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Personagens do longa coreano "O Gosto do Dinheiro" vivem em plano suspenso

Cena do filme "O Gosto do Dinheiro", de Im Sang-soo - Divulgação
Cena do filme "O Gosto do Dinheiro", de Im Sang-soo Imagem: Divulgação

Chico Fireman

Do UOL, no Rio

04/10/2012 10h42

O coreano Im Sang-soo gosta de tomar liberdades. Ele mesmo afirma que o protagonista de “O Gosto do Dinheiro”, seu novo filme, destaque do Festival do Rio, não tem espaço na vida real. Segundo o cineasta, no mundo do poder, a possibilidade de dizer ‘não’ inexiste, mas ele guarda para si o direito de criar um personagem cujos princípios reconhece e preza. Um personagem que parece perdido nos dias de hoje.

A confissão do diretor explica um pouco do tom do filme, uma visão quase caricatural sobre os bastidores do mundo corporativo. Um recorte que mora no universo limítrofe entre drama e comédia, um universo tipicamente coreano. Situando o filme neste cenário, onde o tema é verossímil, mas os personagens se movimentam como numa realidade cartunesca, Sang-soo cria um contraste que joga “O Gosto do Dinheiro” num plano suspenso, distante, mas possível.

O filme apresenta o espectador a Joo Young-Jak, uma espécie de secretário particular de uma família poderosa, envolvida um negócios escusos. À medida em que suas responsabilidades crescem, ele começa a questionar a ética de seu trabalho, o que o confronta com os interesses da família que paga seu salário.

De um maneira sutil, o diretor indica que este novo filme é uma espécie de continuação (ou um prolongamento) de “A Empregada”, remake de um longa coreano da década de 1960, realizado pelo cineasta há dois anos. Uma relação curiosa já que Sang-soo afirmou que não tomou a decisão de fazer a adaptação, mas foi convencido por seu produtor. Um trabalho sob encomenda que, de uma forma ou de outra, cria um paralelo entre o próprio diretor e o protagonista deste novo filme. Os dois parecem partilhar da mesma crise.

De “A Empregada”, que tem cenas exibidas ao longo de “O Gosto do Dinheiro”, o filme herdou não apenas a temática, mas o cenário - a mansão onde se passa a ação - e a ótima atriz Yeo-Jung Yoon, peça fundamental à trama do novo filme. Com uma performance cheia de maneirismos, mas com muita sutileza, ela interpreta a matriarca da família, maior vilã do longa, algoz do personagem principal e dona de algumas das melhores cenas. 

O espectador ocidental pode ficar desconcertado com o universo de “O Gosto do Dinheiro” porque Sang-soo utiliza um mecanismo muito caro ao cinema coreano de combinar excessos dramáticos e humor negro, sem que isso signifique menosprezar a trama ou os personagens. É um terreno pantanoso que pode ser confundido com falta de profundidade ou com o novelão puro e simples, mas que esconde uma mise-en-scène complexa e de equilíbrio mais difícil.