediatamente a trabalhar na adaptação junto a Don Winslow [autor do livro] e Shane Salerno [roteirista]. Para mim, o longa é sobre uma jornada ao fundo do abismo.
O tema – guerra das drogas – é algo que ocupa seu interesse há algum tempo. Ao abraçar esee filme, que conclusões você tirou?
Em primeiro lugar gosto de pensar que vivi num dos estados mais progressistas dos Estados Unidos, onde a maconha é, em larga margem, legalizada. O governo federal pode discordar mas o governo estadual é mais esclarecido que o federal neste caso. O problema da guerra das drogas acontece aqui, colado na nossa fronteira. Começou nos anos 1960, quando voltei do Vietnã. Nixon declarou essa guerra em 1969 e, muito rapidamente, ela se tornou um tremendo desastre.
Existem mais pessoas usando drogas hoje, nas escolas, do que jamais em nossa história. É a repetição da lei seca, que, como se sabe, só fez aumentar o consumo e o crime. E cada presidente depois dele só aumentou essa política de criminalização, até mesmo a administração Obama. Como consequencia,a economia mexicana foi destruída a tal ponto que a economia do país depende das drogas.
Sem o dinheiro das drogas eles têm, basicamente, o turismo, o dinheiro que os imigrantes enviam para suas familias e um pouco de petróleo. As drogas são o maior segmento de uma economia subterrânea. Mas não é esse o caso do México porque o volume de dinheiro é tão grande que circula livremente pelo sistema bancário.
E aqui do nosso lado temos uma outra indústria: armas, policiais e prisões que movimentam muitos bilhões de dólares. É uma situacão monstruosa, enorme, que está engolindo nós e o México.
Qual seria sua solução ideal?
Legalizar as drogas. Mas não acredito que isso seja possível neste país. Se pelo menos considerássemos a descriminalização, já seria um grande passo.
Você tem um lado selvagem?
Com certeza. Não com armas, mas há uma boa dose de selvageria verbal no meu trabalho. Sou atraído por temas de alto risco. Seja o presidente Bush, Wall Street ou os policiais que estavam no World Trade Center quando ele desabou, todos são temas intensos e arriscados. Não se pode negar que há violência no mundo. Ao amadurecermos, temos que aprender o que é violência necessária e desnecessária.
* A programação é de responsabilidade da organização do Festival do Rio 2012. É recomendável checar horários e lotação no site oficial do evento ou nos telefones de informação listados.
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