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James Bond copiou "Star Wars" e inspirou de "Missão Impossível" a "Austin Powers"

"007 - Contra o Foguete da Morte", batalha no espaço bebe nas fontes da saga "Star Wars" - Divulgação
"007 - Contra o Foguete da Morte", batalha no espaço bebe nas fontes da saga "Star Wars" Imagem: Divulgação

Eduardo Torelli

Do UOL, em São Paulo

02/10/2012 06h45

Foram tantos vilões combatidos nos últimos 50 anos – sem contar as torturas sofridas e os “baques” sentimentais, como a morte trágica da esposa, em 1969 –, que James Bond perdeu aquele excesso de autoconfiança demonstrado no passado. Hoje, um pouco inseguro, ele deu para imitar a concorrência, especialmente os agentes secretos norte-americanos Jack Bauer e Jason Bourne.

Mas nem sempre foi assim. Na verdade, por muito tempo, os outros espiões é que tentavam imitá-lo – com diferentes graus de sucesso, claro. Quem não se lembra, por exemplo, dos impagáveis “Agentes da UNCLE” (vividos por Robert Vaughn e David McCallum na série homônima produzida entre 1964 e 1968)? Deitando e rolando no vácuo da “Bondmania” (que tomou o mundo de assalto naquela década) eles também aprontaram no cinema, pois alguns episódios do seriado foram condensados na forma de longas-metragens e exibidos no telão.

Da mesma época – só que ambientado no Velho Oeste – é ”James West”, outro programa de TV antológico que apostou na fórmula “agente secreto versus gênio do mal”. O mocinho em questão era um precursor de 007 que, com o auxílio do fiel parceiro Artemus Gordon, encarava ameaças deste e do outro mundo, sempre fazendo uso de invenções surpreendentes. A série foi muito popular na época – embora, nem de longe, tenha feito a cabeça dos telespectadores como outra variação das aventuras de Bond produzida para a telinha, “Agente 86” (criada por Mel Brooks e Buck Henry em 1965 e estrelada por um impagável Don Adams). Um escracho só, o seriado mostrava o pândego espião Maxwell Smart em hilariantes batalhas contra a organização KAOS. Uma delícia!

Outras imitações de Bond tentaram ser um pouco mais sérias, como “Modesty Blaise” (1966) e “Flint Contra o Gênio do Mal” (também de 66). Flint foi mais bem-sucedido e teve direito a um segundo filme, lançado no ano seguinte (“Flint: Perigo Supremo”). Mas, apesar de o herói ser interpretado por um ótimo ator, James Coburn, a série não teve impulso para seguir em frente. Sem problemas: ao menos, a coisa não desandou como na saga de “Matt Helm” (outro clone “bondiano”, este, vivido por... Dean Martin!), protagonizada por um superagente canastrão ao extremo, além de chegado em uma “birita”.

Da mesma forma, os filmes (que criaram uma mitologia peculiar na década de 1960, com mulheres usando decotes e penteados ousados e cenários dignos das aventuras de Julio Verne, como o vulcão extinto que serve de base para o vilão Blofeld em “Só Se Vive Duas Vezes”) foram incorporando tendências mais contemporâneas à medida que outros ícones – como Rambo e Indiana Jones – passaram a disputar com Bond as atenções da plateia.

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    Tom Cruise em cena de "Missão Impossível"; original é um dos "filhos" de 007

James Rambo

Da mesma forma, os filmes (que criaram uma mitologia peculiar na década de 1960, com mulheres usando decotes e penteados ousados e cenários dignos das aventuras de Julio Verne, como o vulcão extinto que serve de base para o vilão Blofeld em “Só Se Vive Duas Vezes”) foram incorporando tendências mais contemporâneas à medida que outros ícones – como Rambo e Indiana Jones – passaram a disputar com Bond as atenções da plateia.

Nos anos 1970, pegando carona no êxito de “Operação Dragão” e “Star Wars”, James Bond aprendeu Kung Fu e foi ao espaço (respectivamente, em “O Homem da Pistola de Ouro” e “O Foguete da Morte”). Depois, já sob a influência de Spielberg e Stallone, foi um “Indiana Jones dos ricos” em “Octopussy” e teve seu momento “exército de um homem só” no violento “Permissão Para Matar” (a primeira tentativa de injetar realismo e ultra-violência em um filme do herói, esforço, então, incompreendido pela crítica e pelo público).

Outros Bonds genéricos pipocaram nas décadas seguintes – de Remo Williams a Austin Powers (uma truculenta paródia ao 007 de Sean Connery, que rendeu três longas impagáveis), de Harry Tasker (este, encarnado por Arnold Schwarzenegger em “True Lies – Verdades e Mentiras”) a Sydney Bristow  (“Alias”) e Xander Cage (o infame herói de “Triplo-X”, uma tentativa de transformar o brucutu Vin Diesel em um “James Bond marombado”; tsc, tsc).

A melhor e mais válida derivação do universo de 007, porém, ainda é “Missão Impossível”, uma telessérie clássica dos anos 60 que se saiu muito bem ao ser tardiamente transposta para o cinema (com Tom Cruise vivendo o espião Ethan Hunt). Cá entre nós: nos últimos tempos, os filmes de Hunt carregam mais o legado original de Bond que as próprias sequências de 007 estreladas por Daniel Craig, que abdicaram da sofisticação, das mulheres deslumbrantes e dos super vilões em prol de uma abordagem “pé no chão”.